62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
PROFESSOR...AS CRIANÇAS JÁ LIGARAM A TV...E VOCÊ?
Milene dos Santos Figueiredo 1
Elisete Medianeira Tomazetti 2
1. Centro Infantil Romana Santiago/Parnamirim/RN
2. PPGE/UFSM/RS
INTRODUÇÃO:
Este trabalho resulta de uma dissertação de mestrado, concluída no ano de 2007 na Universidade Federal de Santa Maria/RS, no Programa de Pós-Graduação em Educação, Linha de Pesquisa Educação, Política e Cultura, tendo como objetivo aprofundar à discussão referente à influência da televisão na prática dos professores de Educação Infantil. Esse objetivo nos levou a identificarmos e compreendermos que concepções e práticas pedagógicas são incorporadas por professores diante da influência da televisão na realidade de seus alunos, manifestada em suas falas, roupas, vestimentas, brinquedos, brincadeiras, materiais escolares, diálogos e percepções perante vários assuntos abordados no cotidiano das salas de aula. Entendemos a relevância dessa pesquisa por percebemos as alteridades que marcam as infâncias na atualidade e os diferentes mecanismos que atuam na formação das subjetividades infantis, como a televisão, sendo necessário, portanto, o aprofundamento teórico dessas questões para a melhor compreensão e qualidade do trabalho com as crianças.
METODOLOGIA:
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, realizamos um Estudo de Casos com duas professoras de Educação Infantil da cidade de Santa Maria/RS, uma atuante em uma escola particular, localizada no centro da cidade e outra em escola pública, localizada na periferia. Foram realizadas observações da prática pedagógica das duas professoras, nos permitindo constituir um corpus de análise baseado em entrevistas (realizadas com as professoras), diários de campo (construído pela pesquisadora com o registro dos momentos observados da prática pedagógica das professoras e falas das crianças nas suas interações entre crianças/crianças/professoras), fotografias e desenhos de produtos relacionados aos programas e personagens preferidos da televisão das crianças. A escolha desse caminho metodológico nos proporcionou comparar as concepções teóricas com a prática pedagógica realizada pelas participantes da pesquisa ao analisarmos as entrevistas e o diário de campo construído pela pesquisadora. Optamos ainda por utilizar um referencial teórico que nos possibilitasse compreender as principais teorias sobre a influência dos meios de comunicação em massa na sociedade capitalista (Adorno e Horkheimer (1985); Debord (1997); Estudos Culturais), além de autores que dedicam-se a problematizar as concepções de infância na sociedade contemporânea (Postman (1999); Dornelles (2005)).
RESULTADOS:
Identificamos, após as análises dos dados da pesquisa, que as professoras envolvidas no processo carecem de concepções teóricas atualizadas diante da temática que envolve a influência da televisão na constituição das subjetividades infantis, o que acaba refletindo nas suas práticas pedagógicas, que ora apresentam-se apenas instrumentalizadoras, ou seja, apenas possibilitam as crianças a plena utilização de diferentes meios de comunicação (concepção e prática identificada na professora atuante na escola particular), ora totalmente desprovidas de concepções teóricas, tanto em sua formação inicial quanto na formação continuada, que problematizem a relevância do papel da escola e do professor na mediação crítica entre a televisão e as infâncias (concepção e prática observada na professora da escola pública).
CONCLUSÃO:
Concluímos que esse descompasso entre as culturas infantis e as culturas escolares acaba silenciando as vozes que denunciam os efeitos produzidos nas crianças pela influência da televisão, como o consumismo infantil, a erotização precoce, a distorção e carência de valores da sociedade e o relacionamento caótico entre os seres humanos. A escola, além da família, deveria atuar como uma das principais mediadoras para a realização de uma nova forma de "alfabetização", possibilitando a leitura desses valores e mensagens produzidas pelos meios de comunicação, oportunizando às crianças uma formação crítica e reflexiva sobre o mundo em que vivem. Percebemos que a escola, constituída de um modelo uniforme e disciplinar, voltada apenas ao repasse de conteúdos, não consegue dialogar com as diferentes culturas que se fazem presentes em seu espaço - culturas infantis, cultura midiática, e com isso acaba em crise de valores e função por desconhecer e rejeitar essas novas identidades e características culturais das infâncias e juventudes. Também percebemos a necessidade das instituições educacionais investirem na formação continuada de seus professores, possibilitando assim reflexões a respeito dessa e de outras temáticas que perpassam o cotidiano escolar.
Palavras-chave: Televisão, Educação Infantil, Docência.