H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira |
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Bernardo Élis romancista: Literatura e História em O tronco. |
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Átila Silva Arruda Teixeira 1
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1. Prof. Ms. -Faculdade de Letras - UFG
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INTRODUÇÃO: |
A violência e o abandono aos quais estava submetida à população sertaneja de Goiás, nas décadas de 20 e 30 do século passado, figuram no centro da narrativa de Bernardo Élis. Continuador da tradição regionalista em Goiás, seguindo os passos de Hugo de Carvalho Ramos e acrescido de um certo ideário comunista, Élis se constitui como um escritor cujo ofício artístico passa, obrigatoriamente, por uma finalidade social. Se nos contos – gênero no qual Bernardo Élis é nacionalmente reconhecido – sua estética se liga à questão do ciclo do gado (SANTOS, 2004), em O tronco (1956) – romance de Bernardo Élis mais bem acabado esteticamente, hoje já na sua décima edição – mesmo tendo como ponto alto a chacina que ficou conhecida como “A Batalha do Duro”, a narrativa transpõe não só o documento ao recriá-lo como literatura, mas principalmente ao não se limitar à crônica dos acontecimentos, atingindo o que hoje definimos por romance histórico. Entender como se articulam o plano histórico e o ficcional em O tronco além de ser o principal objetivo deste trabalho, ilustra um relevante e contumaz diálogo entre Literatura e Historia presente na produção literária do autor. |
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METODOLOGIA: |
A partir da leitura das obras literárias de Bernardo Élis, percebe-se uma considerável presença de temas históricos, com destaque para os romances O tronco (1956) e Chegou o governador (1987). Tendo como fundamentação teórica os principais textos críticos sobre a obra do autor, esta pesquisa também se valeu do acervo pessoal do próprio escritor, cedido para estudo pela Associação Bernardo Élis. |
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RESULTADOS: |
Por esse reavivar a Batalha do Duro e tornar o episódio histórico conhecido para o grande público, Bernardo Élis insere O tronco no chamado romance histórico; entretanto, em seu principal romance não existe uma simples descrição dos fatores históricos que levaram à Batalha do Duro; esses fatores são entendidos por dentro, narrando o declínio do coronelismo tradicional e participando da incorporação do então Norte de Goiás, hoje estado do Tocantins, à economia de mercado nacional e internacional. Logo, na narrativa de Bernardo Élis a opção pela história evidencia uma nova etapa da história de Goiás, alterando substancialmente sua estrutura, exemplando as parcas condições de sobrevivência do trabalhador rural – sertanejo ou lavrador – nos tempos de paz, e jagunços ou soldados no tempo de guerra. Por outro lado, utilizar a história em O tronco implica também em denunciar o uso de jagunços e soldados – pessoas oriundas das camadas mais baixas – como marionetes pelos coronéis, tentando acrescentar ao sertanejo – jagunço ou soldado – uma certa consciência de classe, como preconizava o realismo socialista. |
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CONCLUSÃO: |
Em O tronco, Bernardo Élis estabelece uma estreita aproximação entre romance e história. Na obra, a história não está presente como relato de costumes locais, aproximando-se da crônica ou de uma mera reportagem. Esse entrelaçamento entre o fazer literário e o fazer histórico – ambos como mesmo objetivo: compreender a realidade goiana dos primeiros decênios do século XX –, não tem sua significação restrita ao engajamento do escritor e à razão de homens e mulheres serem submetidos às condições degradantes de sobrevivência. O romance vai além, e se presta a entender essas degradações através da estrutura da sociedade goiana daquele instante, de suas contradições, e, precipuamente, de suas transformações: é o externo tornando-se interno na obra (CANDIDO, 1976, p.04). Logo, a partir da relação entre Literatura e História, O tronco torna-se exemplo da superação do factual, não se atendo ao documento, executando uma reinterpretação profunda do funcionamento e das transformações sofridas pelas estruturas sociais, ilustrando literariamente a paulatina incorporação de Goiás ao cenário econômico nacional e internacional. |
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Palavras-chave: Literatura e História, Bernardo Élis, O tronco. |