63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 5. Letras
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE CRÍTICA TEXTUAL
Andréa Santos 2
Millene Barros Guimarães de Sousa 2
Ceila Maria Ferreira Batista Rodrigues Martins 1
1. Profa Dra./ Orientadora - Depto de Letras - UFF
2. Discente - Letras - UFF
3. Discente - Letras - UFF
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, ressaltamos questões que poucos da sociedade brasileira têm conhecimento em relação à transmissão de textos literários e/ou não-literários. Percebemos, nas aulas de Crítica Textual, a importância de questionar o motivo dos textos não passarem por edições críticas e a razão de o leitor não ter acesso ao conhecimento de que a maioria das obras são de transmissões problemáticas. Notamos que o leitor sofre um impacto ao saber da ausência de autenticidade dos textos, principalmente, o estudante de Letras que deve difundir essas questões, já que nos parece que tais informações estão restritas à universidade. É relevante nos mobilizarmos para que todos compreendam a importância do tema que contribui para a formação de uma sociedade comprometida com a verdade.
METODOLOGIA:
O propósito deste estudo surgiu das discussões realizadas em sala de aula pela Professora Doutora Ceila Ferreira que ministra a disciplina Crítica Textual/Ecdótica I, na Universidade Federal Fluminense. Através do estudo de textos sobre Crítica Textual e Edições Críticas, escritos por renomados teóricos como Maximiano de Carvalho e Silva, César Nardelli Cambraia, Ivo Castro, Carlos Reis e Ofélia de Paiva Monteiro, identificamos a importância da Crítica Textual para a sociedade. Lançamos mão de uma exemplificação do livro Egyto de Eça de Queiroz a fim de realizar um confronto textual entre uma transcrição diplomática baseada no manuscrito autógrafo de 1869 - 1870 e uma edição publicada em 1926, para que o público possa visualizar alguns dos problemas em torno da transmissão das narrativas de viagens do autor de Os Maias. Consideramos, ainda, um dado divulgado pelo Ministério da Cultura que indica que a leitura no Brasil teve um aumento de 150% em dez anos e que em média, um brasileiro que lia 1,8 livros por ano, em 1998, passou a ler, aproximadamente, 4,7 livros por ano, incluindo os livros didáticos de leitura obrigatória. É evidente que comparado aos países desenvolvidos, isso é muito pouco, porém um grande avanço para o país e, sem dúvida, para a sociedade.
RESULTADOS:
Na comparação dos textos analisados, há modificações de vários aspectos: na não preservação da estrutura do texto desenvolvido pelo autor; alteração na forma de texto de único parágrafo para a divisão de dois parágrafos; algumas palavras na edição de 1926 foram retiradas e a disposição delas nas frases modificada. Ocorreu inserção de novas palavras como “grandiosamente”, “erguia-se” e “infinito” na edição de 1926 e uma nova acomodação das palavras, no trecho “sem trevas, mas bellamente escuro”. É importante ressaltar que a preocupação com a autenticidade não é apenas em relação a textos medievais ou renascentistas que retomam à época de manuscritos muito antigos. Livros didáticos, por exemplo, cometem diversas deturpações e mutilações ao reproduzir escritos de grandes nomes da literatura brasileira. Estamos à mercê de uma leitura não autêntica, não confiável, não fidedigna e altamente problemática no Brasil e ainda, por fim, caríssima. São poucas edições críticas realizadas nas obras brasileiras, logo o seu preço tende a ser elevado e não acessível a muitos.
CONCLUSÃO:
Somos vítimas de uma literatura objetivada apenas pelo consumo, sem preocupação com a qualidade editorial. A população está lendo mais livros, mas em que condições? Precisamos expandir tais questões à sociedade para que todos estejam cientes do que estão lendo. As universidades brasileiras deveriam adotar em seus currículos de graduação a disciplina Crítica Textual, uma vez que esta só existe como matéria obrigatória na Universidade Federal Fluminense e, em outras universidades, é tratada a âmbito de pós-graduação. O ideal seria que os profissionais da área de Letras se interessassem por outras áreas de trabalho, se desvencilhando do estereótipo de que só devem se dedicar ao magistério. Assim, o mercado teria pessoas comprometidas com a fidedignidade dos textos para a realização do trabalho de preservação e divulgação de parte nosso patrimônio cultural que é nosso por formação, capacidade profissional e direito.
Palavras-chave: crítica extual, impacto, sociedade.