63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolingüística
VISÃO QUE PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE SEROPÉDICA POSSUEM A RESPEITO DA LINGUAGEM PADRÃO E AS VARIAÇÕES EXISTENTES NA LÍNGUA.
Ingraty Aparecida da Silva Victorio 1
Andréa Sonia Berenblum 2
1. Aluna graduanda do Curso de Letras - UFRRJ
2. Profa. Adjunto I./ Orientadora - Departamento de Teoria e Planejamento de Ensino/Instituto de Educação - UFRRJ
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa verificou como é tratada a questão da variabilidade linguística existente no registro dos alunos pelos professores. Tivemos por objetivo saber quais são as concepções que os docentes possuem a respeito de tal assunto e como lidam com essas diferenças dentro de sala.
Tivemos como base linguistas e sóciolinguistas tanto os pioneiros quanto os contemporâneos no assunto como: Saussure (1857-1913) responsável pela distinção entre sincronia e diacronia, fundamental para o estabelecimento de um estudo descritivo da língua independente da abordagem diacrônica/histórica; Mattoso Câmara (1904-1970) defendeu o pensamento de que para cada momento existe uma fala; Labov (1927) quem afirma que a língua é uma estrutura variável de acordo com o tempo, espaço e o contexto social; e Marcos Bagno (1961) que possui diversos trabalhos em torno do preconceito linguístico. Além destes autores, tivemos também como base os conceitos de variedade (Travaglia,1996) como: diastrático, relacionado à posição social do indivíduo; diafásico, que trata das diferenças de registro encontradas entre falantes de diferentes faixas etárias; e diatópico, referente as diversas formas de falar conforme a região. Ao final desta etapa, saímos do universo teórico e partimos para a pesquisa em campo.
METODOLOGIA:
Trata-se de um trabalho de cunho qualitativo com o propósito de orientar reflexões referentes ao entendimento dos professores, quanto ao aprendizado da língua, escrita e falada, pelos alunos em diferentes séries do Ensino Fundamental do município de Seropédica. Para obter as informações necessárias à pesquisa, foi desenvolvido um questionário e feita uma seleção entre as escolas municipais de Seropédica. Após a seleção das escolas e elaboração do questionário - que foi estruturado da seguinte forma: o primeiro eixo era referente aos dados pessoais e profissionais dos professores; o segundo eixo fala das relações sociais em torno da língua; e o terceiro fala da relação entre o trabalho docente e a língua - selecionamos os professores para ministrarmos as entrevistas, dentre os professores eleitos estavam, profissionais de ambos os sexos, de diferentes faixas etárias e que lecionavam diferentes disciplinas. Só assim poderíamos construir uma análise partindo das visões de áreas distintas.
RESULTADOS:
Na primeira questão abordada, dentre os seis professores três afirmaram que dominar a língua é saber falar é escrever bem, e para que isso ocorra depende de muita prática; dois professores afirmaram que saber se expressar bem e ter um certo conhecimento sobre a língua; e por último, outro afirmou que é ter facilidade na comunicação.
A questão seguinte refere-se à forma, se existe uma forma correta de se escrever e falar. Três deles afirmaram que sim e que deve estar de acordo com as regras ortográficas; dois disseram que não; e por fim, outro disse que o que interessa é se comunicar.
A terceira questão referiu-se a uma afirmativa – falar bem traz benefícios sociais. Três dos seis concordaram plenamente e até mencionaram a aquisição de emprego; outro disse que sim porém também traz preconceitos para ambas as partes; outro disse que para os adultos sim, mas para as crianças não, pois se os adultos falarem corretamente com eles, os mesmos não iriam entender; e por último o outro disse que não necessariamente pois, tem pessoas que falam errado e se dão bem na vida, pois apesar de falarem errado, se comunicam bem.
E na última questão, procuramos saber se os professores são capazes de caracterizar seus alunos. Nesta questão, as respostas foram bem divergentes umas das outras.
CONCLUSÃO:
Analisando a primeira questão, observa-se que os professores de língua se preocupam mais sobre com a forma de falar e escrever e, os das outras áreas com a possibilidade de se expressar, de fazer com que aconteça comunicação; já na segunda, percebemos que existem professores que querem cobrar dos alunos aquilo que eles mesmos não sabem, tentam se mostrar detentores de um conhecimento que não possuem; na terceira questão constatamos que a maioria dos professores se preocupa muito com a necessidade de se falar correto em ambientes formais, como em local de trabalho, por exemplo; por fim na quarta e última questão ficou claro que a língua reflete muito da pessoa. Os professores associaram o linguajar dos alunos com seus respectivos comportamentos.
Tivemos como conclusão geral o fato de que alguns professores têm consciência das variedades existentes na língua e muito poucos sabem como lidar com estas divergências dentro de sala de aula e, outros, mesmo apresentando estas variações em seus registros se mostram desconhecedores desta variabilidade.
Variedade e ensino devem caminhar lado a lado. Tanto o professor quanto o aluno precisam ter consciência de suas existências e saber adequar cada fala a sua específica situação.
Palavras-chave: sociolinguística, língua padrão, diversidade.