63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural |
PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO E FORMAÇÃO DE REDE SÓCIO-TÉCNICA NO ASSENTAMENTO ANTÔNIO CONSELHEIRO-MT |
Juliano Luis Borges 1 Gilmar Laforga 2 Neuri Eliezer Senger 2 Sandro Benedito Sguarezi 2 |
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP 2. Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT |
INTRODUÇÃO: |
Os assentamentos rurais são resultados de pressões de movimentos sociais de luta pela terra e adotados oficialmente como metas de governo, como uma solução para a sempre adiada reforma agrária. O Assentamento Antônio Conselheiro foi criado através de mobilização do MST, em 12 de dezembro de 1997, com uma área de 38.337 hectares, que compreende nos municípios de Tangará da Serra, Nova Olímpia e Barra do Bugres, em Mato Grosso. Vivem no assentamento cerca de 990 famílias (aproximadamente 3.500 pessoas). Esse contexto contempla uma multiplicidade cultural, econômica, política e ambiental muito ampla. Os assentados são analisados aqui sob a ótica de novos produtores familiares rurais, por possuírem outra lógica de organização familiar, política, profissional e produtiva. Em busca de soluções práticas para a manutenção das famílias nos lotes conquistados, são muitas as alternativas, mas nem todas sustentadas por aqueles que vivem o assentamento do lado de fora. Assim, o presente estudo visa analisar os contornos e conexões da organização de uma rede sócio-técnica no Assentamento Antônio Conselheiro. É analisado o papel de agentes do Estado e da sociedade civil junto ao assentamento a fim de beneficiar o trabalhador e fazer a propriedade rural cumprir sua função social. |
METODOLOGIA: |
Para seguir a trajetória metodológica, a pesquisa foi desenvolvida com vistas à análise qualitativa das atividades exercidas pelos sujeitos sociais envolvidos na rede sócio-técnica do Assentamento Antônio Conselheiro. Para tanto, essa pesquisa pode ser classificada como qualitativa, onde o método é o descritivo, utilizando-se de técnicas de observação simples e não controlada. Na coleta de depoimentos foram buscadas informações diretamente ligadas ao trabalho investigativo, com direcionamento da fala para obtenção dos elementos essenciais do trabalho. A escolha e a combinação de técnicas prendem-se ao objeto definido e as condições pessoais, profissionais e conjunturais do pesquisador. As diretrizes da pesquisa social deram os caminhos para a construção do conhecimento científico. Dessa forma, sujeitos envolvidos, que representam diferentes segmentos sociais, foram abordados pelo diálogo elucidativo, para que a análise conseguisse alcançar a rigorosidade necessária para a interpretação das relações sócio-políticas-culturais. |
RESULTADOS: |
A análise a respeito do assentamento aponta para diversos direcionamentos quanto à compreensão da lógica interna da pequena produção familiar em uma situação de novo espaço. Os formatos alcançados podem ser os mais variados, a partir das condições específicas de produção e arranjos institucionais, proporcionados através de uma rede sócio-técnica e seus espaços produtivo, cotidiano-produtivo-comercial e sócioprofissional. A rede e seus espaços são desenhados entre os próprios assentados ligados ao MST e em associações desvinculadas; e a agentes externos atuantes em maior grau como: o MST, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e as prefeituras municipais; e em menor grau: a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e a Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER). Essa rede atua não só a partir da viabilização do espaço, crédito e assistência técnica – no sentido de interferência –, mas também no sentido de parceria na concretização de projetos, como na área de educação, de apoio a cooperativas e infra-estrutura. A interação entre agentes internos e externos é responsável pela formação de um sistema de conhecimento endógeno, que contempla desde políticas públicas, elementos do trabalho e da produção até espaços sócio-culturais mais amplos. |
CONCLUSÃO: |
As redes sócio-técnicas possibilitam a construção de medidas inovadoras e reais de desenvolvimento rural, pautadas em critérios cujas propostas enfocam a importância do conhecimento local, constituído por um mosaico de saberes (internos e externos). A experiência do Assentamento Antônio Conselheiro, que está em processo consolidação (Fase 6), indica um caminho para ampliar as possibilidades da população assentada, com relação não só à produção – plantio, colheita, comercialização – mas também com relação à saúde, habitação, alimentação, educação, telefonia, estradas. Isso poderá proporcionar um tipo de atuação que se adapte às suas necessidades e que possa ser conjugada com seus hábitos. Esse tipo de ação, baseada o diálogo e interlocução, procura levar em conta o meio cultural, despertando o interesse para o debate e a uma orientação crítica de sua realidade social. A implementação de assentamentos rurais deve levar em conta esses fatores, para que de fato, seja alcançada a reprodução social das famílias assentadas e a garantidas condições de trabalho e de vida em níveis satisfatórios. |
Palavras-chave: Assentamentos rurais, Rede sócio-técnica, Conhecimento endógeno. |