63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia |
Paisagem Sertão: a produção simbólica do Brasil-interior |
Margarida do Amaral Silva 1, 2 Custódia Selma Sena do Amaral 3 |
1. Mestranda em Antropologia Social - UFG 2. Doutoranda em Psicologia - PUCGoiás 3. Orientadora - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social/PPGAS - UFG |
INTRODUÇÃO: |
Esta pesquisa apresenta uma abordagem para o fato de que o sertão é um fenômeno que ascende a paisagem, dimensionando mais especificamente a região central do Brasil. Como dimensão que agrega conteúdos incessantemente reeditados, o manuseio do sertão ocasionou um exercício de experimentações teórico-conceituais em torno de produções discursivas que geraram possibilidades de apreciação do lugar temporalizado e do tempo espacializado. Para expor processos que enfatizam a produção do lugar, foram contempladas narrativas e projeções das imagens de um espaço flutuante e inacabado. Ao ser percebido e por ser uma forma em perspectiva, o sertão é apreciado neste estudo devido a conceder cunho temático (e por vezes dramático) às projeções discursivas da paisagem sertão. De alguma maneira, fica entendido que foi necessário exercitar uma justaposição de conteúdos narrativos que mediassem a desconstrução do lugar, o qual gera desdobramento descritivo aos marcadores que consolidam uma região inventada pela manifestação imaginária de uma forma em devir. |
METODOLOGIA: |
A escolha da metodologia a ser adotada é em função da definição do objeto e/ou do campo de atuação da pesquisa. Desta forma, trata-se de uma pesquisa com enfoque etnográfico para a construção sócio-histórica do sertão brasileiro como lugar de passagem e com trânsito de práticas, pelo enfoque específico para a apropriação territorial e a produção simbólica de narrativas sobre o espaço social que configura o interior do Brasil. Assim, nesta pesquisa, o campo para exercício etnográfico está pautado nas imagens da paisagem sertão que são proliferadas por algumas produções literárias, pictóricas, iconográficas, historiográficas, cartográficas e/ou biográficas que configuram o Brasil-interior. |
RESULTADOS: |
A composição deste estudo teve como fundamento o fato de que o humano é um intérprete insaciável e que ocupa postos de observação parcial que sempre possibilitam o avanço científico devido à incompletude da conjectura alcançada. Devido a isso, pode-se dizer que, desde a sua projeção, a pesquisa aqui apresentada teve o interesse voltado para as imagens habituais do mundo exterior enquanto partes inseparáveis daquilo que é percebido e reproduzido pelo humano. Emergiu, assim, a necessidade de enfocar produtos culturais interligados ao fenômeno definido como paisagem sertão. A seleção de narrativas emergentes da literatura, pintura, iconografia, cartografia, historiografia e/ou biografia elevou o sertão a ser problematizado conforme perspectiva. Pela intenção pautada, sobretudo, na reapropriação de discursos que sustentam e instauram o lugar prescrito antes mesmo de sua existência, tratou-se da paisagem como uma forma em devir. Como fenômeno ou manifestação, a paisagem foi considerada polissêmica e polifônica. Principalmente ao lidar com uma imagem proliferadora e detentora de sentidos, foram revisitadas diversas ponderações que demonstravam a mobilidade das configurações assumidas pelo lugar. Especialmente quando se questiona a produção de marcadores pela perspectiva da paisagem, é que desponta a sugestão de que absolutizar, em todos os níveis, faz-se mero engodo. Assim, a paisagem sertão foi caminho para justapor conteúdos narrativos que ofereçam a desconstrução do lugar. |
CONCLUSÃO: |
O estudo viabilizou algumas aproximações teóricas empreendidas através do recorte do fenômeno paisagem sertão que se posiciona em nossa volta. Confirmando que a imagem, a marca, a representação, o emblema, a significação ou a perspectiva, todos são uma construção social, é agora retomada a produção simbólica do Brasil-interior tal como um empreendimento conjunto, interativo e que enfatiza o ordenamento num contexto localizado. Inclusive, foram estas características que permitiram a prescrição de ponderações com ênfase literária, histórica, pictórica, cartográfica, icônica e/ou biográfica, pois certamente foi permitida a revisão de uma forma estabelecida de paisagem para supostamente preencher o centro brasileiro. Ocorre que, devido aos avanços, tenciona-se que o sertão possa ser manuseado como fenômeno cultural. Dito de outra maneira, existe também a oportunidade de experimentação discursiva da paisagem como fenômeno, manifestação e construção que, em todos os casos, é espelho da interanimação dialógica da significação imposta à e pela narrativa. A composição é perspectiva de posicionamento discursivo. Esta dissertação é um lugar de fala. E o sertão não está no aqui e agora, nunca esteve. Ele trata de tempos, lugares e sociedades que foram imaginados e não alcançados, porque a percepção é arena onde se extraviam ou se convergem sentidos. Porém, mesmo quando perdida a direção e selecionado outro caminho para o percurso, o resultado apreendido sempre será uma forma em devir. |
Palavras-chave: Paisagem, Sertão, Brasil-interior. |