63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
ESTRATÉGIAS PRODUTIVAS EM ÁREA DE ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA: ENTRE A GERAÇÃO DE RENDA E O AUTOCONSUMO
Juliano Luis Borges 1
Sandro Benedito Sguarezi 2
Neuri Eliezer Senger 2
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
2. Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT
INTRODUÇÃO:
As estratégias organizadas pelos trabalhadores são essenciais para a reprodução da agricultura familiar. Para se obter bom desempenho é necessário investir constantemente no estabelecimento e diversificar sua produção. A diversificação é frequentemente adotada pelos pequenos produtores. O esforço de diversificar se destina não só ampliar o leque de produtos comercializáveis, mas igualmente garantir o autoconsumo. As áreas de assentamento são um importante locus de desenvolvimento local, pois envolvem uma rede de sujeitos políticos e econômicos. A viabilidade desses projetos são um forte argumento para a continuidade das políticas de implementação da reforma agrária no país. Nas localidades, o balanço entre segurança alimentar e inserção mercantil produzem múltiplos espaços de manobra, que resultam nas mais variadas estratégias produtivas. A relação entre o autoconsumo e a mercantilização é analisada na Comunidade Serra dos Palmares, no Assentamento Antônio Conselheiro, Tangará da Serra-MT. Nesse espaço vivem famílias organizadas em uma cooperativa, produzindo mandioca para a venda in natura em supermercados e feira. Também produzem farinha e fécula de forma artesanal na Comunidade. O incremento nas vendas vem acarretando a prática da monocultura e o atravessamento de produção.
METODOLOGIA:
As estratégias locais devem ser analisadas como arranjos peculiares, respondendo, ao mesmo tempo, à estrutura econômica da sociedade em que estão inseridas. Para uma conceituação da relação entre o local e o global inseridos num contexto específico foi desenvolvida uma análise referenciada no desenvolvimento rural endógeno. A organização que tem como referência ações ordenadas através da síntese local das necessidades ou potencialidades, determinadas em relações entre diferentes atores, permite apontar os caminhos metodológicos durante a investigação científica. Para tanto, analisar a realidade social por meio de paradigmas de desenvolvimento possibilita um constante diálogo entre determinantes internos e externos delineando uma organização teórica coerente e consistente. Para obtenção de informações na Comunidade Serra dos Palmares, foram colhidos depoimentos dos produtores e visitadas as plantações. Através de observação não participante foram anotados dados em diário de campo, posteriormente copilados e analisados de acordo com a orientação teórico-conceitual.
RESULTADOS:
As análises sobre assentamentos rurais apontam para a compreensão do funcionamento da lógica interna da pequena produção familiar em uma situação de um novo espaço e, é nele, que certas noções se impõem frente aos ideais de trabalho coletivo, organização política e estratégias produtivas locais. Na Comunidade pesquisada foi observada a forte tendência ao aumento do plantio de mandioca em detrimento a outras culturas que poderiam ser base de segurança alimentar. Ao contrário, vendem mandioca, fécula e farinha para comprarem produtos em supermercados na cidade. Apesar da expansão dos consumidores e o retorno financeiro, os assentados não se preocupam com possíveis problemas de pragas, baixa produção ou queda nas vendas. Esses riscos, típicos de monoculturas não são considerados no contexto atual. O grau de mercantilização a que chegaram vem transformando os produtores coletivos em atravessadores no assentamento. A proposta de autonomia que defendem está se dissipando em favor de estratégias que aviltam outros trabalhadores assentados. Esse tipo de manobra está gerando, na localidade, conflitos internos e disputas econômicas pela produção e pelos consumidores na cidade. As divergências estão produzindo um tipo de desenvolvimento local desigual e excludente.
CONCLUSÃO:
As relações de trabalho no interior da Comunidade Serra dos Palmares colocaram à reflexão três questões centrais. Em primeiro lugar, a importância da segurança alimentar das famílias através da diversificação. Em segundo lugar, a inserção no mercado e a viabilidade econômica do assentamento de reforma agrária. Por fim, o equilíbrio entre essas propostas. O desenvolvimento local endógeno pressupõe a construção de alternativas construídas contextualmente, nos espaços de manobra do processo de mercantilização do meio rural. As ações são calcadas na sustentabilidade econômica, ambiental, política e humana. O desenvolvimento desequilibrado e excludente reproduzido por aqueles que se propuseram a superá-lo é uma grande paradoxo. A centralidade de um projeto de assentamento consiste na manutenção das famílias nos lotes conquistados, através de meios de integração e não de disputas e conflitos. As estratégias desenvolvidas pelos assentados da Comunidade Serra dos Palmares colocam em risco o futuro do coletivo e o autoconsumo das famílias, e se tornam desagregadoras entre outros assentados na localidade.
Palavras-chave: Assentamentos rurais, Diversificação, Autoconsumo.