63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 4. Línguas Indígenas
RESSIGNIFICANDO A ESCRITA E A LEITURA EM PARKATÊJÊ
Bianca Castro Rodrigues 1
Rafaela Viana Maciel 1
Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira 2
1. Instituto de Letras e Comunicação, Faculdade de Letras – UFPA
2. Profa. Dra./ Orientadora - Instituto de Letras e Comunicação, Faculdade de Letras – UFPA
INTRODUÇÃO:
No Brasil existem muitas línguas em perigo de extinção, entre elas há o Parkatêjê, uma língua Timbira pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê, que possui uma população de aproximadamente 400 indivíduos, dentre os quais somente 9% ainda falam a língua. A comunidade localiza-se no município do Bom Jesus do Tocantins, próximo de Marabá, no sudeste do estado do Pará. Os Parkatêjê sempre viram a escola como uma grande e boa aliada na questão de preservação e manutenção linguística. Por esta razão, foram planejadas uma série de oficinas de alfabetização de adultos em língua Parkatêjê, como forma de retorno a todas as pesquisas ali realizadas, objetivando não só promover a preservação desta língua indígena mas também, oferecer aos indígenas uma educação específica, diferenciada e de qualidade, direito este previsto na constituição de 1988.
METODOLOGIA:
A metodologia aplicada nas atividades de alfabetização indígena foi a seguinte: primeiramente houve uma pesquisa por parte dos ministrantes para que houvesse a compreensão do “universo vocabular” da língua, da cultura entre outros. A partir disto, iniciou-se a próxima etapa que consistia na aplicação das oficinas, na qual se ensinava a escrita do alfabeto da língua por meio de exemplos orais que continham as vogais e consoantes estudadas, e palavras escritas em cartazes e dispostas no quadro para que os indígenas, olhando e pronunciando as palavras em voz alta, fixassem som ao símbolo gráfico. Além disso, foi-lhes proposto que respondessem a sentenças, como “Mpo ka pia?”, para que assim, trabalhassem não apenas palavras isoladas, mas também o significado do alfabeto e como ele pode ser utilizado dentro de um contexto específico. Foram propostas atividades incentivadoras, como desenhos, afim de auxiliá-los no processo de escrita. A avaliação ocorria todos os dias por meio da interação entre os alfabetizandos e os alfabetizadores.
RESULTADOS:
Durante o período de realização das oficinas foi possível perceber a motivação e o entusiasmo que os alfabetizandos indígenas apresentavam diante da escrita e da leitura de sua língua. Com a finalidade de testar o aprendizado dos conteúdos ensinados em cada aula, eram feitas perguntas que os indígenas respondiam com vivacidade e, como em muitas salas de aula espalhadas por esse país, foi perceptível a heterogeneidade da turma, em relação aos conhecimentos já existentes sobre a língua. Apesar de os alunos possuírem saberes específicos da modalidade oral, a maioria deles não dominava a modalidade escrita do Parkatêjê. Foi possível, a partir do contato inicial, perceber a existência de quatro grupos de alfabetizandos em níveis distintos de conhecimento: o primeiro grupo, composto por aqueles que não reconhecem as letras do alfabeto Parkatêjê, não sabem ler nem escrever, nunca foram alfabetizados nem em sua língua nem em português; o segundo, reunia os que possuíam menos dificuldades relativas à escrita, porém estas aumentavam no processo de reconhecimento do alfabeto Parkatêjê; o terceiro, era composto pelos semialfabetizados em português, e possuíam maior facilidade quanto a leitura e reconhecimento de palavras em Parkatêjê; e o quarto, continha os alunos que compreendiam a escrita da língua, assim como os que demostraram maior desenvoltura com relação à leitura.
CONCLUSÃO:
A experiência de alfabetizar indígenas pode ser entendida como um desafio, que permite não somente ensinar, mas principalmente aprender, pois os grandes sabedores da língua Parkatêjê são os alunos; além disso, é extremamente prazeroso o convívio e o processo de troca de saberes da língua, pois enquanto a conhecemos na modalidade escrita, os alfabetizando a conhecem principalmente na modalidade oral além de conhecerem todo o seu funcionamento. A partir da forma de abordagem que foi utilizada na realização das oficinas, observou-se diferentes grupos dentro de uma mesma turma, e com o intuito de proporcionar um melhor aprendizado, foram desenvolvidas atividades específicas para trabalhar as dificuldades dos alunos, de forma a conseguir melhorar o aprendizado da língua de maneira individual. A aprendizagem da escrita de uma língua ocorre de forma gradual, as oficinas realizadas são apenas o início de um processo de aquisição da escrita e o fato de os alunos que estão sendo alfabetizados em Parkatêjê serem fluentes em sua língua facilitou o bom andamento das oficinas, porém isto não significa rápido aprendizado no que diz respeito à modalidade escrita.
Palavras-chave: alfabetização indígena, oficinas, Parkatêjê.