63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
CIÊNCIA E ARTE NA INTERAÇÃO ENTRE CONHECIMENTO CIENTÍFICO E ESTÉTICO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA: ARTES PLÁSTICAS, FOTOGRAFIA E CINEMA MEDIANDO A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE QUÍMICA
Antonio Donizetti Sgarbi 1
Cynthia Torres Daher Fortunato 2
Sidnei Quezada Meireles Leite 3/4
1. Prof, de Educação, Dr.Ed., Coordenadoria do Curso de Licenciatura em Química, Campus Vila Velha do Instituto Federal do Espírito Santo - IFES.
2. Profa. de Educ. em Ciências, Me.Ed., Coordenadoria do Curso de Licenciatura em Química, Campus Aracruz do Instituto Federal do Espírito Santo - IFES.
3. Prof. de Educ. em Ciências, Dr.Sc.,Coordenadoria do Curso de Licenciatura em Química, Campus Vila Velha do Instituto Federal do Espírito Santo - IFES.
4. Professor, Doutor, Programa de Pós-graduação em Educ. em Ciências e Matemática, Campus Vitória do IFES.
INTRODUÇÃO:
A ciência tem como objeto formal a experiência, neste sentido busca apreender o real pela razão. O objeto da arte é a intuição, e desta forma, a mesma, organiza o mundo por meio da imaginação e do sentimento. Existe espaço para a arte na formação de professores que trabalham com o ensino de ciências? É possível uma interação entre estes dois tipos de conhecimentos tão diversos. Como o conhecimento estético produzido pela arte pode contribuir na formação de professores de ciência? O conhecimento estético veiculado pelo cinema e pelas artes plásticas pode colaborar com a História da Ciência (HC) quando objetiva que o egresso do Curso de Licenciatura em Química possa “ter uma visão crítica com relação ao papel social da Ciência e à sua natureza epistemológica, compreendendo o processo histórico-social de sua construção” e ainda, a “reconhecer a Química como uma construção humana e compreender os aspectos históricos de sua produção e suas relações com o contexto cultural, socioeconômico e político”?[1]. Este estudo teve como objetivo analisar o uso da arte produzida pelo cinema, fotografia e pela pintura no desenvolvimento do componente curricular HC numa turma do Curso de Licenciatura em Química. A forma inovadora de se trabalhar com temas científicos, na ânsia de recuperar o prazer e a fruição, indo justamente na contramão do ambiente extremamente tecnológico, burocrático, voltado para o que é útil de imediato é o que aponta para relevância deste estudo.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo de caso do desenvolvimento do componente curricular HC a partir da discussão de fotografias, pinturas e filmes. Este componente foi trabalhado com 32 alunos, de 17 a 30 anos, do Curso de Licenciatura em Química do IFES – Campus Vila Velha, turma 2010-1. O professor escolheu um filme para cada período da História que iria ser abordado: História Antiga, “Alexandre” (Oliver Stone, 2004); Idade Média, “Arn, o cavaleiro templário” (Peter Flinth, 2007); Modernidade, “Frankenstein” (James Whale, 1931) e mundo contemporâneo Wall-e (Andrew Stanton, 2008). Entre as pinturas destacou-se: “A Escola de Atenas” (Rafael, 1509 – 1510); “Lição de Anatomia” (Hembrandt, 1632); “Operários” (Tarcila do Amaral, 1933); “A liberdade conduzindo o povo” (E. Delacroix, 1830) e “Homem Vitruviano” (L. Da Vinci 1490). Os dados para a construção do texto foram colhidos em entrevista feita com o professor de HC. A entrevista, preparada e analisada à luz de conceitos previamente escolhidos, teve como roteiro: acolhida dos alunos a esta forma inovadora de se desenvolver a HC; percepção, no cotidiano da sala da aula dos elementos da educação estética: “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante”; equilíbrio das faculdades intelectivas e emocionais durante os trabalhos; arte e abertura dos alunos para o desafio da intuição, a imaginação, a criatividade e a invenção do novo; conceito de Ciência, cultura, História da Ciência e tecnologia.
RESULTADOS:
À luz de Aranha (2006) [2] nos textos sobre a atividade estética na educação percebeu-se a riqueza do estudo da História da Ciência a partir das artes plásticas, da fotografia e do cinema. Percebeu-se que a dimensão estética possibilitou atitudes formativas que o pensamento discursivo dificilmente alcançaria. Com raras exceções a proposta foi muito bem acolhida pelos alunos. A busca da compreensão pelos sentidos despertou o prazer e a fruição ao mesmo tempo em que serviu de sensibilização para a discussão de cunho cognitivo. Por vezes esta forma de trabalhar esbarrava em algumas formas petrificadas de moralismos, mas a própria arte conduzia o aluno a repensar suas posturas e abrir-se ao novo. A partir desta experiência os alunos puderam manifestar nas discussões um entendimento de ciência como atividade humana historicamente determinada, ligada aos seus determinantes políticos, econômicos, ideológicos e aos seus respectivos contextos históricos[3]. Ao mesmo tempo foi se firmando o conceito de História da Ciência entendida como um “estudo analítico da ciência sobre seus métodos, caminhos, resultados, conceitos, instituições e contexto social, político e cultural”, como entende Marques (2010) em sua tese de doutoramento [3].
CONCLUSÃO:
Observa-se aqui a importância da aplicação da atividade estética na formação do professor de química por meio das artes plásticas, da fotografia e do cinema. Acredita-se que alunos formados nesta perspectiva aprendem a desenvolver desde o início de sua formação um estudo analítico da ciência em seu contexto social, político e cultural como entende Amaral (2005) [4] ao refletir sobre a busca do novo paradigma no currículo de ciências na Escola Fundamental e como sugere as DCN para os Cursos de Química. Desta forma comprova-se que existe espaço para a arte na formação do professor de ciências e que este veio deve ser mais explorado. Pensa-se ainda que a integração, o diálogo entre os dois tipos de conhecimentos tão diversos é fato inovador que abre caminho para muitas outras formas de vivenciar o processo de ensino aprendizagem na formação do professor de ciências.
1) BRASIL. MEC. Parecer CNE/1.303/2001, de 06 de novembro de 2001. DCN para os Cursos de Química. 2) ARANHA, M. L. A. Filosofia da Educação. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2006. 3) MARQUES, D. M. Dificuldades e possibilidades da utilização da História da Ciência no ensino de Química: um estudo de caso com professores em formação inicial. Tese de doutorado, UNESP, Brasil, 2010. 4) AMARAL, I. A. Currículo de Ciências no Ensino Fundamental: a busca de um novo paradigma. In: BITTENCOURT, A. B.; OLIVEIRA JUNIOR, W. M. Estudo, pensamento e criação. Campinas: Graf. FE, 2005.
Palavras-chave: História da Ciência, Conhecimento estético, Ciência e Arte.