63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
A CRÍTICA SEARLEANA DA RAZÃO COGNITIVA
Raimundo Nonato Araujo Portela Filho 1
Carmem Maria Almeida Portela 1
1. Depto. de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão –UFMA-, São Luís, MA
INTRODUÇÃO:
A ciência cognitiva, em linhas gerais, é o estudo interdisciplinar da mente e da inteligência, que envolve a filosofia, a psicologia, a inteligência artificial, a neurociência, a lingüística, a antropologia, a sociologia e a educação. O filósofo norte-americano John Searle(1932- ) considera que a área de pesquisa mais ativa e produtiva na filosofia atual é a que se relaciona com o domínio da ciência cognitiva. Esta possui como matéria básica de estudo a intencionalidade em todas as suas formas. “Intencionalidade” é um termo técnico usado por filósofos para se referir a todos os fenômenos mentais que concernem a objetos e estados de coisas no mundo, tais como crenças, desejos,memórias, percepções, emoções e ações intencionais. Searle(1992) argumenta que diversas das hipóteses fundamentais da ciência cognitiva estão equivocadas. Com efeito, ele busca expor e refutar algumas dessas falsas idéias.
METODOLOGIA:
Efetiva-se uma pesquisa bibliográfica tendo como principal referencial teórico Searle(1992), além de textos de outros autores, tais como Block(1990), Chomsky(1986), Fodor(1975), Johnson-Laird(1988), Marr(1982), Newell(1982) e Pylyshyn(1984). Caracteriza-se inicialmente a concepção searleana de cognitivismo, em seguida expõem-se as suposições comuns a vários textos que defendem o cognitivismo e, por último, apresentam-se as refutações de Searle a tais suposições.
RESULTADOS:
Searle denomina cognitivismo a concepção segundo a qual o cérebro é um computador digital e tal assertiva equivale a sustentar que os processos cerebrais são computacionais. Para Searle, quem analisa textos que propugnam o cognitivismo defronta-se com determinadas suposições comuns, geralmente não explicitadas. Como não há consenso universal a respeito das questões fundamentais, Searle acredita que é melhor retornar às fontes, isto é, às definições originais de Turing(1950). Searle considera a definição padrão de computação um pouco enganadora, se for tomada no sentido literal. Caso tentemos levar a sério a idéia de que o cérebro é um computador digital, obtemos o estranho resultado de que poderíamos produzir um sistema que faz exatamente o que o cérebro faz a partir de praticamente qualquer coisa. Os defensores do cognitivismo expõem tal conseqüência com enorme satisfação, contudo Searle assevera que eles deveriam estar insatisfeitos e a esse respeito ele aponta algumas dificuldades: a sintaxe não é intrínseca à física; a falácia do homúnculo é predominante no cognitivismo; a sintaxe não tem capacidades causais; o cérebro não realiza processamento de informações.
CONCLUSÃO:
A computação é usualmente definida sintaticamente em termos de manipulação de símbolos, todavia sintaxe e símbolos não são definidos em termos da física, pois conquanto os sinais simbólicos sejam ocorrências físicas, símbolo e símbolo idêntico não são definidos em termos de características físicas. Disto decorre que a computação não é encontrada na física, mas atribuída a ela. Certos fenômenos físicos são usados, programados ou interpretados sintaticamente. Sintaxe e símbolos são relativos ao observador. Assim, não se poderia descobrir que o cérebro ou qualquer outra coisa fosse intrinsecamente um computador digital, apesar de que fosse possível atribuir uma interpretação computacional a ele, assim como a qualquer outra coisa. Construímos, programamos e empregamos determinados sistemas físicos, porquanto alguns deles facilitam o uso computacional muito mais que outros. Nesses casos, somos o homúnculo no sistema, interpretando a física sintática e semanticamente. Ainda conforme Searle, o cérebro, no que concerne a suas operações intrínsecas, não executa qualquer processamento de informações. Nele há intrinsecamente processos neurobiológicos e algumas vezes estes causam consciência. Todas as demais atribuições mentais são ou disposicionais ou relativas ao observador.
Palavras-chave: John Searle, Razão Cognitiva, Cognitivismo.