63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 3. Cinema |
LOUCURA & CINEMA: A REPRESENTAÇÃO DA LOUCURA NOS FILMES PERSONA E CAMILLE CLAUDEL |
Marina da Costa Campos 1 Lisandro Magalhães Nogueira 2 |
1. Graduada - Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia - UFG 2. Profº Dr./ Orientador - Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia - UFG |
INTRODUÇÃO: |
Se o cinema desperta olhares apaixonados do ser humano é porque tem o dom de chegar fundo em suas emoções, projetando seus desejos e expectativas. Diante disso, um elemento é recorrente na história do cinema e que permitiu e ainda permite tal viagem transcendental. Este elemento é a Loucura, cada vez mais presente nas telas, sempre ampliando a sua forma de representação e de fascínio sobre os espectadores. É diante desse fascínio que fica o objetivo deste trabalho: por que existe este deslumbramento, e por que não falar em identificação? Como o cinema retrata o conceito de loucura? Diante dos vários movimentos cinematográficos, é possível estabelecer características e visões diferentes sobre a loucura? No intuito de responder estas questões e por compreender que a temática da loucura é um assunto ainda obscuro e pouco estudado pelo lado das teorias do cinema é que este estudo foi proposto, a partir da análise de dois filmes: Persona (1966), de Ingmar Bergman, representante do cinema moderno; e Camille Claudel (1988) de Bruno Nuytten, filiado ao cinema de estrutura narrativa clássica (no caso cinema contemporâneo). Assim, procura-se responder tais questões e definir: afinal, será que os filmes realmente falam da loucura ou se utilizam dela para falar do homem? |
METODOLOGIA: |
Para alcançar os objetivos propostos, inicialmente foi necessário recorrer ao estudo da história da loucura, a fim de compreender os vários sentidos que este termo abriga: aqueles mais relacionados à medicina e aqueles relacionados ao psicossocial. Para tal reconstrução, recorre-se a autores como Michael Foucault principalmente e também a outros estudiosos do tema como Gabbard, Kaplan, Sadock, Grebb, Frayze-Pereira e Isaías Pessoti. Também se fez necessário uma regressão histórica para averiguar a presença do tema loucura em diversas áreas da arte, como a literatura, pintura e o próprio cinema, para compreender que imagens estas carregam sobre o assunto e como essa concepção se refere ao próprio contexto histórico no qual as obras foram concebidas. Por fim é preciso chegar às teorias do cinema, com autores como Robert Stam, Ismail Xavier, Marcel Martin, Christian Metz entre outros, para identificar as características dos dois movimentos cinematográficos analisados, cinema de estrutura clássica e moderno. E diante desse arcabouço teórico, confrontar e dialogar essas duas vertentes em suas maneiras de representar a loucura, por meio método da análise fílmica de Persona e Camille Claudel, destrinchando cada cena, analisando os elementos diegéticos e compreendendo como um todo. |
RESULTADOS: |
Na análise fílmica de Camille Claudel, que abriga o cinema de estrutura clássica, é possível perceber que as características do próprio movimento a que se filia influem para o retrato da loucura. Pela necessidade de transparecer realismo, a representação se dá de forma realista, por meio da personagem principal do filme, Camille, que apresenta os sintomas de transtorno de personalidade paranóide. Esses sintomas são responsáveis por desencadear a idéia de ação e reação, ligação e continuidade de uma cena à outra, mantendo o suspense, o momento de catarse e a previsibilidade. Além disso, a loucura caminha com o romance, definindo as duas linhas motoras do filme: o amor de Camille por Rodin e a loucura provocada pela rejeição. Já a obra Persona, de Ingmar Bergma, do cinema moderno, a intenção não é diagnosticar o tipo de loucura que a personagem principal, Elizabeth, possui. Por meio de jogos de câmera que provocam (des)orientação no espectador, diálogos profundos e pesados e nenhuma resposta para as questões propostas no filme, Persona faz uma representação da loucura numa proposta social. O enfrentamento entre as personagens do filme, Elizabeth e Alma, demonstra que a loucura também se constitui como um conflito humano sobre a sociedade, a maternidade e a identidade. |
CONCLUSÃO: |
Antes de qualquer conclusão é preciso ressaltar que não se pode generalizar a visão que determinada vertente cinematográfica tem sobre um assunto. O que se pode fazer é apontar características comuns. A partir disso, temos perfis diferentes de representação da loucura feitos pelo cinema moderno e pelo cinema de estrutura narrativa clássica. Enquanto um se propõe a expor as angústias da vivencia do homem (fé, moralidade, o existencialismo) para promover a reflexão, o outro se propõe a representar os sintomas da doença mental para provocar emoções e auxiliar no desenvolvimento da trama. Logo, o cinema clássico tem como base uma abordagem mais organicista da loucura, enquanto o cinema moderno se apega à loucura social. Em Camille Claudel, o intuito é contar uma história no qual o espectador saiba tudo, sinta tudo, mas permaneça distante em seu voyerismo. Já em Persona, não há respostas, só questionamentos nos quais é impossível o espectador não mergulhar. Independente da forma como representam a loucura, as duas vertentes caminham para um sentindo: o homem. Seja de forma reducionista, apegando-se à representação realista dos distúrbios; seja de forma abstrata, abordando pontos que trazem a angústia humana, falar da loucura é sempre falar do homem, daí o fascínio. |
Palavras-chave: Loucura, Análise, Representação. |