63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 5. História - 7. História Política |
A sociedade de massas e a nostalgia do Ser: a experiência da modernidade nos círculos letrados de Buenos Aires na década de 1940. |
Alexandra Dias Ferraz Tedesco 1 Alberto Aggio 2 |
1. Mestranda em História da Universidade Estadual Paulista - UNESP. 2. Orientador, vinculado ao programa de Pós Graduação da UNESP. |
INTRODUÇÃO: |
A proposta dessa investigação está inserida em uma análise mais ampla a respeito da crítica da elite de Buenos Aires à incorporação do homem-massa na política argentina da década de 1940, encampada pelas medidas peronistas de incorporação de tipos sociais. Pretendemos, através da análise dos posicionamentos dos círculos letrados de Buenos Aires, analisar as formas e o alcance da resistência desse setor à um processo que, socialmente, representa uma mudança significativa na ordem liberal aristocrática que imperava na Argentina desde sua consolidação estatal e, cultural e politicamente, diz respeito à experiência da modernidade naquele país. O choque da multidão ocupando os espaços públicos e as novas ferramentas de coesão social baseadas na política de massas põe em cheque a função mesma das elites letradas de Buenos Aires e, nesse sentido, nossa proposta é analisar de que maneira esses intelectuais resistem ao projeto peronista de formulação de uma sociedade orgânica. |
METODOLOGIA: |
Partindo do pressuposto metodológico de que as relações materiais estão objetivadas nas disputas e práticas culturais, consideramos a necessidade de efetuar a análise dos círculos letrados de Buenos Aires considerando os lugares-sociais e as práticas de organização atreladas à eles, sem contudo escamotear o papel constitutivo da cultura. Dessa forma, nossa proposta metodológica baseia-se na análise dos periódicos e manifestos públicos, especialmente aqueles encampados pelo grupo Sur no período de 1935 à 1945, no sentido de compreendermos o alcance e as formas da crítica dos intelectuais ao homem massa em diálogo com a proposta peronista e com as condições políticas e econômicas do debate em questão. |
RESULTADOS: |
O século XIX ocidental, em sua luta por tornar ordeiro o espaço público, eleva os intelectuais ao patamar de “legisladores”, como propõe a metáfora de Bauman. A emergência das massas confere um papel de autoridade à essa elite letrada. Tem-se então um processo de entronização de uma superioridade social, uma demarcação bastante clara entre os que podiam desempenhar a função de intelectuais e o outros. Cumprem a função pretendida posteriormente por Ortega y Gasset: levam a luz do iluminismo e da técnica aos cegos, elevando a cultura européia a um patamar referencial absoluto, constituindo uma nova aristocracia de espírito, diante da falência da legitimidade do império. As novas funções dos intelectuais na modernidade são, portanto, reformuladas conforme o Estado encontra novas formas de legitimação perante à sociedade. Nossa proposta é analisar a resistência desses setores letrados, pensando essa relação conflituosa e paradoxal da modernidade com os intelectuais no contexto da Argentina peronista, onde o “homem-massa”, categoria de Gasset utilizada pela elite letrada bonaerense para designar a 'chusma' ou os 'cabecitas negras' peronistas, ameaça politica, social e culturalmente a preponderância e mesmo a relevância desse grupo de intelectuais, desalojando-os da gerência da sociedade. |
CONCLUSÃO: |
Os resultados a que pudemos chegar, considerando que se trata de uma pesquisa em andamento, são tangentes aO horror e ao estupor da elite vernácula ante a projeção da multidão é caracterizado por Benjamin em sua crítica à “era da reprodutibilidade técnica”, onde a fluidez do tempo e o caráter etéreo da cultura despojam a particularidade da obra de arte, causando mesmo a perca da aura na modernidade, a perca das funções rituais . Para o espanhol Ortega y Gasset, grande informante teórico dos intelectuais liberais argentinos da década de 1940, a fluidez da cultura de massas trás em seu bojo o fantasma da homogeneidade. Essa homogeneidade é, precisamente, o inimigo a ser combatido pelos intelectuais liberais da década de 1940 na Argentina. Nesse sentido, Sur intervêm no debate público com um anti-projeto, alternativo ao peronismo, que pode também ser considerado como uma resistência colegiada dos intelectuais argentinos ante a ameaça do desaparecimento mesmo de sua função, de sua importância e de suas prerrogativas políticas e culturais. |
Palavras-chave: Peronismo, Revista Sur, Sociedade de Massas. |