63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
O PAPEL DA MULHER RURAL NA CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS DE RENDA: CASO DA ASSOCIAÇÃO FEMININA DO ASSENTAMENTO ANTÔNIO CONSELHEIRO-MT
Neuri Eliezer Senger 1
Juliano Luis Borges 2
Sandro Benedito Sguarezi 3
1. Professor de Educação Básica - Prefeitura de Tangará da Serra-MT
2. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
3. Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT
INTRODUÇÃO:
A importância e o significado da agricultura familiar dependem, antes de tudo, de sua associação com valores socialmente positivos: tradição, desenvolvimento, eficiência econômica e proteção da natureza. Para compreender o espaço de sua reprodução no Brasil é preciso, também, entender que este é um espaço em construção, na maioria das vezes, precário e instável, cuja viabilidade depende frequentemente da tenacidade dos agricultores e da adoção de complexos estratégicos familiares. A mulher tem uma trajetória dentro da pequena produção inseparável da família. Exerce múltiplos papéis no âmbito familiar: dona de casa, mãe de família, esposa, mão-de-obra de reserva, amiga da parentela. A ruptura das mulheres com as identidades tradicionais de mãe e esposa, submetidas a um padrão de comportamento caracterizado pela subordinação (conjugal no trabalho) no ambiente doméstico, ainda é um desafio. Para inventarem novas formas de relações sociais é preciso estabelecer novos padrões relativos ao trabalho como forma de igualdade no status de valorização da atividade produtiva. Dessa forma, esta análise visa compreender o processo de organização da Associação Feminina do Assentamento Antônio Conselheiro, em Tangará da Serra-MT, como de estratégia local de geração de trabalho e renda.
METODOLOGIA:
A metodologia adotada para o presente estudo foi pesquisa qualitativa, com realização de estudo de caso na Associação Feminina do Assentamento Antônio Conselheiro, fundada no dia vinte e oito de novembro de 2003, com sede na Agrovila 14, lote 279. Esta Associação é constituída de costureiras que produzem tapetes de retalhos de forma artesanal. No local foram entrevistadas 10 mulheres associadas, no sentido de apreender as histórias de vida. As entrevistas foram realizadas através de roteiro, enfocando temas como organização, estratégias de autogestão, comércio, apoio institucional entre outros temas que surgem no decorrer da investigação. Esses procedimentos foram escolhidos no sentido de verificar, na esfera cotidiana das associadas, como se articulam as relações e as práticas visando uma alternativa viável de geração de trabalho e renda. Paralelamente, foi utilizado o diário de campo como forma de complementar as informações recolhidas.
RESULTADOS:
A Associação Feminina do Assentamento Antônio Conselheiro chama a atenção pela forma de sua constituição e organização, e a intencionalidade da mulher rural em romper certos padrões de comportamento. As práticas cotidianas revelam que a divisão sexual do trabalho traz intrínseca uma orientação de dominação. A concepção de papéis complementares tem como função camuflar a idéia desse conflito e poder. Entre as mulheres entrevistadas, todas relataram as tensões diárias para conseguirem sair dos lares e se reunirem na sede da Associação. A motivação tem que superar os entraves com o marido e filhos que “cobram” a dedicação exclusiva às tarefas domésticas. Das 10 entrevistadas, 8 têm que andar mais de 2 km para trabalharem. Esse esforço demonstra a vontade de produzirem e gerarem renda para suas famílias, além da autovalorização e satisfação de superarem os obstáculos cotidianos, elas participam de feiras e vendem diretamente para consumidores por encomenda. Com o apoio da Prefeitura local, a Associação vem conseguindo avanços organizativos e estruturais. Apesar disso, as mulheres afirmaram que não romperam a estrutura de dominação, mas iniciaram o processo de construção de novas relações sociais, onde a mulher possui mais visibilidade e amplia seu papel no espaço produtivo.
CONCLUSÃO:
Como foi explicitado, a mulher exerce múltiplas e heterogêneas funções no espaço rural. Geralmente o trabalho da mulher é atrelado à família, à reprodução biológica e social da unidade familiar. Dessa forma, a mulher é sempre o ser para os outros, não existe espaço, nesse contexto, para a mulher ser para si. Na Associação Feminina, a valorização do papel mulher é expressa através de sua contribuição no âmbito econômico para a unidade familiar. Isso possibilita pensar e enxergar a mulher como sujeito de ações diversificadas, como protagonista de alternativas para geração de renda e garantia de subsistência. Nesse emaranhado de relações, novas formas de sociabilidade se articulam com estratégias locais na perspectiva de um futuro mais digno para as mulheres, para as famílias e para a comunidade na qual elas vivem.
Palavras-chave: Mulher, Trabalho, Associativismo.