63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 3. Línguas Estrangeiras Modernas
RESTRIÇÕES GRAMATICAIS NA ALTERNÂNCIA DE CÓDIGO PARKATÊJÊ/PORTUGUÊS
Cinthia de Lima Neves 1
Marília Ferreira-Silva 2,3
1. Mestrado em Letras - UFPA
2. Profa. Dra./ Orientadora
3. Instituto de Letras e Comunicação - UFPA
INTRODUÇÃO:
Segundo, Wardhaugh (2006), o bilinguismo resulta, pelo menos, em code-switching (CS) ou alternância de código, comportamento linguístico que se caracteriza pela mudança de uma língua para outra sem haver mudança de tópico ou falante. Durante décadas o fenômeno foi visto como uma mistura irregular de sistemas distintos. Atualmente, no entanto, conta com vários modelos que comprovam sua sistematicidade, ou seja, está sujeito a restrições gramaticais, ocorrendo em pontos específicos e recorrentes nas sentenças, não de maneira aleatória.
Um dos modelos teóricos postulados os para dar conta da gramaticalidade do code-switching foi o proposto por Poplack (1980, 1981), que sugere duas restrições ao fenômeno: a “restrição morfema livre”, segundo a qual a alternância pode ocorrer após qualquer constituinte desde que não seja um morfema fixo; e a “restrição de equivalência”, que prevê a ocorrência em pontos onde elementos de ambas as línguas são equivalentes, para não haver violação de regras sintáticas das línguas envolvidas. O objetivo deste trabalho é apresentar a aplicação desse modelo à análise descritiva de alternância de código entre português e parkatêjê, língua Timbira falada no sudeste do Pará.
METODOLOGIA:
Para a execução de trabalhos como este, cuja proposta é descrever comportamentos linguísticos na fala de nativos, é fundamental que sejam feitas visitas à comunidade, nas quais são coletados os dados a serem analisados e feitas observações que podem ajudar a levantar novas hipóteses.
O material utilizado nesta pesquisa foi coletado entre os anos de 2008 e 2010; são narrativas orais tradicionais gravadas em áudio e vídeo, nas quais é possível observar diversas ocorrências do fenômeno em questão. Os dados foram primeiramente transcitos e traduzidos com o auxílio de um falante nativo para, então, dar início ao processo de análise do material, ou seja, a descrição do fenômeno de code-switching, a qual tem como base os estudos de Poplack (1980/1981).
RESULTADOS:
A Restrição do Morfema Livre postulada por Poplack (1981, p. 586) prevê que “códigos podem alternado após qualquer constituinte no discurso desde que este constituinte não seja um morfema fixo”:
kupe ita amji jõ-lei itan kãmã amji kaka
não-índio Dem Refl Rel+Pos-lei entregar-se
Eu não quero acompanhar a lei do não-índio
Em parkatêjê a posse é expressa por [Rel- õ + SN]; ou seja, jõ- pode ser combinado com outro constituinte, que nesse caso é um substantivo em português.
Segundo Poplack (1981, p. 586), “a alternância entre códigos ocorrerá em pontos do discurso em que a justaposição de elementos da L1 e L2 não viole uma regra sintática de nenhuma das línguas”:
Mpa aiku me respeitar só me ikra
2pl PR pl filho
Nós respeitávamos só os nossos filhos
Os códigos aqui são alternados sem violação da ordem em português; porém com adaptações dos padrões de parkatêjê, cuja ordem prototípica é Suj-Obj-Verbo - adaptações devido a uma possível mudança nos padrões da língua.
CONCLUSÃO:
As observações feitas em visitas à comunidade para realização de trabalho de campo permitem indicar três tipos de comunicação: fala em português, fala em parkatêjê e code-switching. A alternância de códigos é uma realidade tanto entre os falantes que têm o parkatêjê como L1 e o português como segunda língua (L2) quanto entre a geração que tem o português como língua materna e a língua indígena como segunda língua.
O intensivo contato com a língua portuguesa, já observada por Ferreira (2005) e Araújo (2008), resulta em uma situação de atrito linguístico crescente, cuja consequência mais dramática é a atual situação de obsolescência vivida pela língua Parkatêjê.
Palavras-chave: Parkatêjê, Bilinguismo, Alternância de código.