63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
IMPACTOS DAS POLITICAS GOVERNAMENTAIS E DE EMPREENDIMENTOS PRIVADOS EM MANICORÉ-AM
Maria Jacilene Bentes de Oliveira 1
Ana Paulina Aguiar Soares 1
1. Universidade do Estado do Amazonas – UEA/ENS/Manaus
INTRODUÇÃO:
O Município de Manicoré, localizado na Micro Região Madeira, teve sua estruturação vinculada ao processo de conquista do território nacional, à forte presença de seringais, à implantação de políticas orientadas pela chamada integração nacional e, mais recentemente, à sua inserção no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. Duas perguntas orientaram a investigação: como o alargamento das fronteiras no território influenciou na formação dos núcleos populacionais no Rio Madeira? A segunda, decorrente da primeira: como as políticas de governos serviram de base de sustentação e de expansão a empreendimentos privados, promovendo a inserção desse território na dinâmica do capitalismo mundial? Para conhecer como se deu a ocupação, formação e transformação espacial do Município foi feito um levantamento geo-histórico como base em literaturas com visões diversas desse processo, além das que deram sustentação teórica de análise. Esse estudo tem como objetivos: configurar um quadro geo-histórico do Rio Madeira para compreender o processo de ocupação e estruturação espaço-temporal e suas territorialidades; e identificar como o Município de Manicoré se insere nesse contexto a partir das políticas governamentais direta ou indiretamente implantadas no seu território político-administrativo.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo de caso, de caráter exploratório, com enfoque géo-histórico e análise espacial, tendo como objeto as políticas governamentais e as estratégias empresariais e, como sujeitos, moradores do Município de Manicoré. Observação direta com diversas etapas de trabalho de campo e entrevistas e a análise documental foram os procedimentos metodológicos privilegiados. O método geo-histórico consiste em um estudo espaço-temporal de diversas conjunturas, econômicas, sociais, culturais, políticas e técnicas, possibilitando um conhecimento do todo de sociedades sobre o espaço geográfico. Privilegiou-se no estudo do processo de formação espaço-temporal, representar cartográfica e graficamente os aspectos considerados relevantes para configuração espacial e social da região.
RESULTADOS:
O Rio Madeira foi ocupado e explorado pelos portugueses a partir do século XVII, tanto para expandir e garantir a fronteira no território originalmente destinado aos espanhóis, assim como acesso e escoamento das minas do Mato Grosso e das drogas do sertão. No Século XIX a extração da borracha colaborou para manter esse território com a exploração dos seringais e a política de migração de nordestinos conduziu ao incremento de população. A partir de 1960, as políticas do governo militar influenciaram diretamente o Rio Madeira, como a construção de rodovias (BR – 230 e 319). Isso levou a uma mudança em sua estrutura espacial e social, que se acentua atualmente com implantação de novos projetos governamentais como os do PAC. Nesse contexto, se insere Manicoré que teve sua origem no período da conquista e no auge da exploração da borracha foi transformado em Município. As políticas desenvolvimentistas trouxeram conseqüências significativas, como a atuação da indústria madeireira e da agropecuária com a destruição de mais 1.499,4 Km2 de floresta. De positivo para as populações locais têm-se iniciativas da sociedade civil para organizar a produção extrativista que despontam como uma solução viável, como ocorre com a Cooperativa Verde de Manicoré (COVEMA).
CONCLUSÃO:
Nos primeiros séculos da sua ocupação, pós conquista, o Rio Madeira serviu aos interesses da coroa portuguesa. Desde os bandeirantes, até ação de grandes empreendimentos atuais, essa região sempre esteve voltada ao interesse do capital. Isso fez com que problemas de grandes proporções afetassem a sociedade local. Como a remoção de populações tradicionais, que foram obrigadas a sair de seu território para dar espaço à implantação de empreendimentos a serviço do crescimento econômico do país, como as hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio. O Município de Manicoré, fruto da ocupação desse rio, também reflete contradições devidas à implantação de políticas governamentais e de empreendimentos privados, tais como perda de biodiversidades e problemas sociais. Os empreendimentos privados, na sua maioria, têm como principal foco auferir ganhos econômicos sem muito custo, como os dedicados à exploração madeireira. Os recursos naturais são tomados como meros objetos de acumulação do capital, resultando em uma corrida sobre a qual o Estado e a sociedade ficam à margem, sem tanto controle. Programas tentando remediar o avanço da ação predatória são implantados, mas ao mesmo tempo se dá incentivo ao avanço do agronegócio.
Palavras-chave: Rio Madeira, Manicoré, Políticas Governamentais.