63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 4. Parasitologia Geral
PARASITOSES INTESTINAIS EM INDÍGENAS PARESÍ NA ALDEIA DO RIO VERDE, MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA, ESTADO DO MATO GROSSO, BRASIL
Fabiana Aparecida da Silva 1
Argeu de Paula 2
Keila Siqueira Vila Lopes 2
Miryeli Mello Ribeiro 2
1. Profª Msc Orientadora Depto. de Farmácia, UNIC, Campus Tangará da Serra
2. Depto. de Farmácia, Universidade de Cuiabá (UNIC),Campus Tangará da Serra
INTRODUÇÃO:
As parasitoses intestinais constituem um grave problema de saúde pública principalmente em regiões com precárias condições socioeconômicas. O Brasil ainda apresenta índices de parasitoses intestinais significativamente relevantes. Isso se explica, principalmente, devido à falta de saneamento básico, educação sanitária insuficiente e hábitos culturais presentes em vários setores da sociedade. As comunidades indígenas figuram entre os principais grupos sociais vulneráveis às doenças infectoparasitárias. Geralmente, nestas comunidades, mesmo depois de adotadas medidas de prevenção, algumas doenças permanecem fora do controle por parte dos serviços de saúde, devido à alta taxa de transmissão favorecida por características socioculturais. O povo Paresí que se autodenomina Haliti (povo verdadeiro) habita a região noroeste do estado de Mato Grosso. Apesar do longo contato com a sociedade ocidental, os Paresí preservam fortes costumes de sua cultura. Estudos parasitológicos em populações indígenas são muito relevantes, uma vez que fornecem dados para possíveis medidas de prevenção. Diante do exposto, este estudo teve por objetivo obter dados qualitativos de enteroparasitas na comunidade indígena Paresí - aldeia do Rio Verde, município de Tangará da Serra, MT.
METODOLOGIA:
A comunidade Paresí ocupa uma área de 1.200.000 hectares, correspondendo a 53% do município de Tangará da Serra, Mato Grosso. A pesquisa foi realizada no período de Fevereiro a Novembro de 2010 na Aldeia do Rio Verde, localizada a 125 Km da área urbana. O Cacique da aldeia autorizou a entrada da equipe para obtenção dos dados. Posteriormente o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Cuiabá (UNIC). Em seguida, realizou-se uma visita na aldeia para ministrar uma palestra sobre parasitoses intestinais. Após a palestra os indígenas que tiveram interesse em realizar o exame parasitológico de fezes (EPF) preencheram um formulário de identificação, receberam instruções para coleta, um kit (frasco, espátula e papel) para acondicionamento da amostra e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. As amostras foram entregues à enfermeira no posto de saúde localizado na aldeia. Os frascos foram identificados, posteriormente as amostras foram acondicionadasem caixa térmica com gelo e encaminhadas ao laboratório de Parasitologia da universidade. As amostras foram processadas através do método de Sedimentação Espontânea. Os resultados dos exames foram entregues ao posto de saúde da aldeia, onde o médico responsável realiza consultas periódicas.
RESULTADOS:
No universo amostral de 86 moradores, 43 (50%) preencheram a ficha de identificação e receberam o kit para coleta da amostra. Entretanto, apenas 26 moradores enviaram a amostra para análise, o que representa 30,2% do universo amostral. Do total de participantes, 19 são adultos e 7 são crianças. A idade dos participantes variou de 4 a 73 anos. Após a realização dos exames, 11 amostras apresentaram resultado negativo (42,30%) e 15 amostras apresentaram resultado positivo (57,69%). Dos exames positivos foram encontrados os protozoários Giardia sp e Entamoeba coli (comensal) e uma espécie de helminto Hymenolepis nana. Das 26 amostras analisadas, 9 apresentaram E. coli, 6 apresentaram Giardia sp e 5 apresentaram H. nana. Portanto, alguns indivíduos estavam parasitados por mais de um grupo de parasitas. Geralmente, as infecções por giárdia são assintomáticas, todavia, os portadores podem apresentar quadros de diarreias com cólicas intestinais e má absorção de nutrientes. A presença de E.coli, mesmo sendo um comensal do trato intestinal humano, é um indicador de más condições sanitárias, sendo marcador da via fecal-oral. H. nana possui ação mecânica espoliativa na mucosa intestinal e, em alguns casos, pode atingir certas áreas do encéfalo.
CONCLUSÃO:
A Aldeia do Rio Verde recebe este nome por residir às margens do Rio Verde, Bacia Amazônica. O abastecimento de agua é proveniente de poço artesiano. Existem famílias que vivem em hati (como são denominadas as ocas) e outras em casas de madeira ou alvenaria sendo que nestas existem fossas sépticas. A educação em saúde é um tema desenvolvido na comunidade, principalmente na escola de ensino fundamental e médio que se localiza na aldeia. Entretanto, por fatores socioculturais os indígenas defecam próximo ao rio, onde crianças e adultos passam parte do dia em atividades recreativas. Como consequência, ingerem água potencialmente contaminada, disseminando os enteroparasitas no âmbito familiar. Conclui-se que para atender às necessidades em matéria de saúde das comunidades indígenas é importante conhecer o perfil epidemiológico, sanitário e sociocultural dessas aldeias. Assim, as pesquisas nestas comunidades, são muito importantes no que tange ao desenvolvimento de programas de prevenção e controle de doenças, como por exemplo, a sensibilização por meio de palestras e cursos gerando mudança de atitudes.
Palavras-chave: Saúde, Indígena, Enteroparasitas.