63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
CULTURA QUÍMICA: UMA EXPERIÊNCIA EM FORMAÇÃO CONTINUADA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A PARTIR DO ESTUDO DO CASO PEDAGÓGICO “CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA DO SUBSOLO DO CERRADO COM RESÍDUOS DE ÁCIDOS GRAXOS”
Juliana Alves de Araújo Bottechia 1,2
Alberto Vieira do Nascimento 2
Beatriz Alves Campos 2
Luiz Paulo de Oliveira Silva 2
1. Profª. Msª./ Formadora - Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação – EAPE/SEE, Brasília/DF
2. Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal – SEE-DF.
INTRODUÇÃO:
O estágio de desenvolvimento das nações; alcançado e potencial; depende diretamente do grau de escolarização de seus cidadãos. Os estudos econômicos e a experiência internacional demonstram o rigor desta afirmação, ou seja, a capacidade de crescimento e adaptação dos povos é diretamente proporcional à proficiência com que sua população manipula informações. A dificuldade para interpretar e expressar-se utilizando códigos linguísticos, matemáticos e científicos em geral, inibe a capacidade de desenvolvimento, a probabilidade de seleção para treinamentos no ambiente de trabalho, diminui a participação social e aumenta os encargos sociais com acidentes de trabalho e desperdícios de recursos entre outros. Assim, no curso “Construindo Práticas Educativas: Didáticas Aplicadas a Educação de Jovens e Adultos” partiu-se das especificidades e natureza identitária para construir uma Cultura Química com qualidade social nas escolas públicas do Distrito Federal. A expectativa é superar as dificuldades relatadas desta modalidade da educação básica por meio da construção de material didático adequado aos conteúdos químicos escolhidos e socializar seu Instrumento Metodológico de Ação Interventiva elaborado contextualizada e interdisciplinarmente mais próximo a realidade do estudante trabalhador.
METODOLOGIA:
A partir da investigação de uma situação-problema-desafio e construir seu diagnóstico, suportado em sua história de vida na forma de um memorial-educacional-profissional, a fim de propiciar sua identificação com uma realidade do aluno-trabalhador que ele mesmo vivencia quando decide fazer um curso de formação continuada. Com foco no caso pedagógico desvelado, procura-se problematizar os conteúdos químicos e enunciá-los na forma de pergunta, espera-se organizar uma atividade interventiva para solucionar o problema pedagógico apontado. Indicando procedimentos teórico-metodológicos, constrói-se o mapa conceitual com os elementos da aprendizagem. Além disso, considerar o trabalho docente na perspectiva do letramento das práticas sociais e da diversidade sociocultural, entendendo a relação trabalho-educação em sua complexidade e como ponto de partida para a política pública de formação continuada de professores da EJA, que visa assegurar a qualidade do ensino/aprendizagem nos tempos/espaços da escola. No contexto da disciplina, analisou-se o currículo escolar da EJA e seus livros didáticos de Química, considerando mapas, gráficos, tabelas, imagens e a avaliação formativa, por meio de discussões e aprofundamento de conceitos teóricos químicos a serem dinamizados e apresentados no IMAI.
RESULTADOS:
A experiência acumulada pelos professores de Química nos mais diversos pontos do DF e resgatada no curso, demonstra que ampliar a capacidade dos estudantes da EJA para compreender e elaborar textos, analisar e expor as ideias, realizar operações matemáticas básicas e conviver com qualidade em meio a uma sociedade científica-tecnológica é um desafio a ser enfrentado. Assim, a situação-problema-desafio escolhida pela análise e discussão da turma trata da “contaminação da água do subsolo do cerrado com resíduos de ácidos graxos” não só porque apresenta relevância do ponto de vista ambiental e econômico, mas porque permite a vivência dos estudantes da EJA até do ponto de vista das políticas públicas adequadas. Fundamental para a problematização foi conhecer estes sujeitos a partir de diagnóstico sócio-histórico-cultural em que estão inseridos; associar e aplicar os conceitos teóricos na perspectiva sócio-histórica da aprendizagem; conhecer e utilizar procedimentos e estratégias de avaliação formativa intervindo em situações que gerem retenção ou abandono escolar; aprofundar e aplicar conceitos de letramento e diversidade no estudo dos componentes curriculares; utilizando a sala de aula; como laboratório para desenvolver e socializar IMAIs estratégicos para o ensino de Química na EJA.
CONCLUSÃO:
Analisando a efetividade do “estudo de caso” como metodologia para promover práticas individuais e coletivas de ensino-aprendizagem, pode-se concluir que os conhecimentos químicos assumem seu valor tanto no currículo escolar como nos livros didáticos de qualidade para a EJA, enquanto uma Cultura Química. Em uma sociedade culturalmente constituída por “seres culturais” tal cultura pode contribuir sustentavelmente não só para o desenvolvimento social, mas para a própria qualidade de vida cidadã, ampliando as condições de “leitura de mundo”. Partir do problema gerado por resíduos graxos descartados e os custos de manutenção de caixas de gordura e rede de esgoto; bem como os problemas ambientais como a contaminação de lençóis freáticos, a impermeabilização da lâmina d’água e diminuição da vida aquática; permitiu resgatar o saber popular de fabricação caseira de sabão e aprimorar os conhecimentos químicos por meio dos saberes escolares da esterificação contribuindo com questões solidárias da sociedade seja pela geração de renda, seja pela economia realizada em manutenções individuais e coletivas. Assim, impactando a visão de mundo dos estudantes, a formação da cultura química inova e amplia na percepção dos conceitos químicos trabalhados na EJA, da forma estabelecida atualmente.
Palavras-chave: Processo de ensino-aprendizagem em cultura química, Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores, Educação pública de qualidade social.