63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO PELA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA EM RECIFE – PE: O EXEMPLO DA COMUNIDADE DE RODA DE FOGO.
Thiago Santa Rosa de Moura 1,2,3,4
Francisco Tavares de Melo 1,2,3,4
Luana Ísis do Nascimento 1,2,3,4
Lourival Luiz dos Santos Junior 1,2,3,4
1. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
2. Centro de Filosofia e Ciências Humanas - CFCH/UFPE
3. Departamento de Ciências Geográficas - DCG/CFCH/UFPE
4. Curso de Licenciatura em Geografia - DCG/CFCH/UFPE
INTRODUÇÃO:
O esforço maior no fomento da produção deste trabalho está na tentativa de explicitar, nas atuais configurações do espaço urbano, experiências de alternativas de produção espacial que demonstrem caminhos que indiquem saídas mais interessantes aos problemas enfrentados nos grandes centros urbanos brasileiros. De modo mais específico, a análise do funcionamento das estruturas socioeconômicas hegemônicas, suas repercussões na produção do espaço e de diferentes territórios, são preocupações que permeiam o texto pela consideração de tais aspectos como de suma importância na compreensão da transformação do espaço urbano. As analises das ocupações de terras urbanas para a produção de moradias na cidade do Recife-PE entre as décadas de 1970 e 1980, são tomadas como exemplos de formação de territórios que fogem às regras impostas pelos atores com maior capacidade de transformação das configurações territoriais urbanas. A experiência da formação da comunidade de Roda de Fogo é analisada com maior ênfase, sendo a área escolhida como objeto principal de estudo por ser campo fértil para construção teórica a partir da hipótese da possibilidade da produção de territórios por meio do exercício do poder entre a população de baixa renda.
METODOLOGIA:
Para a execução da pesquisa foi realizada revisão bibliográfica. Temas como, o espaço urbano capitalista, a habitação em centros urbanos, mais especificamente em Recife e formas de mobilização popular, serviram de base para a pesquisa, tendo em vista a apropriação teórica necessária para a realização do trabalho. Também foram realizados trabalhos de campo na área de estudos, a comunidade de Roda de Fogo, para a observação de suas características e levantamento de dados por meio de entrevistas com moradores da comunidade.
RESULTADOS:
O espaço urbano configura-se como uma área concentradora de atividades que refletem o caráter dos interesses políticos, econômicos, dentre outros, que agem e influenciam toda a sociedade. Suas formas e funções configuram-se, no caso dos centros urbanos brasileiros, como o reflexo da hegemonia da racionalidade capitalista na produção e transformação do espaço das cidades. Nessa lógica as classes detentoras de maior poder aquisitivo usufruem de espaços produzidos pelos atores de maior capacidade de transformação do espaço: Estado e iniciativa privada. Esses últimos vêm, nas cidades brasileiras, produzindo espaços que tomam um caráter segregador à população. A cidade do Recife – PE não foge a essa regra. Nela, também, são as elites dominantes que determinam a ocupação e a forma de uso das terras urbanas. É neste contexto que, a partir da década de 1980, iniciam-se uma intensa seqüência de ocupações pela população pobre, no intuito da promoção do direito à moradia. Em 1989, cerca de três mil pessoas ocuparam uma área de 60 hectares na zona oeste do Recife originando a comunidade de Roda de Fogo que se pode analisar como um exemplo de exercício do poder autônomo da população pobre para a produção do espaço urbano em benefício da dignificação humana através do acesso à moradia.
CONCLUSÃO:
A produção das desigualdades sociais pelo sistema capitalista, assim como outros mecanismos socioeconômicos, reflete-se diretamente nas formas espaciais existentes e no conteúdo das mesmas, as ações humanas. As cidades brasileiras, assim como em outros Estados nacionais, adaptaram-se e modificaram-se em função das modernizações impostas ao país ao longo do tempo. Nessas modificações, está presente a idéia do ordenamento espacial onde, para o modelo econômico e social adotados no Brasil, os espaços devem ser escolhidos e utilizados buscando, como prioridade, o maior lucro possível. Um dos elementos fundamentais do capitalismo é a mercadoria. Nos centros urbanos o espaço é uma mercadoria a qual se agregam valores em se tratando da localização, ou até mesmo da vontade das classes dominantes de lhe inferir elementos (infra-estrutura, bons serviços) que o valorizem. Com isso, o espaço torna-se um elemento segregador. As classes privilegiadas passam a consumir os melhores espaços enquanto a população de baixa renda é empurrada às periferias. Em Recife, porém, foram produzidos diversos territórios a partir da ocupação de áreas urbanas pela população de baixa renda para a produção de moradias. A comunidade de Roda de Fogo mostra-se como um dos exemplos mais significativos desse processo.
Palavras-chave: espaço urbano, população pobre, roda de fogo.