63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia |
MERCADO E FESTA: Apropriações e Negociações do popular. A Festa de Iemanjá (BA). |
Helena Tavares Gonçalves 1 Emília Pietrafesa 2 |
1. Instituto de filosofia e Ciências Humanas - UNICAMP 2. Profa Dra / Orientadora - Departamento de Antropologia - UNICAMP |
INTRODUÇÃO: |
A presente pesquisa propõe analisar o processo de mercadorização das festas populares da cidade de Salvador. Procuramos investigar as estratégias de negociação travadas entre os atores que participam do processo, tomando como estudo de caso a Festa de Iemanjá. O objetivo principal da pesquisa foi o de compreender como a mercadorização das festas incide sobre a construção da idéia de negritude e baianidade. Um dos resultados do estudo foi a confirmação da hipótese inicial, a de que o investimento identitário feito pela indústria turística a partir da incorporação das manifestações populares como símbolo de uma identidade baiana acaba por mascarar condições e conflitos sociais presentes na sociedade soteropolitana, como o racismo e desigualdade social. As conclusões caminham no sentido de perceber quais as implicações concretas e simbólicas que resultam desse fenômeno. Uma delas, o deslocamento do espaço das festas para o espaço do privado, isto é, como uma das respostas às políticas de espetacularização, preferem celebrar a festa em suas casas, na sede do grupo de capoeira, na casa de candomblé. O que sugere uma tendência à negação da política de espetacularização da cultura popular de Salvador, ao mesmo tempo que uma reapropriação das manifestações populares pelos atores sociais. |
METODOLOGIA: |
Os procedimentos metodológicos utilizados nessa pesquisa se dividiram em três etapas: pesquisa bibliográfica, pesquisa etnográfica e articulação entre as proposições teóricas e os achados etnográficos. A primeira etapa da pesquisa conferiu ao estudo uma fundamentação teórica, necessária para uma analise crítica do fenômeno de mercadorização das festas populares, bem como uma preparação para os estudos que mais tarde foram realizados na pesquisa de campo. A segunda etapa consistiu na pesquisa etnográfica, durante os meses de janeiro e fevereiro de 2010, nesse momento foi possível estabelecer um contato mais próximo com o universo social local, os interlocutores transitavam por espaços como colônia de pescadores, associações de bairro, grupos de capoeira e terreiros de candomblé. Foi feito o uso de registros fotográficos, depoimentos e entrevistas. Também foram realizadas pesquisas em museus e arquivos da cidade a fim de incluir a dimensão histórica da trajetória de transformações das celebrações feitas para Iemanjá. A ultima etapa consistiu na articulação dos dados obtidos durante os dois momentos já citados, o que resultou na elaboração do relatório final de pesquisa. |
RESULTADOS: |
Essa pesquisa teve como tema analisar o processo de mercadorização das festas populares de Salvador, para tal analise o caminho percorrido passou por questões referentes a processos de formação de referenciais identitários. Tentamos compreender como se deu a emersão dos discursos de Negritude e Baianidade, e em que medida os mesmos foram utilizados para a criação de estereótipos que imperam sobre a idéia que é vendida sobre a Bahia. Um dos resultados foi a confirmação da hipótese inicial, a de que ao incorporar práticas de manifestações populares como símbolo de uma identidade baiana, acaba por mascarar condições de conflitos sociais. Outro ponto de investigação foi perceber como esse processo é vivido por determinados atores sociais, com os quais tive contato durante a pesquisa etnográfica. Pudemos constatar que essas pessoas pensam criticamente sobre sua condição, fazem reflexões sobre como a própria comunidade local é usada para servir a interesses da indústria turística. Pudemos perceber também que ocorre um movimento de reapropriação das festas populares, onde os atores sociais não deixam de realizar a celebração, mas passam a organizar as festividades em outros espaços de socialização onde não imperam os ideais das propagandas de fins turísticos. |
CONCLUSÃO: |
O desenvolvimento do turismo étnico cria uma representação da Bahia vinculada a um passado africano, imprimindo traços identitários a toda população. Porém essa imagem só pode existir se encontrar seu equivalente real na sociedade. Portanto o discurso não pode ser vendido apenas para quem visita a cidade, mas para tornar-se efetivo ele deve ser comprado também por quem vive nela. Aqui a mídia exerce papel fundamental na criação de estereótipos, fazendo a apreensão do étnico através de uma esfera estética, cristalizando um discurso identitário, levando os sujeitos a obrigatoriedade da repetição ancorada numa tradição estática. Parece ser no carnaval o momento máximo de expressão do fenômeno de mercadorização cultural, porém os dispositivos que fazem a manutenção dessas relações estão presentes no dia a dia dos sujeitos, reproduzindo relações de poder e dominação, dentro de uma lógica que vê na cultura uma dimensão econômica, que vem sendo explorada através do campo da diversão e entretenimento. Ao mesmo tempo, muitos sujeitos acabam buscando alternativas para subverter a ordem vigente. Eles não deixam de comemorar aquilo que simbolicamente faz sentido em suas vidas, mas procuram criar novos espaços de sociabilidade, a fim de fugir das políticas de espetacularização. |
Palavras-chave: Identidade, Cultura Popular, Turismo. |