63ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (DST) NA POPULAÇÃO INDÍGENA PARESÍ NO PERÍODO DE 2007 A 2010 NO MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA, MATO GROSSO
Miryeli Mello Ribeiro 1
Keila Siqueira Vila Lopes 1
Fabiana Aparecida da Silva 2
1. Acadêmica deptº Farmácia, Universidade de Cuiabá (UNIC) Campus Tangará da Serra
2. Profª Msc/orientadora - Depto. de Farmácia, Unic, Campus Tangará da Serra
INTRODUÇÃO:
O objetivo deste estudo foi descrever os aspectos epidemiológicos das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) na população indígena Paresí no município de Tangará da Serra, Mato Grosso, dos anos de 2007 a 2010. Doenças sexualmente transmissíveis são doenças infecciosas que se transmitem principalmente, porém não de forma exclusiva, pelo contato sexual. Os agentes infecciosos podem ser vírus, fungos, bactérias e parasitas, gerando diferentes manifestações como feridas, corrimentos, bolhas ou verrugas. As DSTs podem acometer pessoas de ambos os sexos e diferentes idades, afetando a saúde física e a qualidade de vida. Nas aldeias existem escolas até o Ensino Médio, as aulas são ministradas por professores indígenas. Entretanto, muitos indígenas mudam para a cidade em busca de estudo (ensino médio/universitário), o que aumenta as chances de adquirir uma DST em decorrência do contato com a cultura ocidental. Para as meninas, logo após a menarca ela já está pronta para o casamento. Geralmente a iniciação sexual ocorre em torno dos 11 anos de idade para ambos os sexos. As DST são um grave problema de Saúde Pública, pois muitas delas, quando não tratadas em tempo e de forma adequada, podem evoluir para um estado mais graves, podendo provocar até óbito.
METODOLOGIA:
Este trabalho consiste em um estudo epidemiológico descritivo e retrospectivo acerca das doenças sexualmente transmissíveis na etnia indígena Paresí, município de Tangará da Serra, MT. O estudo utiliza dados secundários, respeitando a confidencialidade e o anonimato dos sujeitos notificados nos Sistemas de Informação. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Cuiabá (UNIC). A etnia Paresí está distribuída em 35 aldeias, ocupando uma área de 1.200.000 hectares. De acordo com a Fundação Nacional ao Índio (FUNAI/2011) habitam 1140 índios da etnia Paresí no município de Tangará da Serra, MT. Os dados das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) foram coletados na Associação Halitinã, um departamento conveniado com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Na Associação Halitinã cada caso de DST é identificado pelo Código Internacional de Doença (CID) e registrado num protocolo com os dados do paciente. As consultas médicas são realizadas periodicamente nas aldeias. Também há o trabalho dos agentes de saúde, realizados por alguns indígenas que possuem cursos técnicos, fornecendo um suporte para orientação e encaminhamento dos pacientes.
RESULTADOS:
Entre o período de 2007 a 2010 foram registrados 46 casos de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Deste modo, dos 1140 indígenas da etnia Paresí que residem no município, 4,03% foram infectados por algum tipo de DST. Das 35 aldeias do município os casos de DST foram descritos em 22 aldeias (62,86%). Após o diagnóstico clínico foram notificados 4 tipos de CID - Código internacional de doença: B37 Candidíase, A54 Infecção Gonocócica, A50 Sífilis congênita e A64 DST não específica. Para Candidíase foram descritos 5 casos (10,87%), sendo 2 ocorridos em pessoas do sexo masculino e 3 feminino, a faixa etária acometida foi de 0-10 anos e de 41-50 anos. Para infecção Gonocócica, 1 caso (2,18%), idade com 47 anos, sexo feminino. Sífilis congênita, 1 caso (2,18%), idade 44 anos, sexo masculino. Para DST não específica, foram notificados 39 casos (84,77%), sendo 2 para o sexo masculino e 37 para o sexo Feminino. Para os casos não específicos, não houve notificação na faixa etária de 0-10 anos, sendo a maior frequência entre indígenas de 21-30 anos (30,8%), seguido de 41-50 anos (28,2%). As faixas etárias de 11-20 e 31-40 anos corresponderam a 36% e as faixas etárias de 51-60 e 61-70 anos representaram 5% dos casos.
CONCLUSÃO:
A maioria dos casos foi descrito como não específico, talvez por ausência de diagnóstico laboratorial. Este diagnóstico é importante, pois possibilita o tratamento específico e consequentemente a eficácia na cura. Muitas características associadas ao aspecto cultural dificultam o tratamento das doenças sexualmente transmissíveis. Os indígenas apresentam certa resistência quanto ao uso de preservativos o que facilita a aquisição e transmissão das DSTs. Os indígenas mais jovens que permanecem com frequência ou residem na cidade acabam por ter relacionamento com o povo ocidental e uma vez infectado torna-se um efetivo transmissor da doença dentro da aldeia. O aconselhamento, voltado para prevenção e interrupção da cadeia de transmissão não é uma prática comum, pois mesmo com os agentes de saúde dentro da aldeia, os indígenas só procuram atendimento quando o quadro clínico está avançado. Sugere-se que o processo de aconselhamento deva estimular o indivíduo a reconhecer-se como sujeito na prevenção e considerar os aspectos socioculturais da etnia Paresí. Assim, uma linguagem compatível com a cultura e a explicação dos benefícios do uso correto do preservativo pode favorecer o fim de mitos e preconceitos relacionados às Doenças Sexualmente Transmissíveis.
Palavras-chave: doenças sexualmente transmissíveis, prevenção, saúde.