63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
IRMANDADES E IRMÃOS NO CAMINHO DA SALVAÇÃO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX EM GOIÁS
Deuzair José da Silva 1,2
Maria Elizia Borges 2
1. Professor UEG - Doutorando em História - UFG
2. Profª Drª/Orientadora/FAV – Programa de Pós-Graduação em História – UFG
INTRODUÇÃO:
Em Goiás, assim como em toda a região das Minas, as irmandades exerceram e tiveram um papel importante na condução dos trabalhos fúnebres. Elas eram a garantia de recebimento dos sufrágios e de enterramento em solo sagrado. Meu objetivo nesse trabalho é debater a atuação das irmandades e dos irmãos no assunto. Tomarei como recorte de estudo a capitania e depois província de Goiás. As questões em torno da morte é um tema que está em crescente ascensão entre os pesquisadores das ciências humanas, de modo especial: na filosofia, na antropologia e na história. Tem suscitado novas fontes de pesquisa e revelado traços importantes do comportamento da população de antanho, dando contribuições significativas para a compreensão e renovação da historiografia regional, justificando plenamente a sua investigação.
METODOLOGIA:
O trabalho foi desenvolvido a partir do exame dos Termos de Compromisso das Irmandades que era o documento que regia o funcionamento das mesmas. Através dos compromissos pude verificar quais os sufrágios o confrade tinha direito e as obrigações das referidas irmandades para com seus membros. Nos Registros de Testamentos procedi a uma quantificação dos testadores que afirmaram pertencer a uma dessas associações e suas determinações. Consultei também as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Nelas busquei perceber como a Instituição eclesiástica procurou regular as ações das Irmandades, totalmente leigas em sua constituição. Procurei fazer também uma “confrontação” dos documentos objetivando que esses me permitissem perceber melhor o cotidiano da população. Toda a documentação utilizada está localizada no Arquivo Histórico Estadual de Goiás (AEH) e no Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central (IPEH-BC), ambos localizados na cidade de Goiânia-GO.
RESULTADOS:
Pertencer aos quadros dessas associações dava às pessoas segurança na ida para o além, e isso explica o fato de várias delas fazerem parte de mais de uma delas. Elas propiciavam inserção social e garantias dos sufrágios por ocasião. O cumprimento de todos os preceitos ritualísticos afiançava para mortos e vivos um futuro mais promissor. A falta ou a inexecução de algum deles poderia levar o morto a desviar-se do caminho e perturbar os vivos. Os documentos indicam que as pessoas tinham poucas preocupações com além, explicado pela confiança dos confrades nos trabalhos realizados. O trabalho já se iniciava bem antes do falecimento do irmão com os preparativos necessários ao bom andamento de sua separação rumo à eternidade. Praticamente todas tinham a obrigação de prestar assistência aos irmãos menos aquinhoados e/ou às pessoas pobres. Destaco que além das irmandades, existiam também as Ordens Terceiras, que seguiam uma determinada Congregação ou Ordem religiosa, as associações pias que são resultantes da união do povo em torno de uma obra caritativa, e ao se ligarem por um Compromisso, definindo os papéis e as hierarquias a serem seguidas tornam-se uma irmandade. Irmandades e confrarias acabam por exercerem o mesmo papel, dificultando a precisão conceitual.
CONCLUSÃO:
A julgar pela despreocupação dos signatários dos testamentos por mim pesquisados – quanto aos locais de sepultamento e os ritos fúnebres a serem executados – as irmandades obedeceram fielmente às orientações de execução dos sufrágios, realizando sem exceções missas pelos componentes falecidos. O culto a Nossa Senhora, sob as mais diversas denominações encontrou aqui terreno fértil. Os termos de compromisso dão a elas unidade, sendo ao longo do século XVIII o período que elas mais cresceram. Reinava dentro das associações uma idéia de independência em relação ao clero, sua participação é forte, buscando intervir mais diretamente em praticamente tudo o que envolvia as questões religiosas. Mesmo que se gastasse um pouco a mais, havia a vantagem do parcelamento dos anuais. Alguns testadores chegam a afirmar não terem nada de valor, um desses pediu ao seu testamenteiro que devolvesse a cama que usava, pois, não lhe pertencia, mas esclareceu que tinha seus anuais pagos e queria receber todos os sufrágios a que tinha direito. Tais eram uma garantia a mais de sua salvação. As fontes que pesquisei me levam a crer que a maioria da população fazia parte de pelo menos uma dessas associações. Participar de uma delas era gozar de estima por parte de todos, até mesmo depois da morte.
Palavras-chave: Goiás, Irmandades, Irmãos.