63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
Ciência, tecnologia e formação docente: uma análise das contribuições do Mestrado Profissional
HERBERT GOMES MARTINS 1
CLEONICE PUGGIAN 2
SONIA REGINA MENDES DOS SANTOS 3
PATRÍCIA MANESCHY DUARTE DA COSTA 4
LILIAN SOUZA DE BARROS 5
1. Professor Doutor/Orientador – Mestrado de Ensino das Ciências na Educação Básica – UNIGRANRIO – RJ
2. Professora Doutora – Mestrado em Ensino das Ciências na Educação Básica – UNIGRANRIO – RJ
3. Professora Doutora – Faculdade de Educação da Baixada Fluminense – FEBEF/UERJ - RJ
4. Professora Doutora – Associação Educacional Dom Bosco – AEDB - RJ
5. Aluna de Iniciação Científica – Curso de Pedagogia – UNIGRANRIO – RJ
INTRODUÇÃO:
O Brasil padece com a falta de professores na educação básica. Estima-se que o déficit de professores nesse nível de escolarização seja de 246 mil docentes (INEP, 2009). Neste universo, há carência pronunciada de professores de Matemática e Ciências. Segundo a CAPES, em 15 anos 110 mil professores de matemática foram formados, mas apenas 43 mil atuam no magistério. Em física foram 13 mil formados dos quais apenas 6 mil lecionam na educação básica. Além de formar novos professores, há o desafio de manter na carreira aqueles que estão em atividade. Neste sentido, algumas políticas públicas são lançadas nas esferas federal e estadual. Podemos citar tais dentre elas a Universidade Aberta do Brasil (sistema de universidades públicas voltado para ampliar o acesso ao ensino superior a distância, com prevalência de vagas em cursos de licenciatura), o pró-docência e o programa de concessão de bolsas de estudos para professores em exercício. Houve também incentivo à implementação de propostas de cursos de pós-graduação stricto-sensu voltados para a formação continuada de professores. Neste texto relatamos o estudo de caso de um Curso de Mestrado em Ensino das Ciências. Adotamos como pressuposto teórico a produção de conhecimento na ação apresentada por Schön (1987), Perrenoud (1999) e Tardif (2000). Através do caso estudado, a pesquisa procurou identificar o impacto do mestrado na formação/ação de professores de química, física e matemática.
METODOLOGIA:
A pesquisa é parte de um projeto maior que envolve o estudo das Inovações Didáticas em Programa de pós-graduação voltado para o ensino. A metodologia escolhida foi qualitativa através do estudo de caso e os dados obtidos com o emprego das técnicas de análise documental e entrevista. A análise documental compreendeu a leitura de dezesseis dissertações e a correspondente sistematização dos dados a partir dos seguintes critérios: produção de conhecimento novo, reflexões sobre a própria prática docente ou propostas de inovações no processo de ensino e aprendizagem. O "focus group" contou com a participação dos ex-alunos do mestrado e durou quatro horas. As participações foram registradas em vídeo e estendidas para uma lista de discussão online com o objetivo de problematizar o fazer docente e, principalmente, iniciar um processo permanente de coleta de dados. Em seguida realizamos a análise de conteúdo dos dados (BAUER, 2002) e o registro dos resultados.
RESULTADOS:
O caso estudado envolveu dezesseis ex-alunos que concluíram o Mestrado em Ensino entre 2009 e 2011, sendo que todos mantiveram-se na profissão e os respondentes declaram que nela permanecerão. Nas palavras dos entrevistados o Mestrado foi determinante para confirmar a opção profissional pelas seguintes razões: o contato com outras práticas pedagógicas, a leitura de textos, o intercâmbio com outros programas de formação continuada, a interação com professores e outros colegas e, principalmente, o processo de pesquisa e produção intelectual.
Segundo Lelis (2001) observa-se a emergência de uma epistemologia da prática que preconiza o fazer pedagógico em detrimento do saber. A perspectiva desta pesquisa considerou o professor não como objeto de estudo, distanciado da produção teórica, mas como sujeito que na situação de aluno do mestrado, articula o conhecimento tácito obtido na experiência docente com o conhecimento teórico que ele interpreta e reifica por meio dessa prática. Dentre os resultados obtidos está o inventário de propostas inovadoras para o processo de ensino-aprendizagem das quais pode-se mencionar: novas metodologias para o ensino das ciências, propostas de inserção de novos conteúdos curriculares para o estudo de campos da Matemática, da Química e da Biologia e utilização de novos recursos de ensino-aprendizagem com destaque para as Tecnologias da Comunicação e da Informação (TICs).
CONCLUSÃO:
A pesquisa conclui que o professor tem mais possibilidades de permanecer na profissão quando busca (e encontra) na formação continuada respostas para suas inquietações profissionais. Ao refletirem sobre a sua prática e a de seus pares, os docentes entrevistados assumiram o papel de produtores de um conhecimento crítico e criativo que ratifica a sua opção profissional. Para além dos fatores conhecidos como condições de trabalho e salário, o caso estudado permitiu confirmar a hipótese de que a permanência do professor na profissão está vinculada a sua expectativa de intervenção na realidade à medida em que se reconhece como melhor preparado intelectualmente para formular críticas, propor mudanças e inovações. Em suma, a pesquisa permitiu concluir que a formação continuada deve contribuir para a aquisição de uma profissionalidade (ALTET et al, 2002) que promova no docente a dimensão do entendimento sobre seu trabalho na formação das pessoas e também de outros docentes. A profissionalização docente ainda é uma conquista em processo neste país. Em tempos de (re)significação de práticas e da religação dos saberes (MORIN, 2007), é oportuno dar conhecimento e incentivo a propostas de formação inicial e continuada que considerem o docente como sujeito do conhecimento, detentor de um saber específico que se constrói na prática e se concretiza na articulação desta com a teoria produzida em experiências reais de ensino-aprendizagem como aquela em que esta pesquisa foi realizada.
Palavras-chave: Formação Continuada, Conhecimento, Ensino-aprendizagem.