63ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais
AVALIAÇÃO DO PADRÃO ALIMENTAR DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLAS RESIDENTE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL,BRASIL
Márcia Cançado Figueiredo 1
Katia Valença Correia Leandro da Silva 2
Cristina Maria Silveira Boaz 1
Fabiana Kapper Fabricio 1
Caroline Maria Bonacina 1
Viviane Martinez Marset 1
1. Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS
2. Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS
INTRODUÇÃO:
A comunidade estudada ocupa o território de Palmares do Sul no Estado do Rio Grande do Sul desde o século XVIII, e atualmente, luta pelo reconhecimento e titulações de suas terras e pela continuidade de seus costumes centenários, incluso dentre estes, a manutenção do padrão alimentar. É sabido que muito mais que um ato biológico, a alimentação humana é um ato social e cultural. A importância da alimentação não se restringe apenas ao aspecto nutricional uma vez que entre outros fatores igualmente significativos está a cultura alimentar. A partilha dos alimentos, também denominada comensalidade, é pratica característica do homo sapiens, desde os tempos de caça e coleta e que o comportamento alimentar do homem não se diferenciou do biológico apenas pela invenção da cozinha, mas também pela função social das refeições que a comunidade estudada procura preservar. Poucos são conhecidos os costumes e o tipo de alimento ingerido pela comunidade quilombola.
METODOLOGIA:
Durante um mutirão de saúde, nesta comunidade, que contou com alunos, docentes, técnicos administrativos de diferentes Faculdades da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a população foi convidada a responder um questionário padronizado, que continha questões sobre o padrão alimentar enfocando a saúde geral , renda familiar e escolaridade. Para ser abrangente a todos os que estavam respondendo o questionário, utilizou-se de uma linguagem simples, não mencionando a pirâmide dos alimentos e o título de suas divisões, mas sim os alimentos que cada divisão continha. Assim sendo, a divisão “grãos”, estava presente na pergunta como a opção “pães, arroz e massa”, “vegetais” estava presente como “verduras”, “frutas” continuou com o mesmo título por ser de fácil compreensão, o grupo “lacticínios” se transformou em “leite, queijo e iogurte” e a última divisão foi colocada como “carne, feijão”. Foram colocados a opções de resposta sendo “fritura” e outra, “balas e doces”.Além dos alimentos, foi dada uma atenção especial aos líquidos ingeridos pelos quilombolas, pois muitas vezes é ignorado em pesquisas nutricionais o que as pessoas ingerem de líquidos, dando ênfase somente aos alimentos. Este foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da SMSPOA,sob o núm. 001.004589.10.6,de 03/02/2010.
RESULTADOS:
Quanto a característica da população estudada, que é essencialmente velha: a renda familiar 61,4% vivem com 1 a 3 mínimos e 38,5% com menos de 1 salário mínimo. Quanto a escolaridade, 50% possuem 1º grau incompleto e não apareceu nenhuma titulação maior que o segundo grau completo O alimentos mais prevalentes foram o arroz, pães e massas (grupo grãos), com 30%, seguido do feijão, carne e nozes, com 28,75%. Os vegetais seguem em 3o lugar (16,25%). Já quanto ao consumo de líquidos, o mais consumido foi a água, seguido de suco. O consumo de chimarrão, superou os 17%.O refrigerante representa 5,24%. Quanto a frequência alimentar, 26 pessoas alimentam-se 4 X por dia, e 27 alimentam-se 3X por dia. Nas famílias, 84,3% relata valer-se de lanches durante o dia, sendo que destes 34,2% fazem 2 lanches por dia e 31,4% o fazem 1X por dia. O alimento mais prevalente no consumo entre refeições foram as bolachas, com 31,4%.Na questão se apresentavam alguma doença cardíaca, pressão alta, obesidade ou diabetes: 77 pessoas, das 83 entrevistadas, responderam que sim, existe em sua residência alguém que possui alguma das patologias citadas acima. O quadro de pressão arterial elevada apareceu em 21 pessoas, seguida por 13 pessoas diabéticas, 4 com algum tipo de doença cardíaca, e 3 com obesidade.
CONCLUSÃO:
Conclui-se que a comunidade não apresenta uma alimentação adequada pois sua base alimentar é sustentada por apenas 2 divisões da pirâmide alimentar e, os principais alimentos consumidos por eles não são tão prejudiciais a saúde, pois são basicamente arroz, feijão, carne e massa. Eles não conseguem suprir totalmente as necessidades do organismo humano e algumas doenças crônico-degenerativas foram constatadas. É necessário a adaptação do padrão alimentar aceitável para o cotidiano dos quilombolas.
Palavras-chave: Quilombolas, Padrão alimentar, Saúde.