63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
O COMPORTAMENTO MIDIÁTICO E AS APROPRIAÇÕES DE LINGUAGENS E GÊNEROS NOS PROGRAMAS ELEITORAIS E TELEJORNALÍSTICOS
Ana Flávia Pereira Ventura 1
Bianca Damas Pereira 1
Bruno Menezes Andrade Guimarães 1
Cristiano Silveira Pires 1
Fábio Farias Moura 1
Soraya Maria Ferreira Vieira 2
1. Estudante do quinto período do curso de Comunicação Social - UFV
2. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de Comunicação Social - UFV
INTRODUÇÃO:
A pesquisa “O Comportamento Midiático e a Apropriação de Linguagens e Gêneros nos Programas Eleitorais e Telejornalísticos” consisite na comparação de dois gêneros televisuais distintos: o telejornal e o horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE). Os objetivos principais foram verificar se: houve a coincidência entre os temas abordados nesses gêneros; a apropriação de linguagem (utilizando o conceito semiótico, segundo o qual a linguagem engloba tanto a escrita e a oralidade quanto todo o conjunto de aspectos verbais ou não-verbais que caracterizam um gênero, formato ou unidade discursiva); além de entender como e até que ponto esses gêneros dialogavam entre si.
O trabalho desenvolvido teve como foco a observação dos seguintes telejornais: Jornal da Band (JB), da emissora Bandeirantes; o Jornal Nacional (JN), da rede Globo; e o Jornal da Record (JR), da Record. Bem como, dos HGPE’s veiculados no período da noite, dos então candidatos majoritários à presidência da república em 2010: Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores – PT) e José Serra (Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB).
Desta forma, a relevância do trabalho reside na ampliação dos conhecimentos sobre o comportamento midiático, especialmente, nesse momento de importância histórica para o país.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi proposta pela profa Soraya Ma F. Vieira e desenvolvida em duas fases pelos alunos da disciplina “Comunicação, Linguagem e Tecnologia” (COM 481) de 17 de agosto a 31 de outubro e de 01 de novembro a 03 de dezembro (1o e 2o turnos) de 2010. Na 1a fase, de cunho quantitativo, houve o acompanhamento dos horários eleitorais e a divisão da turma em três grupos: Jornal da Band: Ana Flávia P. Ventura, Bianca Damas Pereira, Bruno M. A. Guimarães, Marco Túlio Câmara; Jornal Nacional: Cristiano S. Pires, Eduardo Nascimento Jr, Fábio Farias Moura, Thiago P. Soares; Jornal da Record: Fernanda Monteiro, Marília Cabral e Nízea Andrade Coelho. Além da elaboração de relatórios, tabelas e gráficos, quantificamos as escaladas, as chamadas de passagem de bloco, a quantidade de matérias (em cada bloco do telejornal, no total veiculado no programa e durante o 1o e 2º turnos da campanha eleitoral), etc. Também observamos as características da imagem, bem como os elementos de “campanha”, “metacampanha” e “pontuação” (Afonso Albuquerque,1989).
Na 2a fase, de caráter qualitativo, ocorreu a análise desses dados, fundamentada pelos conceitos de gênero bahktiniano, hibridismo de linguagem, interlocução, discurso, dialogismo e monologismo, entre outros, e a elaboração de artigos acadêmicos.
RESULTADOS:
A apropriação de formatos e linguagem telejornalística pelos HGPE’s foi mais evidente no programa de Dilma Rousseff e caracterizou-se pelo uso de apresentadores, estética e vestimentas parecidas com as normalmente usadas no jornal, além do uso da função fática, da divisão de blocos e enquadramentos de câmera semelhantes, com o foco no contato visual entre candidato e telespectador/eleitor. Esse foco é uma tentativa de configuração da interlocutoriedade, ou seja, a criação da sensação de proximidade entre candidato e eleitor, um diálogo (Tilburg, 1996). O objetivo é naturalizar o discurso político de cada um dos presidenciáveis para aumentar a sua credibilidade e confiabilidade, construindo-se “teias de facticidade” (Afonso Albuquerque, 1989). Quanto aos jornais, houve posturas distintas. O JR, que tem uma linha editorial mais orientada para o apelo emocional e dramaticidade, manteve o foco no seu público-alvo heterogêneo e quase não apresentou matérias que coincidiam com os temas do HGPE, apesar de ter demonstrado um posicionamento favorável à candidatura petista. O JN apresentou posicionamento oposto, mantendo-se pró candidatura tucana, e dedicou tempo considerável do jornal para destacar escândalos políticos. Já o JB adotou uma postura mais neutra.
CONCLUSÃO:
A interlocutoriedade contribuiu para que houvesse maior identificação dos eleitores com a candidata Rousseff. Esse processo, se bem estruturado, pode tornar o discurso mais incisivo e propício a uma adesão considerável. Já entre os jornais, é possível classificá-los entre dialógicos (propõem o confronto discursivo-ideológico) e monológicos (fogem ao conflito, a prevalência de um posicionamento), dependendo do referencial. O JN pode ser visto como dialógico por propor o debate dos escândalos e ressaltar, no quadro de reportagens pelo Brasil, aspectos do país que a candidatura petista evitou mencionar. O mesmo rótulo se aplica ao JR, que destacou assuntos dos quais a campanha tucana esquivou-se. O JB, ao se isentar da apuração de notícias políticas polêmicas e replicar o que já havia repercutido no impresso (usando exemplares de jornais e revistas de grande influência e circulação nacional para noticiar o fato), eximiu-se desse confronto de ideias e mostrou-se monológico. Porém, entende-se que a dinâmica de dialogia/monologia é complexa. Pois, a mídia nacional em geral tendeu ao monologismo. Basta lembrar que o debate nas eleições foi, em síntese, a troca de acusações entre candidatos. A discussão de propostas para o desenvolvimento do país ocorreu, mas de forma muito sutil.
Palavras-chave: Linguagem, Mídia, Política.