63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
O ENSINO DE BOTÂNICA COMO ELEMENTO DE SOCIALIZAÇÃO NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Elizabeth Christina Rodrigues Bittencourt 1
1. Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo
2. Especialista em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo
3. Mestre em Ensino de Ciências pela Universidade Cruzeiro do Sul - UNICSUL
4. Professora de Biologia da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo
5. Professora de Ciências da Prefeitura do Município de São Paulo
6. Professora de Ensino Superior na Universidade Nove de Julho - UNINOVE
INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem como pano de fundo o ensino de Botânica na Educação Básica e seu desdobramento humanístico, a partir de observações colhidas em duas escolas públicas na cidade de São Paulo: uma estadual e outra municipal.
Para realizar este estudo, foi necessário o distanciamento entre os dois momentos de observação, e deles para o registro das atuais impressões, para evitar o envolvimento, aquele que afeta a subjetividade e prejudica uma análise objetiva do objeto de estudo (ROMÃO, 1998:29). Mais do que simplesmente discutir conteúdos ou metodologias de ensino, pretende oferecer considerações das atitudes que são desencadeadas nos alunos em algumas situações escolares e o reflexo em suas vidas.
É uma abordagem diferenciada, pois se refere às diferenças individuais existentes entre os alunos de uma classe, e a oportunidade de resgatar, entre os alunos mais calados e meticulosos, uma interação com os colegas, oportunizando reinserção no grupo social, garantindo assim novas oportunidades na continuidade dos estudos e também inserção no próprio mercado de trabalho. A educação científica será tratada, então, como “uma necessidade do desenvolvimento social e pessoal” dos alunos, e defende a formação científica a todos os partícipes do ambiente escolar (CAPACHUZ et al., 2005:37).
METODOLOGIA:
Num primeiro momento, no segundo bimestre letivo de 2006, foi proposto que os alunos de oito classes do Ensino Médio reelaborassem seus conhecimentos e fizessem pesquisas, a partir de um conjunto de imagens sobre Algas uni e pluricelulares organizado pela Professora. O trabalho que cada grupo de alunos entregou, em forma de relatório, foi ilustrado manualmente a partir das imagens disponibilizadas. Este material foi fotografado com câmara digital, e montada uma exposição interna na Sala de Informática para todos os alunos. O Projeto foi bem aceito, e passou a compor a Proposta Pedagógica da Escola como um de seus “Projetos Especiais” no ano seguinte.
Uma outra situação, bem diferenciada, foi vivida pela mesma Professora em 2010, envolvendo diretamente três classes de alunos de Ciclo II do Ensino Fundamental e indiretamente toda a escola. Por tratar-se de uma Escola recém-contruída, no início do segundo semestre letivo foram entregues mais de trezentas mudas de árvores para compor o entorno escolar. Aos alunos coube a incumbência de seu cuidado, regando as mudas para que vicejassem, A área interna dos canteiros da Escola foi dividida em “lotes”, sendo que os de fácil acesso eram cuidados pelas crianças do Ciclo I e as de difícil acesso pelas de Ciclo II do Ensino Fundamental.
RESULTADOS:
Alguns trabalhos entregues pelos alunos de Ensino Médio se destacaram dos demais por apresentarem uma qualidade de ilustração acima da média. Verificando a sua autoria, foi constatado que os alunos responsáveis pela produção das mesmas eram muitas vezes os alunos com maior dificuldade em assimilar os conteúdos formais oferecidos pelo livro didático e explicados pela Professora. Estes alunos, os mais calados e metódicos, é que assumiram a responsabilidade de produzir as ilustrações.
Nas três turmas diretamente monitoradas pela Professora, na Escola de Ensino Fundamental, o destaque no cuidado às mudas ficou associado aos alunos mais calados e com menor interatividade perante a classe. Durante as orientações, no início do Projeto, foram os mais interessados e participativos. Durante todo o período, foram os mais dedicados e sempre dispostos a colaborar, tendo assumido as tarefas mais simples com disposição e comprometimento.
Nos dois casos, os alunos mais destacados, além de serem aceitos por toda a classe, acabaram por ter seu trabalho reconhecido até mesmo pela Direção da Escola e por outros Professores, que antes haviam entendido estes alunos como “alheios e desinteressados”. Sua disposição se manifestou somente quando assumiram uma tarefa que realmente poderiam cumprir.
CONCLUSÃO:
Nesta “era da informática” é urgente resgatar uma visão humanista da Educação, voltando os olhos para os alunos que “estão à margem dessa nova ordem, como resultado mais nefasto do processo de globalização” (SILVA, 2009:48). A Agenda 21 invoca a necessidade de práticas ambientais sustentáveis (SEMA, 2008:68) e estas podem ser assumidas por alunos com maior dificuldade perante os conteúdos dos currículos oficiais. Assim, os Professores podem deixar a concepção de que o ensino é regido pelos conteúdos, passando a entender sua ação como algo mais estável e permanente, que é conduzir os seus alunos através da sua própria história de vida, cada um a seu modo e a seu tempo, até atingir “capacidade plena de sobrevivência e participação no meio social ao qual pertence” (GERALDO, 2009:15).
A causa de desatenção dos alunos deve ser motivo de observação dos Professores, para oferecer novas oportunidades de participação a todos em suas aulas. Com esta metodologia, o Professor não “deixa de fazer”, ou de dar uma boa aula, mas passa a oferecer, sem autoritarismo desnecessário, um conhecimento suficientemente bom ao alcance de todos. Isto irá promover seu envolvimento e interesse, originando pesquisas diferenciadas, de acordo com o real interesse de suas turmas. (CARVALHO; GIL-PEREZ, 2009:54).
Palavras-chave: Educação científica associada a Metodologia de Projetos, Uso de internet como mediadora entre Professor-Aluno, Pesquisas escolares/exposição de resultados com computadores.