63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
GESTORES E VISÃO DE MUNDO TECNOCRÁTICA NA ADMINISTRAÇÃO DO GOVERNO MAURO BORGES EM GOIÁS (1961 – 1964)
Tereza Cristina Pires Favaro 1
João Alberto da Costa Pinto 1,2
1. UFG
2. Prof. dr./orientador - Faculdade de História
INTRODUÇÃO:
O presente estudo analisa o modelo de gestão do Estado de Goiás adotado no governo Mauro Borges (1961–1964), ideologicamente centrado no planejamento e na ação estatal, conduzido por tecnocratas, com vistas a assegurar a inserção de Goiás ao capitalismo nacional. O objetivo é aprender as práticas históricas desses tecnocratas que conduziram o projeto desenvolvimentista - Plano de Desenvolvimento Econômico de Goiás - mediadas pela materialidade institucional da administração pública do Estado e a sua expressão societária de grupo ou de classe na caracterização de sua visão de mundo política.
Esse governo representa no imaginário político goiano o marco da modernização na recente história política de Goiás. As transformações ocorridas neste estado nos anos 30 tem no governo de Mauro Borges uma expressão maior do processo de mudança em que a racionalidade administrativa, articulada ao desenvolvimentismo, intenta sobrepor ao oligarquismo das administrações tradicionais que imperavam em Goiás; creditando a essa gestão uma referência singular, tanto para a história política de Goiás, como para os governos que se seguiram. Esses aspectos demarcam a relevância deste estudo e a sua contribuição para a historiografia de Goiás. Além de ser uma temática pouco investigada.
METODOLOGIA:
A construção deste estudo se processa a partir da realização de entrevistas com membros gestores do governo Mauro Borges para assegurar a caracterização tecnocrática da administração. A proposta é depreender desse movimento a construção de fontes-narrativas mediadas tecnicamente com os aportes da História Oral. Junto às fontes orais está sendo realizada uma análise da produção documental do cotidiano administrativo do governo (atas de reuniões do secretariado, instruções normativas, editais públicos, etc.). A intenção é apreender na processualidade interna das práticas de gestão, a coerência ideológico-institucional do projeto maior da política de Estado celebrado no Plano Mauro Borges, uma das fontes principais desta investigação. Os acervos para a pesquisa são: Jornal do Brasil/digitalizado (site http://news.google.com/newspapers); Arquivos Nacional/Rio de Janeiro e Histórico do Ministério das Relações Exteriores/Brasília; Bibliotecas da Pontifícia Universidade Católica e Universidades Federal de Goiás; Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea (FGV/CPDOC); Instituto Histórico e Geográfico de Goiás; Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central/ Sala Mauro Borges; Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento do Governo do Estado de Goiás.
RESULTADOS:
A adoção do Plano de Desenvolvimento Econômico de Goiás – Plano Mauro Borges, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (RJ), ao ser colocado em prática, expressou-se como uma crítica à ineficácia da forma tradicional de governar, propondo como solução o fortalecimento do papel de direção técnica do gestor, ou seja, respaldar o controle burocrático por meio da adoção de princípios modernizadores da gestão. Ao delinear as linhas de atuação, constituiu-se em instrumento valioso de propaganda do governo e de formação de uma nova cultura política balizada nas práticas do Planejamento.
Para Mauro Borges, utilizar desses mecanismos foi necessário para superar o cenário político administrativo, presente em Goiás, centrado no clientelismo e na barganha política. Em face disso, com um Executivo forte e centralizador, asseguraria uma estrutura social, política e econômica compatível com a ideologia desenvolvimentista, consequentemente à modernização e o progresso de Goiás. Com efeito, implícita neste modelo, de modo inconteste, a ação do poder público como indispensável e decisiva nas transformações econômicas do Estado, bem como dos tecnocratas, legitimando o controle burocrático para garantir a execução do programa econômico de aceleração modernizadora e autoritária do capitalismo em Goiás.
CONCLUSÃO:
O estudo aponta indícios que foram as práticas autoritárias da tecnocracia que consolidariam a modernização institucional do poder público do Estado de Goiás neste contexto. A autonomia tecnocrática sobrepunha-se às demandas específicas de classe e afirmava um modelo de gestão capitalista tecnocrática. Assim, a originalidade do Governo Mauro Borges estava em preservar uma fachada “neo-populista”, com um núcleo administrativo fortemente centralizado e a autoridade tecnocrática do Estado sob uma máscara democrático-popular. Nesses princípios estava centrada a convicção reformadora de Mauro Borges: transplantar para um estado periférico a experiência de planejamento e desenvolvimentismo, conduzida por uma elite intelectual detentora de conhecimento científico, com a prática de tratar as questões políticas e sociais de maneira eminentemente técnicas, engajada no que entendia ser um projeto de reformas que assegurasse aos interesses do estado de Goiás o bem-estar da coletividade.
Palavras-chave: Planejamento, Tecnocracia, Gestores.