63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
ESPECTRO DE DISPERSÃO EM QUATRO FITOFISIONOMIAS AO LONGO DE UM GRADIENTE ALTITUDINAL NA MATA ATLÂNTICA DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR.
Lara Priscila Domingues Cazotto 1
Valéria Forni Martins 2
Flavio Antonio Maës dos Santos 3
1. Graduação em Ciências Biológicas, Instituto de Biologia, UNICAMP.
2. Pós-graduação em Ecologia, Instituto de Biologia, UNICAMP.
3. Orientador – Departamento de Biologia Vegetal, UNICAMP.
INTRODUÇÃO:
As síndromes de dispersão apresentam diferenças no detalhamento da morfologia dos diásporos e uma maior ou menor especificidade do dispersor. Em uma comunidade, a proporção de espécies vegetais com diferentes síndromes é conhecida como espectro de dispersão, que pode resultar de distintas pressões seletivas. Assim, se as pressões sobre as estratégias de dispersão forem mais fortes do que as que atuam sobre outros aspectos de vida de cada espécie de planta, diferentes fitofisionomias devem apresentar distintos espectros. Entretanto, os estudos que analisam o espectro não consideram as diferenças no detalhamento da morfologia dos diásporos. Nosso objetivo foi identificar as síndromes das espécies arbóreas e comparar os espectros de dispersão de quatro fitofisionomias ao longo de um gradiente altitudinal do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM). As síndromes foram classificadas hierarquicamente e, para a ornitocoria, criamos quatro grupos baseados na morfologia dos diásporos, os quais acreditamos que estejam relacionados a diferentes formas de dispersão.
METODOLOGIA:
Este estudo foi conduzido em dois Núcleos do PESM, a maior porção contínua preservada de Mata Atlântica do Brasil. No Núcleo Picinguaba (23°31' - 23°34' S, 45°02' - 45°05' W), coletamos dados na Restinga (até 50 m de altitude), Floresta Ombrófila Densa (FOD) de Terras Baixas (entre 50 m e 100 m) e FOD Submontana (entre 100 m e 500 m). No Núcleo Santa Virgínia (23°17' - 23°24' S, 45°03' - 45°11' W), coletamos dados na FOD Montana (entre 500 m e 1.200 m de altitude). Em 1 ha de cada fitofisionomia, foram coletados e identificados todos os indivíduos arbóreos vivos (incluindo palmeiras) com perímetro à altura do peito igual ou maior a 15 cm. Nós elaboramos um diagrama, estabelecendo a hierarquização das síndromes, e um protocolo para sua identificação. Os grupos estabelecidos dentro da ornitocoria basearam-se nas seguintes características dos diásporos: (a) presença de arilo carnoso, sarcotesta ou estruturas arilóides na semente; (b) presença de coloração que imita estruturas carnosas externas à semente ou aspecto suculento, e (c) número de sementes e tamanho relativo das mesmas em relação ao fruto carnoso. Nós utilizamos testes de qui-quadrado para comparar a frequência das síndromes entre as fitofisionomias.
RESULTADOS:
O espectro de dispersão não diferiu entre as fitofisionomias ao longo do gradiente altitudinal. Em todas as fitofisionomias, a zoocoria foi a síndrome com maior número de espécies e, dentre as zoocóricas, a maioria era ornitocórica. Possivelmente, a alta proporção de espécies zoocóricas está relacionada à alta pluviosidade e à grande abundância de vertebrados frugívoros, em específico de aves (importantes dispersores), nas florestas tropicais. A maior parte das espécies ornitocóricas encontradas no PESM possui drupósporos (diásporos com uma ou poucas sementes relativamente grandes em relação ao fruto), de forma que sua dispersão efetiva só pode ser realizada por aves maiores, capazes de engolir o fruto inteiro. Desta forma, o tamanho e o comportamento das aves presentes na região devem influenciar diretamente o sucesso dos indivíduos parentais em deixarem descendentes nas fitofisionomias. Dentre as espécies mamalocóricas, a maior parte é dispersa por primatas. Por serem animais grandes, eles podem carregar os diásporos a distâncias maiores das plantas parentais, beneficiando as mesmas por propiciarem escape da mortalidade devido a competição, predação e infestação por patógenos, ou por permitirem a colonização de novos habitats.
CONCLUSÃO:
Este estudo mostra que não há diferença no espectro de dispersão de diferentes fitofisionomias ao longo do um gradiente altitudinal da Mata Atlântica no PESM. Isto indica que, provavelmente, as pressões seletivas sobre as estratégias de dispersão resultantes dos fatores que variam com a altitude não são mais fortes do que as pressões sobre os outros aspectos de vida de cada espécie de planta na área de estudo. A grande ocorrência de síndromes zoocóricas indica que os animais frugívoros, principalmente as aves, devem ser muito importantes para a manutenção das comunidades de Mata Atlântica.
Palavras-chave: Espécies arbóreas, Ornitocoria, Síndromes de dispersão de diásporos.