63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança |
LEVANTAMENTO HISTÓRICO E ANÁLISE TÉCNICA DA FLAUTA JAPONESA SHAKUHACHI |
Rafael Hirochi Fuchigami 1 Eduardo Augusto Ostergren 2 |
1. Depto.de Música - Instituto de Artes - UNICAMP 2. Prof. Dr. /Orientador - Depto.de Música - UNICAMP |
INTRODUÇÃO: |
O shakuhachi teve suas origens na China e foi introduzido no Japão no século VII. A princípio fez parte da música da corte e posteriormente surgiram monges mendicantes tocando essa flauta. No Período Edo (1600-1868) ocorreram mudanças em sua construção, passou a ser fabricada a partir da raiz do bambu e a ter comprimento e diâmetro maiores. O shakuhachi foi monopolizado pelos monges komuso da seita budista Fuke e tornou-se uma prática religiosa. Com a dissolução da seita no início da Era Meiji (1868-1912) surgiram várias escolas e estilos (ryu) de tocar shakuhachi. A flauta se particulariza por sua sonoridade rica em harmônicos e por produzir efeitos sonoros específicos como, por exemplo, o muraiki (explosão de ar) e meri kari (descer/subir a afinação). Atualmente existem tocadores e apreciadores de shakuhachi em todo o mundo, inclusive no Brasil. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das informações sobre a história, funcionamento, repertório e a atual relevância do shakuhachi. A importância desta pesquisa está na criação de uma abrangente fonte de informações, bem como um registro das atividades em torno desse instrumento realizadas no Brasil. |
METODOLOGIA: |
Por meio de levantamento bibliográfico discutimos detalhadamente a história do shakuhachi, desde suas origens remotas até sua atual difusão pelo mundo, analisando as características do instrumento em termos estruturais (materiais utilizados na fabricação, medidas e variações de modelos) e também a dinâmica do seu funcionamento (afinação, qualidade e âmbito das notas e efeitos sonoros). Além disso, adentramos no universo musical do shakuhachi obtendo informações sobre o repertório e a utilização dessa flauta ao longo de sua existência e no atual contexto. Concomitantemente realizamos um intenso trabalho de campo, que consistiu na participação em concertos, palestras, workshops e entrevistas a tocadores brasileiros e japoneses de shakuhachi, representantes de todos os estilos praticados no Brasil, abordando assuntos como: 1. as principais escolas, professores e características da música tradicional japonesa, existentes em nosso país; 2. as influências da música japonesa no repertório da música ocidental; 3. os estilos e gêneros que utilizam o shakuhachi atualmente; 4. notação e teoria musical; 5. repertório honkyoku e 6. os aspectos religiosos e sócio-culturais do shakuhachi. |
RESULTADOS: |
Ao traçamos o panorama histórico do shakuhachi notamos que seu desenvolvimento e difusão são completamente distintos, pois essa flauta foi utilizada como instrumento artístico, ferramenta religiosa e também como arma de combate. Analisando o funcionamento e as características físicas, concluímos que o shakuhachi detém particularidades que o diferenciam das demais flautas. O bambu utilizado na fabricação deve ser o madake (Phyllostachys bambusoides) e o corte chanfrado do bocal precisa obedecer as proporções corretas, a fim de obter a sonoridade ideal. Com apenas cinco orifícios é possível produzir as doze notas cromáticas, em mais de duas oitavas. Possui uma sonoridade rica em harmônicos, conferindo ao som e ao contorno melódico uma cor especial, além de produzir efeitos sonoros específicos e uma rica ornamentação, com a coluna de ar, posição de dedos e movimentos de cabeça. O repertório honkyoku é permeado por uma profunda espiritualidade, e a tradição dos monges komuso influencia os interpretes até os dias atuais. Durante as pesquisas de campo, reunimos informações relevantes a respeito das atividades desenvolvidas no Brasil envolvendo mestres tocadores, compositores, professores, fabricantes e associações que divulgam o shakuhachi. |
CONCLUSÃO: |
Atualmente o shakuhachi está presente em diversas formas de música, incluindo a música clássica, popular, ocidental, oriental, jazz, música folclórica e eletrônica. Existem pessoas utilizando a flauta de bambu como prática meditativa, explorando a espiritualidade com o instrumento, enquanto outras apenas fazem arte. Esses aspectos demonstram a versatilidade dessa flauta, que sobreviveu a uma história milenar e não se restringiu às terras japonesas, pois existem nos dias de hoje tocadores em todo o mundo. No Brasil existem tocadores representantes dos estilos Kinko, Tozan e Dokyoku, e difusores da música folclórica minyo, residentes em sua maioria na grande São Paulo, como também em cidades do interior, por exemplo, Campinas e em outros estados, como o do Rio Grande do Sul. Concluímos que o shakuhachi criou raízes no Brasil, não ficando confinado nas colônias japonesas, disseminando-se entre músicos e apreciadores brasileiros. Certamente o shakuhachi, tão antigo e tradicional, detém um potencial inovador nesse novo contexto no qual está inserido, em solo brasileiro. Durante nossa pesquisa, não encontramos nenhum trabalho acadêmico específico sobre o shakuhachi desenvolvido no Brasil. |
Palavras-chave: Música Japonesa, Flauta, Shakuhachi. |