63ª Reunião Anual da SBPC |
E. Ciências Agrárias - 7. Ciência e Tecnologia de Alimentos - 1. Ciência de Alimentos |
IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE ÁCIDO CIANÍDRICO EM SEMENTES DE FRUTOS DO CERRADO |
Luane Ferreira Garcia 1 Luann Guilherme Vieira dos Reis 1 Armando Garcia Rodriguez 2 |
1. Curso de Biotecnologia - UFG 2. Orientador - Depto. de Bioquímica e Biologia Molecular/ICB - UFG |
INTRODUÇÃO: |
O Cerrado brasileiro é rico em uma grande variedade de frutas, geralmente consumidas in natura. Nos últimos anos começaram a ser comercializados derivados como sorvetes, doces, licores e outros, apreciados pela população local e pelos turistas, constituindo uma importante fonte de renda para as pequenas empresas, apresentando potencialidades para a expansão e para a exportação. O valor nutricional das frutas do Cerrado e seus derivados tem sido caracterizado em muitas pesquisas, no entanto, outros aspectos importantes como a presença de compostos tóxicos não são comumente abordados nesses estudos. O ácido cianídrico (HCN) é uma das toxinas naturais mais comumente relacionadas com as frutas, sendo encontrado principalmente no interior das sementes e castanhas. O risco de intoxicação é quase inexistente quando as frutas são consumidas in natura, mas aumenta significativamente nos derivados industrializados, onde as sementes e caroços podem ser danificados pelo despolpe automático. O objetivo deste trabalho foi montar e aplicar testes analíticos específicos para a detecção de HCN em sementes de frutos do Cerrado, como método complementar ao bioensaio com Artemia salina, que têm a vantagem de detectar a presença de qualquer composto tóxico ao qual o organismo utilizado seja sensível. |
METODOLOGIA: |
Foram testadas duas técnicas analíticas para a detecção do HCN em sementes de frutas dos Cerrado: (araticum, cagaita, mangaba, siriguela, jatobá) que mostraram toxicidade em experimentos prévios com o bioensaio com Artemia salina. Teste de Guignard: A técnica é baseada na formação do isopurpurato alcalino, a partir da reação do ácido cianídrico com o picrato de sódio. 2 g de castanhas trituradas foram colocados em um erlenmeyer junto com 10 mL de água destilada. Uma tira de papel de filtro de 1 cm de largura, previamente umedecida com uma solução de ácido pícrico 1% e seguidamente, com Na2CO3 é colocada no interior do erlenmeyer, segurada pela tampa e suspensa encima da amostra, sem entrar em contato direto com a mesma. O aparecimento de uma cor vermelha intensa no papel de filtro indica a presença de cianeto. Reação do Azul da Prússia: A técnica é baseada a formação do íon complexo de ferrocianeto férrico a partir da reação do ácido cianídrico com o cloreto e o sulfato de ferro. 2 mL de extrato tóxico foram colocados em um béquer de 100 mL e seguidamente foram acrescentadas 5 gotas de NaOH 10%, 5 gotas de FeSO4 10%, 1 gota de FeCl3 9% e 10 gotas de HCl diluído. Após agitar essa mistura, o aparecimento de uma cor azul intensa indica a presença de cianeto. |
RESULTADOS: |
As sementes de araticum, cagaita, jatobá, mangaba e siriguela apresentaram uma elevada toxicidade nos cultivos de Artemia salina, e curvas dose – resposta com declividades semelhantes à apresentada pela curva obtida com o padrão de cianeto de potássio puro. A partir das curvas foram calculados os valores de DL50. As castanhas de cajá-manga, tarumâ e veludo não apresentaram toxicidade. Esses resultados sugeririam a presença de cianeto em todas as amostras tóxicas, mas em algumas como o araticum, a toxicidade foi maior do que a apresentada com o padrão, sugerindo a presença de outras toxinas além do cianeto. O teste de Guignard apresentou uma elevada eficiência e sensibilidade na detecção de HCN, comprovando a presença do mesmo nas sementes de cagaita e mangaba, mas sendo negativo para araticum, jatobá e siriguela. A presença de outras toxinas (acetogeninas) foi descrita em sementes de frutas do gênero Annona e podem ser as substâncias responsáveis pela alta toxicidade das sementes de araticum. Estudos posteriores deverão ser realizados para identificar as toxinas presentes nas sementes de jatobá e siriguela. O teste do Azul da Prússia mostrou-se deficiente para a detecção de HCN, provavelmente devido à presença de interferentes, como outros sais de ferro e cianetos nas sementes. |
CONCLUSÃO: |
O ácido cianídrico foi eficientemente detectado mediante o teste de Guignard nas amostras de cagaita e mangaba. O teste do Azul da Prússia apresentou uma baixa eficiência na detecção de cianeto nas amostras tóxicas. A toxicidade observada nas sementes de araticum, jatobá e siriguela não é devida à presença de ácido cianídrico, sendo as acetogeninas os compostos mais prováveis no araticum. Os resultados obtidos podem ser importantes para o desenvolvimento de medidas preventivas de segurança alimentar a serem incluídas nos procedimentos de fabricação de derivados industrializados das frutas estudadas. |
Palavras-chave: cianeto, castanhas, análise química. |