63ª Reunião Anual da SBPC

C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 6. Genética

AUSÊNCIA DE ATIVIDADE GENOTÓXICA DO Chenopodium ambrosioides L. (ERVA-DE-SANTA-MARIA), POR MEIO DO TESTE SMART, EM Drosophila melanogaster .

Neila Coelho de Sousa 1 Mário Antônio Spanó 2

1. Profa. Dra. - Departamento de Ciênicas Biológicas, Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão – UFG/CAC 2. Prof. Dr. - Laboratório de Mutagênese, Universidade Federal de Uberlândia – UFU

INTRODUÇÃO:

No Brasil, há várias décadas, existe a crença popular de que chás ou remédios de plantas, “se não fizerem bem, mal também não fazem”. O Chenopodium ambrosioides (Ca), da Familia Chenopodiaceae, conhecido como erva-de-santa-maria, mastruz, mastruço, quenopódio e ambrósia, é largamente utilizado para várias enfermidades, principalmente como anti-helmíntico, controle de artrópodes e pragas domésticas e alívio da dor de barriga e da gripe. Sua ampla utilização deve-se à presença de elevados teores de ascaridol nas sementes, nas folhas e no caule (seu óleo essencial possui 90% de ascaridol). As pesquisas científicas realizadas com plantas utilizadas na medicina tradicional, a partir de misturas, extratos ou substâncias isoladas, têm obtido informações muito importantes com relação aos possíveis efeitos colaterais de tais medicamentos naturais, que devem ser levadas em consideração no momento da sua utilização. Sabemos que a correlação entre mutagênese e carcinogênese é alta e, por isso, um estudo sobre a toxicidade genética de plantas medicinais se faz necessário. Assim, a intenção deste trabalho foi obter esclarecimentos sobre o potencial genotóxico da planta referida, por meio do teste de mutação e recombinação somática - SMART (asa).

METODOLOGIA:

Neste trabalho foi investigada a genotoxicidade do Ca empregando o SMART, o qual utiliza como organismo experimental a mosca das frutas Drosophila melanogaster às quais são analisadas quanto aos pêlos mutantes de suas asas. Esse teste fornece resultados de eventos mutacionais ocorridos, como mutações gênicas e cromossômicas e recombinações somáticas, quantifica a contribuição da recombinação de compostos em estudo e detecta compostos genotóxicos de ação direta ou indireta, de acordo com o nível basal ou alto de enzimas de metabolização do tipo citocromo P450, respectivamente. No caso, para a realização do teste foi utilizado o cruzamento padrão (ST) de nível basal de ativação metabólica, no qual fêmeas virgens da linhagem “flr; flr³/TM3, BdS” foram cruzadas com machos “mwh”. Larvas de terceiro estádio de desenvolvimento (72 h), obtidas deste cruzamento, foram tratadas com as concentrações (10; 20 e 40 p/p) de Ca (caule, folhas e flores, desidratados e triturados); água ultra-pura, foi usada como controle negativo e o cloridrato de doxorrubicina (DXR) na concentração de 0,125 mg.mL-1, como controle positivo. As frequências de cada tipo de clone mutante foram comparadas ao controle negativo.

RESULTADOS:

Foram analisadas 20 moscas (40 asas) por tratamento, por controle com água e DXR. As frequências de eventos genotóxicos observadas nas três diferentes concentrações tratadas com Ca, no que se refere ao total de manchas analisadas, não foram significativas, quando comparadas com o controle negativo. O controle com DXR apresentou resultado positivo, indicando a eficácia do teste. Testes de genotoxicidade são de grande valia para a avaliação de compostos ou substâncias mutagênicas e/ou recombinogênicas às quais podem desencadear um processo cancerígeno. O SMART é um teste rápido, in vivo e oferece resultados de vários eventos genéticos, além de utilizar a D. melanogaster, que, devido ao seu mecanismo de metabolização, seus resultados podem ser extrapolados para o homem com índice de mais de 90% de acerto. No Brasil, essa espécie tem ampla distribuição e é muito utilizada na medicina popular em chás e infusões e, até, ingestão direta. Vários casos já foram relatados de intoxicação pela planta. Porém, muitos produtos botânicos são comercializados no mundo inteiro sem serem submetidos ao processo de regulamentação, aos quais dados de segurança e eficácia são requeridos.

CONCLUSÃO:

Os resultados sugerem que, nestas condições experimentais, o Chenopodium ambrosioides não apresentou atividade genotóxica em eventos de mutações gênica e cromossômica e recombinação somática de ação direta. Esses resultados podem servir como fonte de pesquisa interdisciplinar para fins de comercialização e uso seguro para a população. Contudo, outros experimentos estão sendo realizados para a verificação de eventos de ação indireta e de avaliação da atividade antigenotóxica, também, por meio do teste de mutação e recombinação somática com Drosophila melanogaster.

Palavras-chave: Chenopodium ambrosioides, Genotoxicidade, Drosophila melanogaster.