63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 4. Antropologia Rural
GÊNERO E RURALIDADE: ENTRE A CASA E A MILITÂNCIA
Neuri Eliezer Senger 1
Juliano Luis Borges 2
1. Professor de Educação Básica - Prefeitura de Tangará da Serra-MT
2. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
INTRODUÇÃO:
A busca da qualidade do estatuto da mulher rural e caminhos para melhorar as condições de vida e inserção social apontam para organização coletiva como alternativa de mudança. A imagem da mulher inserida em movimentos sociais do campo é fortemente marcada por concepções de projeto político. Nesse sentido, a mulher é pensada a partir se seu papel como sujeito político. A busca por melhores condições de vida conjuntamente aos homens não implica em igualdade de relações sociais de gênero. A construção da identidade feminina, pela necessidade de transformá-la em sujeito coletivo, não se traduz no rompimento dos papéis socialmente atribuídos de mãe e esposa. Mesmo com mobilização política e intensificação das práticas organizativas nos embates com as elites agrárias e o Estado, a lógica de dominação masculina e a reprodução das relações tradicionais prevalecem após esses sujeitos se tornarem assentados. Nesse contexto, este trabalho visa analisar a relação entre o espaço doméstico e o espaço político de mulheres ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Assentamento Antônio Conselheiro, em Tangará da Serra-MT.
METODOLOGIA:
O trabalho empírico do pesquisador pode ser conduzido por dois instrumentos de comunicação fundamentais: depoimento e história de vida. Na história de vida, o narrador quem conduz o relato de forma aberta e livre, destacando as passagens que julga relevante no tema anteriormente destacado. No depoimento, o pesquisador conduz diretamente a entrevista, de forma a direcionar a fala para o tema de sua análise. No estudo realizado no assentamento, foram utilizados os dois instrumentos. Primeiramente, a história de vida; depois depoimentos sobre fatos que não ficaram claros no momento anterior. No diário de campo, ferramenta importante de pesquisa social, foram anotados detalhes cotidianos nos lotes visitados. Foram entrevistadas 10 mulheres e visitadas 2 famílias para uma observação não participante de suas atividades semanais. As atividades domésticas e as reuniões com lideranças locais do MST formam um conjunto de informações significativo para entender a identidade em formação das mulheres.
RESULTADOS:
Nos movimentos sociais as mulheres possuem papéis políticos importantes. Nas mobilizações, ocupações e embates enfrentam seus opositores forma relativamente equilibrada com os homens. Nos acampamentos esse equilíbrio começa a se dissipar. Na situação de dificuldade os homens se prontificam a ajudar em todas as tarefas designadas pela coordenação, entretanto tarefas tradicionalmente femininas (limpeza, comida, crianças, etc.) continuam sob suas responsabilidades. Com a conquista do assentamento a divisão sexual de papéis retorna de forma mais clara. No interior do espaço doméstico predomina a hierarquia familiar, o poder, a autoridade e a divisão do trabalho. O aspecto reprodutivo e o universo dos valores femininos estão imersos nessa lógica, ou seja, continuam desvalorizados. No âmbito político, o valor atribuído à identidade social e ao papel político das mulheres rurais é bastante diferenciado. Nas mobilizações ou reuniões com o grupo ligado ao MST, as mulheres entrevistadas e acompanhadas discutem propostas, participam do planejamento, além de ocuparem funções políticas que subordinam outros homens. Em suma, as mulheres possuem uma identidade em construção, como militantes e líderes políticos locais, em conflito constante com o papel desempenhado no espaço doméstico.
CONCLUSÃO:
No Assentamento Antônio Conselheiro existe uma relação de desigualdade entre o homem e a mulher; e a manutenção da dominação e subordinação sobre as mulheres na sua vida familiar. A inserção como militantes em movimentos sociais transforma substancialmente as relações de gênero. A identidade construída no espaço doméstico aparece de forma conflituosa, mas inseparável da identidade política. Assim, a mulher tenta romper a subordinação em que é submetida. Dentro da lógica de dominação masculina a mulher busca seu espaço, procurando romper sua condição submissa, provando sua importância nos âmbitos político e familiar.
Palavras-chave: Gênero, Espaço doméstico, Espaço político.