63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS (ABP) COM BASE NO USO DE ANALOGIAS E METÁFORAS: UMA ANÁLISE DAS AÇÕES REALIZADAS EM UM CURSO DE FÉRIAS EM CASTANHAL (PA)
Moisés David das Neves 1, 2
João Manoel da Silva Malheiro 3, 4
1. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática/UFPA
2. Prof. da Secretaria de Estado de Educação do Pará
3. Prof. Dr. da Faculdade de Pedagogia – UFPA/Castanhal
4. Prof.Dr./Orientador- Prog.Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática/UFPA
INTRODUÇÃO:
A Aprendizagem Baseada em Problemas é uma metodologia de ensino bastante conhecida, principalmente na área médica (MORAES; MANZINI, 2006), embora já tenha extrapolado esses limites de atuação. Essa “revolução”, que atinge faculdades no mundo todo, vem transformando o modo como os estudantes lidam com o conhecimento. O objeto deste estudo foram dois cursos de férias realizados em Castanhal-PA para professores e alunos do ensino médio. Após as videogravações dos momentos em que os cursistas apresentavam para o auditório a forma como os problemas foram investigados, fizemos as transcrições de suas falas com o objetivo de analisar o uso de analogias e metáforas e sua contribuição para a construção e/ou reconstrução do conhecimento. Pesquisas apontam que a utilização das analogias e metáforas nos discursos docentes nas aulas de Ciências promove o entendimento do que não é familiar para os alunos a partir do que é comumente conhecido (BOZELLI e NARDI, 2004). Nosso estudo comprovou que a maioria dos sujeitos utilizou analogias e metáforas em seus discursos. A relevância deste trabalho reside na confirmação do uso e importância dessas ferramentas para a superação de uma dificuldade imediata do cursista ao lidar com um domínio conceitual ainda não familiar.
METODOLOGIA:
O curso de férias "Forma, Função e Estilo de Vida dos Animais" foi destinado a quinze professores de biologia, química, física e matemática e 30 alunos do ensino médio e teve como metodologia a ABP com base no trabalho experimental investigativo. A metodologia utilizada é qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994), pois não foi utilizado tratamento estatístico na análise. Através de videogravações, capturamos som/imagem e transcrevemos para a análise as socializações sobre os problemas investigados. Ao analisarmos as transcrições, procuramos perceber de que forma os participantes utilizaram analogias/metáforas durante suas argumentações acerca dos caminhos percorridos por eles para a resolução do problema. Neste caso específico, através da análise das falas, percebemos a utilização de analogias e metáforas para construção de suas perguntas, hipóteses, experimentos e conclusões, numa transposição de um domínio conceitual não familiar para outro mais familiar (TERRAZAN, 1994 apud BOZELLI e NARDI, 2004).
RESULTADOS:
Segundo Malheiro (2005), o método ABP foi desenhado para determinar nos envolvidos [...] a capacidade de pensar sobre os problemas [...] e as possíveis ferramentas que serão utilizadas para resolvê-los. Como o curso de férias segue este método, os cursistas são estimulados a construir perguntas, hipóteses, desenho experimental e conclusões ignorando inicialmente conceitos que eles próprios não tenham participado da sua construção, como os adquiridos em sua formação escolar, livros, atlas, internet e outros. “Eu não vi, eu não sei” é o ponto de partida para romper e construir novos paradigmas, estimulando a curiosidade científica. Por isso, para descrever situações observadas durante os experimentos sem utilizar conceitos “não familiares”, o uso de analogias e metáforas mostrou-se ferramenta útil. Por exemplo, dois grupos que trabalharam com experimentos ligados à anatomia do sistema locomotor descreveram tendão, nervo e vaso da seguinte forma: “dissecou-se esse macaco formolizado e observou-se que existia uma cordinha com aspecto brilhoso e esbranquiçado”; “aí a gente viu um fio branco”; “Havia três tipos de fio [...] O segundo fio [...] parecia um caninho, tipo um canudo”. Como podemos constatar a utilização de analogias/metáforas foi uma constante no decorrer do curso.
CONCLUSÃO:
As transcrições/análises confirmam que as analogias/metáforas funcionam como uma importante ferramenta na ABP. Os cursistas, apesar de não conhecerem previamente os resultados, perceberam que as situações observadas lhes eram familiares, pois em algum momento de suas escolarizações já haviam estudado sobre as temáticas investigadas no curso, apenas não lembravam o nome científico, momento em que lançaram mão do uso de analogias/metáforas. Com isso, concluímos que a relevância da utilização das analogias e metáforas reside no fato de suprir uma necessidade do cursista para compreender fenômenos desconhecidos através do emprego de analogias em áreas que lhe são familiares, como revela o estudo de Duit (1991) sobre as concepções alternativas e as representações prévias dos alunos em relação aos conceitos científicos. Essas analogias e metáforas estão carregadas de simbolismo dentro de um contexto histórico, social, econômico e político da vida dos cursistas, funcionando também como processos que atestam, na língua, sua capacidade de historicizar-se, pois as palavras refletem sentidos de discursos já realizados (ORLANDI, 2009).
Palavras-chave: Aprendizagem Baseada em Problemas, Analogias e Metáforas