63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
PRÁTICAS DE NOMEAÇÃO NO ATO DO BATISMO NA VILA DE PORTO FELIZ, SÉCULO XIX
Gisele Dias Quirino 1
Roberto Guedes Ferreira 2
1. Graduando História, Instituto de Ciências Humanas e Sociais - UFRRJ
2. Prof. Dr./Orientador - Depto de História e Economia - IM/UFRRJ
INTRODUÇÃO:
O estudo analisa as práticas de transmissão de nomes na Vila de Porto Feliz entre os anos 1834 a 1860. Com o nascimento do Cristianismo, a Igreja vinculou o ato de nomear ao rito de batismo, desta forma os prenomes passaram a ser escolhidos dentro de um repertório de nomes cristãos. A escolha do nome do inocente é uma prática social, que revela um modo de estabelecer uma relação de pertencimento ao grupo familiar. Os pais e/ou padrinhos escolhiam prenomes com valores que desejavam e que a sociedade/Igreja impunha, sendo motivada por diversos fatores, entre eles: garantir uma proteção mística; perpetuar um nome de “família”, introduzir um novo nome, preservar prenomes familiares ou do grupo social; aproximar os adultos das crianças batizadas através do repasse de seus nomes. Pretendemos compreender a lógica de nomeação por meio dos significados sociais e religiosos dos nomes, utilizando o calendário litúrgico. Como também recriar as trajetórias familiares, pois, como afirma Carlo Ginzburg, “o fio de Ariana que guia o investigador no labirinto documental é aquilo que distingue um individuo de um outro em todas as sociedades conhecidas: o nome” (1991, p.174).
METODOLOGIA:
Para formulação deste trabalho foram analisados 4205 registros de batismo de livres da vila de Porto Feliz, para os anos compreendidos entre 1834 e 1860. Os assentos de batismo continham as seguintes informações: a data do batismo, o nome completo do batizando, sua filiação, local de residência de seus pais ou responsáveis, nome de pelo menos um padrinhos e, por último, a assinatura do sacerdote. A quantificação foi amplamente utilizada devido ao caráter serial das fontes e a fim de verificar se o nome do inocente era uma homenagem aos pais ou padrinhos. Cruzamos os nomes batismais com o calendário litúrgico para identificarmos a escolha de nome de santos. Por fim, recriamos redes sociais de famílias com intuito de perceber a lógica geracional da nomeação.
RESULTADOS:
O nome é um elemento fundamental para construção da identidade. Segundo Florentino & Góes “se algo distingue uma pessoa de outra em todas as sociedades conhecidas, este algo é o seu nome” (1997, p.81). François Zonabend salienta que o prenome além de servir como elemento de diferenciação entre uma pessoa e outra, serve para distinguir um determinado grupo, linhagem ou família (1980 apud SCARPIM, 2010, p.100). Os trabalhos sobre onomástica interpretam a prenominação de três formas: como classificação social; inserção em um grupo existente; e como afirmação de alianças entre grupos e famílias, sendo adicionado por Marta Hameister (2006) uma quarta forma, a qualificação social. Em nosso trabalho observamos que a nomeação não era feita de forma aleatória, cada família possuía um motivo peculiar, percebemos que a prenomeação de inocentes estava diretamente relacionada à família e a expressões de religiosidade. Os nomes de santos geralmente eram retirados do calendário litúrgico ou escolhidos por devoções pessoais. Os nomes devocionais podiam ser o resultado de uma troca, os pais escolhiam o nome do santo em troca de suas bênçãos, uma forma de garantir proteção ao filho durante toda sua vida.
CONCLUSÃO:
Notamos que 30% dos prenomes escolhidos era homenagem aos pais ou padrinhos. Ademais, havia uma notável concentração de nomes próprios, com os cinco nomes mais freqüentes, abarcando entre 30% e 27% do total de homens e mulhe¬res. Em relação aos homens encontramos os nomes Francisco, Joaquim, João, Antônio e Jose, concentrando 1264 (60,6%) de 2084 registros. Entre as mulheres, os nomes Benedita, Francisca, Gertrudes, Ana e Maria, perfazendo 1160 (54,5%) de 2127 registros. Observamos que apesar do uso de nomes bíblicos, a escolha freqüentemente prestigiava um dos atores envolvidos, como no caso, dos 536 registros de Marias, desde 15% foram escolhidos no período devocional, e 65% como homenagem. Há, por outro lado, um número muito significativo de nomes pouco freqüentes, cujos portadores represen¬tam, contudo, uma proporção ínfima do total. Deparamos com 96 homens e mulheres com nomes únicos. Mesmo que as escolhas tenham sido familiares esta distribuição sublinha o caráter social dos critérios de escolha e, por conseguinte, das práticas de nomeação.
Palavras-chave: Batismo, Nome, Família.