63ª Reunião Anual da SBPC |
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre |
Estudo da Mata Ciliar em um Trecho do Médio Rio Araguaia |
VANESSA MENDES RÊGO 1 JOEMAR MENDES RÊGO 2 FERNANDO PEDRONI 1 MARYLAND SANCHEZ 3 |
1. Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde– UFMT 2. Instituto de Ciências Exatas e da Terra - Engenharia de Alimentos -UFMT 3. Dra./Orientadora – Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde – UFMT |
INTRODUÇÃO: |
As matas ciliares são importantes para a proteção dos recursos naturais bióticos e/ou abióticos e desempenham funções hidrológicas fundamentais contribuindo para a regulação do assoreamento, da turbidez da água, do controle da temperatura do ecossistema aquático e da erosão das margens de rios e córregos. O conhecimento das espécies gerado pelo levantamento florístico é primordial para o estabelecimento de ações de conservação, manejo e recuperação das matas ciliares. A densidade e composição florística do banco de sementes também pode apresentar informações adicionais indicando o potencial regenerativo das espécies estocadas nos solos. A recolonização pela vegetação em um ambiente perturbado ocorre principalmente através dos bancos de sementes, mantendo este um papel fundamental no equilíbrio dinâmico da floresta. Objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento florístico e fitossociológico e quantificar o banco de sementes que ocorre na margem do Rio Araguaia, na margem, sob influência direta da inundação e no interior distante do curso d’água afim de comparar a riqueza e a diversidade nos dois ambientes. |
METODOLOGIA: |
O estudo foi desenvolvido na Região do Médio Rio Araguaia, incluindo os municípios de Barra do Garças-MT, Pontal do Araguaia-MT e Aragarças-GO. Foram feitas coletas dos espécimes botânicos em 80 pontos quadrantes distribuídos ao longo da mata ciliar, cobrindo um trecho de aproximadamente 40 km, 40 pontos localizados na área de inundação considerados margem (à 10 m da linha d’água) e 40 pontos fora da influência direta da inundação considerados interior (à 30 m da linha d’água). Foram incluídos os indivíduos que apresentaram PAP > 15 cm, com altura estimada visualmente e material botânico coletado para identificação. Foram coletadas 80 unidades amostrais do solo contendo o banco de sementes (40 em cada microambiente – margem e interior). Para padronizar o tamanho e profundidade das amostras do banco de sementes foi utilizado um gabarito de madeira, com dimensão de 0,5 x 0,5 m, foi utilizada uma espátula para raspar a superfície do solo até 3 cm de profundidade (sem considerar a camada de serapilheira). A germinação foi acompanhada semanalmente durante um período de sete meses, sendo que cada plântula que identificada foi removida da caixa. Os indivíduos identificados foram classificados quanto à forma de vida em: árvore, arbusto, erva e liana. |
RESULTADOS: |
Foram coletadas 61 famílias, 120 gêneros e 157 espécies. As famílias com maior riqueza de espécies foram Fabaceae (29 espécies), Rubiaceae (8), Euphorbiaceae (7), Arecaceae e Convolvulaceae (cinco cada). 67,5% das espécies foram classificadas como árvores; 13,4% trepadeiras; 8,9% herbáceas; 6,3% arbustos ou arbustos escandentes; 3,2% epífitas e 0,6% hemi-parasitas. As espécies mais abundantes foram Celtis iguanae (46 indivíduos), Acacia polyphylla (28), Myracrodruon urundeuva (18), Sebastiana brasiliensis (16) e Scheelea phalerata (16). A análise aglomerativa indicou a existência de dois grupos claramente relacionados com a posição topográfica e com baixo nível de similaridade (Jaccard < 0,05) entre eles. A densidade total do banco de sementes foi 140 sem.m2. Foram identificadas 25 famílias e 98 espécies. Das 2803 plântulas germinadas, 1684 (60%) foram dicotiledôneas e 1119 (40%) monocotiledôneas. 2049 plântulas (73%) de 87 espécies foram herbáceas sendo as mais abundantes Malvaceae sp. (396), Cyperus brevifolius (383), Urochloa reptans (378) e Scoparia dulcis (202). Oito espécies representaram 72% das plântulas arbóreas sendo as mais abundantes Cecropia pachystachya (513 plântulas), Celtis iguanae (35) e Ficus sp. (21) e Ficus obtusiuscula (11). |
CONCLUSÃO: |
A mata ciliar estudada apresenta uma clara zonação relacionada com a dinâmica de inundação do Médio Rio Araguaia. Nas áreas próximas às margens, espécies tolerantes a inundação como Celtis iguanae , Acacia polyphylla , Ficus obtusiuscula e Inga uruguensis são capazes de se estabelecer e dominam a vegetação. Nas áreas mais elevadas, menos sujeitas à inundação, a composição é muito similar a florestas estacionais semidecíduas não relacionadas a cursos d’água. O estudo mostrou que uma das espécies com potencial para recuperação de áreas ciliares degradadas é Celtis iguanae que apresenta crescimento rápido e perfilhamento além de tolerar inundação sendo uma planta ideal para conter áreas sujeitas a desbarrancamento e erosão. Nossos dados sobre o banco de sementes sugerem que o mesmo tem baixo potencial para regeneração natural da mata ciliar já que sua composição difere muito do estrato arbóreo sendo composto principalmente por espécies herbáceas e ruderais, diferente do esperado e contrariando propostas usuais de planos de recuperação de áreas degradadas utilizando bancos de sementes do solo. |
Palavras-chave: Florística, Banco de Sementes, Vegetação ripária. |