63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial |
A VISITA A MUSEUS COMO POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO |
Renata Cardoso de Sá Ribeiro Razuck 1 Fernando Barcellos Razuck 2 Erika Zimmermann 3 |
1. Profa. Msc. UnB/FUP 2. Msc. UnB/FE; CAPES 3. Profa. Dra. UnB/Museu de C&T de Brasília |
INTRODUÇÃO: |
De acordo com a Política Nacional de Museus, desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), entre os seus objetivos gerais encontra-se o de “promover a valorização, a preservação e a fruição do patrimônio cultural brasileiro, considerado como um dos dispositivos de inclusão social e cidadania...”. Assim, os museus e suas respectivas exposições museológicas têm um papel crucial para o processo de inclusão social. Dessa maneira, a partir da década de 90, programas de inclusão sócio-educacional vêm ganhando visibilidade nos museus e centros de ciência e cultura, sensibilizando a sociedade sobre o assunto. Porém, os museus, não devem receber as pessoas com necessidades especiais entendendo-as somente como espectadoras. Para que esses sujeitos sejam realmente incluídos, faz-se necessário também que seus semelhantes façam parte do grupo de profissionais de tais estabelecimentos. Assim, ao vê-los trabalhar nessas instituições, os sujeitos com necessidades especiais se sentem mais confortáveis durante a visita, uma vez que interagem mais por meio da linguagem, favorecendo com isso não só a participação, como a própria aprendizagem. Essa participação deve ocorrer, portanto, desde o planejamento, organização até a culminância do evento. |
METODOLOGIA: |
Neste trabalho, estudou-se a visitação de um grupo de alunos surdos do Ensino Fundamental e Médio, de uma escola pública de Brasília, com idades entre 11 e 22 anos, a uma exposição museológica, acompanhados por seus professores e guiados por uma tutora (guia), também surda, da própria instituição visitada. Nessa visitação, a guia teve o papel de apresentar a exposição, enquanto que os professores correlacionavam os conteúdos escolares, favorecendo a interlocução cultural entre os saberes. A referida visitação ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), localizado em Brasília, que apresentava a mostra O Mundo Mágico de Escher. Essa mostra foi escolhida pelo fato de apresentar variadas obras do autor, conhecido por suas gravuras (xilografias e litografias) nas quais é possível explorar aspectos relacionados a Matemática e a outras esferas do saber, como Artes, Ciências, Química, Sociologia, História, Geografia e Filosofia, de forma lúdica e interativa. A visitação foi facilitada pela presença de guias graduados em Artes, também surdos, usuários da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Com a visitação objetivou-se avaliar como a presença de funcionários com necessidades especiais colabora para a participação inclusiva. |
RESULTADOS: |
Todo o grupo de alunos que participou da exposição museológica demonstrou empolgação e interesse em apreciar as obras expostas. Tal interesse foi ainda mais evidente quando os alunos foram recepcionados por uma guia surda. A identificação imediata com a guia foi fundamental para que os alunos se sentissem realmente participantes. Os alunos demonstraram interesse em compreender como as gravuras foram elaboradas, o que representavam, como estavam interligadas à realidade social da época, além da evidente curiosidade em saber como a guia havia aprendido sobre todas as obras e contextos culturais, o que proporcionou ao grupo possibilidades de conversação sobre formação acadêmica e cultural. Ao final da visitação os alunos foram questionados sobre quais disciplinas escolares poderiam estar relacionadas à visitação. O grupo foi bastante perspicaz ao conseguir identificar disciplinas e relacionar os pontos correlatos. |
CONCLUSÃO: |
Observou-se como principal impacto causado pela participação de pessoas com necessidades especiais no ambiente museológico que, durante a visitação a um Centro Cultural, foi possível propiciar aos alunos surdos uma possibilidade de ressignificação do seu entendimento da surdez. Isto porque, segundo Skliar (1997), a surdez é comumente vista apenas pelo seu lado clínico terapêutico, na qual é entendida como uma impossibilidade. A partir do contato com outros sujeitos surdos atuantes na sociedade possibilita-se a visão sócio-antropológica da surdez segunda a qual esta é entendida como uma diferença na percepção sensorial, e não uma deficiência (SKLIAR, 1997). Assim, a visitação a um espaço museológico quando guiada por portadores de necessidades especiais favorece o entendimento da surdez como um espaço de produção de diferenças, em oposição à uma visão extremamente clínica. Entende-se dessa maneira que a presença de profissionais portadores de necessidades especiais possibilita aos visitantes de exposições museológicas a oportunidade de repensar seu posicionamento e papel social perante a diversidade, estimulando e garantindo a possibilidade de acesso de indivíduos deficientes, levando assim a uma real inclusão. |
Palavras-chave: Inclusão Social, Exposição Museológica, Popularização da Ciência. |