G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho |
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A ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES NA FÁBRICA: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS |
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Elaine Marlova Venzon Francisco 01
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1. Profª Drª e Tutora do Grupo PET da Faculdade de Serviço Social da UERJ
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INTRODUÇÃO: |
O texto traz uma reflexão acerca dos limites e possibilidades para a organização dos trabalhadores no interior da produção, levando em consideração suas relações com os sindicatos e com as corporações empresariais. Buscamos aqui identificar diferentes formatos de atuação sindical junto à organização dos trabalhadores em seus locais de trabalho e contribuir ao entendimento dos impasses e possibilidades dessas formas de organização, de resistência e de solidariedade de classe. A pesquisa ganha relevância a partir do debate em torno da existência, ou não, de uma “crise” do sindicalismo em nosso país, debate este que tem pautado a agenda dos pesquisadores da área a partir dos anos 90. Portanto, aos estudos da área do trabalho, coloca-se o desafio de identificar e caracterizar a existência ou não de uma crise, ou de crises, do sindicalismo e/ou de suas formas de organização. Assim, novas questões e demandas foram postas ao movimento sindical devido às profundas alterações nas formas de organização da produção, na configuração do mercado de trabalho e na precarização das condições e das relações de trabalho. Nesse sentido, investigar as possibilidades e limites da organização dos trabalhadores no chão de fábrica ganha relevância nesse contexto. |
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METODOLOGIA: |
Trata-sede uma pesquisa de longa duração, iniciada em 2001, que pretende acompanhar a trajetória de organização dos trabalhadores em uma fábrica de produção enxuta. Para a obtenção de dados de fonte primária, o trabalho de campo está baseado em entrevistas semi-estruturadas junto a operários do chão de fábrica, membros da comissão de fábrica, sindicalistas, supervisores e gerentes. Também é utilizada a observação participante. Para os dados secundários, são utilizados os jornais regionais, os jornais e boletins de sindicatos e da comissão de fábrica, além de documentos institucionais do sindicato e da corporação empresarial. A pesquisa busca, através dessas fontes e registros, acompanhar a trajetória da comissão de fábrica criada em uma planta automobilística, no sul fluminense, em 1999 e que atua, até hoje, na organização interna dos trabalhadores. Busca analisar a ação política desses trabalhadores, frente às alterações no mercado de trabalho, na conjuntura política e econômica do país, na corporação empresarial e, também no meio sindical em que se insere. |
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RESULTADOS: |
Os primeiros resultados da pesquisa foram consolidados em tese de doutorado, publicada sob o título “A Comissão Enxuta: ação política na fábrica do consórcio modular em Resende/RJ”, em 2005. O resultado inicial apontava a peculiaridade daquela forma de organização dos trabalhadores, em um contexto que carecia de qualquer tradição operária no ramo, além de tratar-se de uma planta cuja produção estava organizada sob o conceito de consórcio modular, entre a empresa e seus parceiros/montadores. A articulação dos trabalhadores da fábrica com as demais comissões de fábrica existentes na corporação, e com outros sindicatos fora da região, conferia àquela comissão de fábrica uma ação política de caráter dinâmico que chegava a suplantar o sindicato quanto aos resultados das negociações. A comissão de fábrica demonstrava a sua eficácia política, apesar dos constrangimentos inerentes ao modelo produtivo, pelo fato de pautar o sindicato, indicando-lhe as principais questões a serem enfrentadas. Este elemento só se tornava possível devido á experiência cotidiana direta dos membros da comissão de fábrica com os demais trabalhadores, o que conferia à comissão de fábrica um status privilegiado nos espaços institucionais de defesa das questões trazidas pelos operários. |
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CONCLUSÃO: |
Os resultados da pesquisa apontam para a importância da organização dos trabalhadores dentro da fábrica, enquanto espaço institucional de defesa dos interesses dos trabalhadores. No entanto, a pesquisa aponta também para a contraditoriedade inerente a esta forma de organização, tendo em vista o fato de mediar as relações entre operários e gerentes no cotidiano fabril. Assim como ela pode se constituir em um espaço da política, no sentido da explicitação pública do dissenso, ela também é alvo das políticas de formatação de consenso entre classes. O modelo do consórcio modular imprime uma diferenciação a esta comissão de fábrica, se comparada às demais comissões existentes dentro da corporação. Cabe destacar ainda que, mesmo diante dos constrangimentos impostos pelo modelo produtivo, a participação de trabalhadores na comissão de fábrica, demonstra a importância da experiência de representação política na articulação e organização dos trabalhadores frente aos demais sujeitos políticos, ou seja, gerências e sindicatos. Os resultados apontam para a necessidade de investigação sobre os mecanismos de cooptação política a que ficam submetidos os trabalhadores que passam pela comissão de fábrica, assim como acerca do peso de suas decisões e escolhas individuais sobre o nível de organização da comissão. |
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Palavras-chave: Sindicalismo brasileiro, Comissão de fábrica, Sul fluminense.. |