63ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 7. Teorias da Comunicação |
O receptor e o radiojornalismo - Meio ambiente e qualidade de vida na pauta radiofônica |
Cristiano Magrini Rodrigues 1 Gabrielli Siqueira Dala Vechia 2 Mariana Cervi Soares 3 Michelle Pinheiro Falcão 4 William Vinderfeltes 5 Márcia Franz Amaral 6 |
1. Dpto. de Ciências da Comunicação, Universidade Federal de Santa Maria / UFSM 2. Programa de Pós Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas/ UFBA 3. Dpto. de Ciências da Comunicação, Universidade Federal de Santa Maria / UFSM 4. Dpto. de Ciências da Comunicação, Universidade Federal de Santa Maria / UFSM 5. Dpto. de Ciências da Comunicação, Universidade Federal de Santa Maria / UFSM 6. Profa. Dra./ Orientadora - Dpto. de Ciências da Comunicação / UFSM |
INTRODUÇÃO: |
Ao sugerir que a recepção deve ser entendida não como etapa do processo comunicacional, mas como um local novo de onde se deve repensá-lo, Martín-Barbero (2001) reafirma uma versão latinoamericana da corrente teórica que privilegia o receptor como sujeito capaz de dar sentido às mensagens midiáticas: os estudos de recepção. Tal corrente está, teórica e metodologicamente, vinculada aos Estudos Culturais britânicos, nascidos na década de 1960, como uma reação às concepções frankfurtianas de indivíduo, tido como ser desprovido de autonomia e criticidade perante a indústria cultural (WOLF, 1985). O Ecolândia é um projeto de extensão universitária do Programa de Educação Tutorial do Curso de Comunicação Social da UFSM e, desde 2006, consiste em um radiojornal semanal que trata de questões relativas ao meio ambiente e à qualidade de vida. Tal programa é veiculado pela Rádio Comunitária Caraí FM, que tem abrangência em toda a Região Sul da cidade de Santa Maria-RS. Interseccionando os pressupostos do aporte teórico dos Estudos Culturais com o radiojornal em questão, este artigo se propõe a relatar um estudo de recepção desenvolvido junto a seis ouvintes da Rádio Caraí para procurar compreender as relações de tais pessoas com a mídia radiofônica em geral e com o programa, em particular. |
METODOLOGIA: |
Até meados da década de 1970, as pesquisas desenvolvidas no âmbito dos Estudos Culturais seguiam as bases da crítica literária. Ou seja, embora o contexto social e histórico da audiência fosse tomado como relevante, o discurso dos meios era tido como dado. Assim, supunha-se, a partir do texto, qual seria o entendimento do sujeito-receptor. A mudança de ponto de vista de tal corrente teórica iniciou em 1973 quando Stuart Hall publicou o ensaio Codificação/Decodificação. O deslocamento de interesses dos Estudos Culturais do texto para os receptores tem servido para repensar as pesquisas de recepção midiática. Essa apropriação se refere, especialmente, à aproximação dos conceitos de comunicação e cultura, conferindo legitimidade à vivência cotidiana dos sujeitos, bem como às mediações em que estão socialmente inseridos. Para a realização do presente estudo de recepção foram aplicadas entrevistas semiestruturadas com seis moradores da região de abrangência da Caraí: Elói (40), chapeador; Cristina (48), farmacêutica; Zilá (50), estudante de psicologia; Lena (52), costureira; e Maristela (54), costureira. À exceção de Cristina, (trabalha no bairro, mas mora em outra região da cidade), todos os entrevistados vivem no entorno da Rádio e são partícipes de um contexto de carência econômica. |
RESULTADOS: |
O rádio é a mídia de referência de cinco dos seis entrevistados. Ele é ligado pela manhã e, geralmente, assim permanece durante todo o tempo em que os ouvintes estão em casa ou no trabalho. As horas de audiência diária apontadas variam de 5h a 14h/dia. A exceção é a entrevistada Cristina, que diz ouvir rádio apenas quando está em trânsito. Para ela, a referencialidade noticiosa e de entretenimento está nos canais fechados de televisão. Os outros cinco entrevistados rechaçaram a televisão por ser pouco prática (requer atenção auditiva e visual). No que tange às funções do rádio, fazer companhia é a principal delas, e informar aparece em segundo lugar. Novamente, é Cristina a exceção: para ela, rádio é sinônimo de programação musical. Para duas entrevistadas de baixa escolaridade (Maristela e Lena) mais que informação, o rádio transmite conhecimento. A preferência da maioria dos entrevistados está na programação oferecida pela Caraí, embora outras emissoras, especialmente as AM, possam aparecer devido a especificidades. O porquê de tal prioridade, porém, não é explicado de forma racional, mas pelo hábito, simplesmente. Falando-se, especificamente, sobre o radiojornal Ecolândia, dos seis entrevistados, metade tem por costume ouvi-lo e metade desconhece sua existência. |
CONCLUSÃO: |
O hábito da metade que ouve o Ecolândia parece mais relacionado ao fato de o rádio permanecer ligado que à audiência específica do programa. Meio ambiente, para os seis, liga-se a problemas ecológicos locais e todos dizem que a temática é de grande pertinência para ser tratada no rádio. Cristina, que poderia ser considerada única de classe-média na amostra, duvida que a população de baixa renda tenha interesse por tais questões. Vê-se que os entrevistados esperam que os programas radiofônicos (o Ecolândia), sejam responsáveis por ações que provoquem alguma mudança prática (real ou de comportamento). Infere-se que o Ecolândia consegue suprir tematicamente as representações que a audiência tem acerca do meio ambiente: problemas ecológicos locais e de influência cotidiana. Também ratificou-se a centralidade do rádio para classes populares, transcendendo sua função mais comum (entretenimento), e suprindo carências estruturais (falta de educação formal). A questão do embate social impôs-se no decorrer do trabalho, embora não fosse o objetivo. O fato de a única entrevistada de classe média ter respostas sempre díspares dos outros é característico de que existe um conflito de classe no que se refere à recepção de bens midiáticos, o que ratifica os pressupostos dos Estudos Culturais. |
Palavras-chave: Recepção, Radiojornalismo, Estudos Culturais. |