63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 4. Línguas Indígenas
CONTRIBUIÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE O TRONCO LINGUÍSTICO MACRO-JÊ
Ambrósio Pereira da Silva Neto 1
Ana Suelly Arruda Câmara Cabral 2
Aryon Dall’Igna Rodrigues 3
1. Secretaria de Educação do Distrito Federal, SEE-DF
2. Instituto de Letras/Laboratório de Línguas Indígenas, UnB
3. Instituto de Letras/Laboratório de Línguas Indígenas, UnB
INTRODUÇÃO:
Este trabalho apresenta parte de uma revisão da família linguística Coroado, proposta por Chestmir Loukotka (1937). Loukotka comparou itens lexicais das línguas Coroado, Purí e Coropó coletados durante o século XIX por Eschwege, Martius, St. Hillaire, Fereira Moutinho e Torrezão, demonstrando várias semelhanças lexicais entre elas. Fez ainda algumas observações gramaticais sobre as mesmas e apontou semelhanças lexicais entre elas e línguas da família Jê. O trabalho de Loukotka é uma peça fundamental no desenvolvimento dos estudos sob o tronco Macro-Jê (Davis, 1967; Rodrigues 1986, 1999 e Kaufman 1990), por fundamentar uma proposta de um grupo de línguas geneticamente relacionadas com a família Jê, mas independente desta, ampliando assim o conhecimento da constituição interna desse tronco. Rodrigues (1986) considerou a proposta de Loukotka na sua classificação do tronco Macro-Jê (Rodrigues 1986, 1999), mas a chamou de família Purí, nome que adotamos neste estudo.
METODOLOGIA:
O estudo apresentado aqui foi desenvolvido à luz do Método Histórico Comparativo, o único método que permite fundamentar adequada e seguramente parentesco genético entre línguas e famílias de línguas, e reconstruir partes de suas respectivas pré-histórias. Procedemos primeiramente à identificação dos itens lexicais comparáveis, organizando com eles etimologias em fichas. Em seguida, foram identificadas as correspondências fonológicas em quadros que permitiram, por sua vez, reconstruir os proto-fonemas do Proto-Purí, levando em consideração as possibilidades de mudanças e direções destas, com base no conhecimento do qual se dispõe sobre as mudanças sonoras ocorridas na história das línguas e os princípios fonéticos e fonológicos estabelecidos por esse conhecimento e pelas leis físicas. O passo seguinte foi analisar o material lexical não comparável, procurando-se identificar quais as suas fontes, se possível. Finalmente, procedemos a uma comparação das formas reconstruídas para a família Purí com formas reconstruídas para outras famílias Macro-Jê, ou com itens lexicais de línguas específicas dessas, na tentativa de identificar com quais famílias a família Purí mais se aproxima em termos genéticos.
RESULTADOS:
A escolha da normalização (proto-fonemas) do som mp e não do som mb fundamentou-se principalmente no fato de que nos exemplos disponíveis, algumas das variedades da língua Purí apresentaram flutuação de mp e mb. Não foi considerada a possibilidade de fonemização de sons oclusivos aspirados, tendo em vista que os sons [ph] e [th] apareceram apenas em dados diferentes de duas fontes, sendo que a que mais apresenta exemplos é de origem alemã. Não foi considerado o som [s] como fonema por figurar em apenas um dado de duas fontes distintas. Embora os conjuntos de palavras que apresentaram sistematicamente [č] foram os que incluíram dados de apenas duas variedades, em outros casos no qual esse som apareceu houve flutuação de [č] com [š], o que fundamenta a escolha do primeiro para representar a forma fonológica da palavra normalizada para esses conjuntos. A alternância [č] ~ [dz] também fundamentou a análise de que o segundo é uma variação do primeiro em uma das variedades da língua. Quanto às vogais, embora os dados tenham apresentado algumas discrepâncias, na maioria dos casos corresponderam-se regularmente. Não houve evidências suficientes para a consideração de vogais intrinsecamente nasais, a partir dos dados usados na presente comparação.
CONCLUSÃO:
Na normalização dos dados desta família, tentou-se fazer uma comparação sistemática do léxico, neste sentido procuraram-se as correspondências regulares, embora o número de dados comparáveis fosse um pouco reduzido. Neste caso, a relação genética mostrou que as línguas Purí e Coroado são muito próximas ou uma era dialeto da outra ou tiveram uma mesma origem, mas o Koropó era um ente mais distante desta família, o que pode indicar que o Koropó se originou de um estágio diferente das outras duas. O estudo serviu para confirmar a hipótese de Loukotka de que estas línguas fazem parte de uma mesma família. Espera-se que este trabalho sirva para um melhor conhecimento das línguas indígenas brasileiras e incentive os linguistas brasileiros a aprofundar a pesquisa linguística sobre o tronco Macro-Jê e também a estudarem as nossas mais de 180 línguas brasileiras.
Palavras-chave: Purí, Coroado, Koropó.