63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
Práticas de Educação Inclusiva em Questão: Uma Análise de Situações Vivenciadas no Cotidiano Escolar
Cristina Hulshof 1
Ana Luiza Bustamante Smolka 2
1. Grupo de Pesquisa, Pensamento e Linguagem - UNICAMP
2. Profa. Dra./ Orientadora -Grupo de Pesquisa, Pensamento e Linguagem - UNICAMP
INTRODUÇÃO:
Este trabalho, fundamentado na perspectiva histórico cultural do desenvolvimento humano, buscou problematizar as práticas de educação inclusiva no cotidiano escolar. A inclusão social dos indivíduos que apresentam deficiências tem sido amplamente abordada, entretanto, por um lado o avanço das políticas públicas de inclusão não elimina os problemas concretos que são enfrentados no ensino regular; por outro, os argumentos que justificam ou dão sustentação teórica às ações que são implementadas, são muitas vezes parciais, emergenciais ou inconsistentes, ficando na superficialidade dos problemas. Este impasse demanda aprofundamento teórico e o adensamento das discussões e análises do cotidiano escolar, particularmente no que concerne às concepções de desenvolvimento humano e educação. Para tanto, realizamos um estudo em uma escola da rede municipal de Campinas e acompanhamos, pelo período de dois anos (de agosto de 2008 a julho de 2010), três salas com alunos com deficiências. A escolha das turmas foi determinada pela incidência e a diversidade de casos na escola, e a aquiescência das professoras para participação no estudo. O estudo integrou um projeto mais abrangente para a Melhoria do Ensino Público, intitulado “Condições de desenvolvimento humano e práticas contemporâneas: as relações de ensino em foco”, e contou com o apoio do PIBIC no primeiro ano, e da Fapesp, no segundo.
METODOLOGIA:
A pesquisa ancorou-se no referencial teórico-metodológico proposto por Vigotski, em diálogo com princípios da etnografia e estudos da sociologia. As salas de aula escolhidas para o desenvolvimento do trabalho empírico apresentavam alunos com deficiências variadas: em 2008, autismo e surdez; em 2009, deficiência intelectual, síndrome de Angelman e surdez; em 2010, síndrome de Down. Em todas as salas havia também alunos sem nenhum tipo de diagnóstico, mas que não sabiam ler e escrever. Durante o trabalho de campo foram realizados registros escritos e registros vídeo-gravados, que constituíram o material empírico para análise. Foram 51 idas à escola para a realização do trabalho de campo em sala de aula, sendo que as atividades desenvolvidas foram vídeo-gravadas em 21 dias. As atividades de todos os dias estão registradas em diário de campo. Algumas situações registradas foram selecionadas para um estudo mais detido. O aprofundamento teórico se deu concomitantemente à realização do trabalho de campo, sendo que as análises do material empírico foram sempre discutidas e compartilhadas no grupo de pesquisa. O aprofundamento teórico e as análises do material empírico levaram à discussão da dinâmica e das condições das interações em sala de aula, das relações de ensino, e das posições dos diferentes protagonistas no processo.
RESULTADOS:
Discutimos situações que apresentam questões sobre a posição que ocupa o aluno com deficiência na sala de aula e a relação entre este e o aluno sem deficiências, mas que não aprende na escola; as formas como o aluno reage e interage com o método tradicional de ensino ou com a inovação da rotina escolar realizada pelas professoras; as estratégias desenvolvidas pelos alunos com surdez para participar da dinâmica da sala de aula; os modos das professoras conceber a deficiência e as reflexões e depoimentos destas frente às políticas públicas de inclusão e seus modos de implementação. As vivências da inclusão na sala de aula, nestes dois anos, suscitaram diversos pontos para análises, referentes as relações professora-alunos; professora-alunos com deficiência; relações entre alunos; professora-alunos-conhecimento e pesquisadora-alunos-conhecimento.
CONCLUSÃO:
A pesquisa deu visibilidade aos conflitos vivenciados pelos professores no cotidiano escolar diante das condições de trabalho, e suscitou diversos pontos para análise, como o modo de participação dos alunos com deficiência na sala de aula, o desenvolvimento da linguagem e das funções psicológicas, a identidade, questões sobre o diagnóstico, além de problematizar os termos inclusão e exclusão na escola como conceitos que não se referem apenas aos alunos com diagnóstico médico.
Palavras-chave: Inclusão Social, Educação Inclusiva, Educação Especial.