63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
PERCEPÇÃO PÚBLICA DO AVC – UM LEVANTAMENTO POR AMOSTRAGEM COMO PARTE DA FORMAÇÃO EM JORNALISMO CIENTÍFICO COM FOCO EM NEUROCIÊNCIAS
Rodrigo Bastos Cunha 1
1. Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo - Unicamp
INTRODUÇÃO:
Embora seja crescente a circulação de informações na mídia sobre ciência e tecnologia, em geral, e sobre saúde, em particular, ainda é consideravelmente grande a parcela da população que se diz pouco ou nada informada nessas questões, segundo apontam estudos de percepção pública como o de Vogt & Polino (2003) e Vogt et alli (2005). Uma pesquisa recente do Ministério de Ciência e Tecnologia (Moreira et alli, 2011) revela que 89% da população procura manter-se informada quando ocorre uma epidemia como a de dengue ou de gripe, mas em geral, 40% diz se informar apenas mais ou menos sobre saúde e 24% pouco ou nada se informa. No caso específico do AVC (acidente vascular cerebral), a informação faz toda a diferença em relação à rapidez no atendimento e à consequente minimização das sequelas. Segundo Li Li Min (2009), o AVC ocupa a primeira posição em causa de morte no Brasil. Para quem está se especializando em divulgar essa área, é fundamental conhecer a percepção pública sobre ela. O presente trabalho apresenta os resultados de um levantamento por amostragem, sobre percepção pública do AVC, realizado na cidade de Campinas (SP) por alunos de um curso de especialização em jornalismo científico voltado para a área de saúde com foco em neurociências.
METODOLOGIA:
Para a definição do universo de entrevistados, estipulou-se que um levantamento por amostragem seria feito a partir de dados do Censo Demográfico do IBGE com a distribuição percentual da população por sexo e faixa etária em municípios da região Sudeste com mais de 500.000 habitantes, para garantir similaridade com a distribuição populacional na cidade de Campinas (SP). O perfil das pessoas a serem entrevistadas, portanto, ficou definido da seguinte forma: 47,8% seriam do sexo masculino e 52,2%, do sexo feminino; 30,2% teriam até 17 anos; 13,6%, entre 18 e 24 anos; 46,5%, entre 25 e 59 anos; e 9,6% teriam 60 anos ou mais. A partir dessa definição, treze alunos do curso de especialização ficaram encarregados de entrevistar, cada um deles, um grupo de dez pessoas, totalizando, ao final, 130 entrevistas, distribuídas da seguinte forma: 19 pessoas do sexo masculino até 17 anos; 20 pessoas do sexo feminino até 17 anos; 8 pessoas do sexo masculino entre 18 e 24 anos; 9 pessoas do sexo feminino entre 18 e 24 anos; 29 pessoas do sexo masculino entre 25 e 59 anos; 32 pessoas do sexo feminino entre 25 e 59 anos; 6 pessoas do sexo masculino com 60 anos ou mais; e 7 pessoas do sexo feminino com 60 anos ou mais. Foram feitas perguntas fechadas e abertas.
RESULTADOS:
Embora a sigla AVC seja bastante usada no meio médico, ela é desconhecida da maioria dos entrevistados de duas faixas etárias: 65% dos jovens de até 17 anos responderam não saber o que é AVC e 58% das pessoas com 60 anos ou mais, idade em que ocorrem os maiores números de casos, dizem desconhecer a sigla. O resultado muda bastante quando se pergunta sobre acidente vascular cerebral: 83% das pessoas com 60 anos ou mais dizem saber o que é, o mesmo acontecendo com 82% das pessoas entre 25 e 59 anos, 77% das pessoas entre 18 e 24 anos e 63% dos jovens até 17 anos. Quando perguntados sobre o derrame, termo popular associado ao AVC, a afirmação de conhecimento é praticamente unânime em todas as faixas etárias. Porém, pessoas de todos os níveis de escolaridade responderam “não sei dizer ou explicar” às perguntas para identificar o conhecimento sobre os sinais de um acidente vascular cerebral e as possíveis sequelas. Do total de entrevistados, 74% dizem conhecer alguém que teve AVC ou derrame, e várias respostas às perguntas abertas apontam o conhecimento de sinais como entortamento da boca, alteração da fala e paralização de membros. Porém, algumas respostas tanto sobre os sinais quanto sobre as possíveis sequelas são vagas ou imprecisas.
CONCLUSÃO:
Embora seja alto o percentual das pessoas que dizem conhecer alguém que teve um acidente vascular cerebral e das que afirmam saber o que é isso, o fato de aparecerem respostas como “forte dor de cabeça”, “desmaio súbito” ou afirmações de reconhecimento de que a pessoa não sabe dizer quais são os sinais de um AVC indicam que muitos entrevistados não saberiam o que fazer diante de uma situação como essa. Da mesma forma, o aparecimento de respostas como “raramente a pessoa fica normal” para a pergunta sobre as possíveis sequelas sugere o desconhecimento de que as chances de diminuição das sequelas estão diretamente relacionadas à rapidez no atendimento após o AVC. Portanto, para quem está se especializando em jornalismo científico voltado para a área de saúde com foco em neurociências, além de conhecer e divulgar os fatores de risco relacionados ao AVC e as atitudes preventivas, é fundamental saber que a identificação dos sinais de um acidente vascular cerebral e a importância do rápido atendimento após o AVC carecem de maior divulgação para públicos de todas as faixas etárias e de todos os níveis de escolaridade.
Palavras-chave: percepção pública, jornalismo científico, acidente vascular cerebral.