63ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola
MAPA DE PROPRIEDADE: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O DIAGNOSTICO DOS DIFERENTES FATORES DE PRODUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR DENTRO DE AREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
Murilo Carlos Siqueira 1
Franciele Ortis dos Santos 1
Camila Aparecida Alves Lima 1
Priscila Cristina dos Santos 1
Luiz Fernando de Carli Lautert 2
1. UFPR
2. Prof° Dr/ orientador Camara de ciencias da Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral
INTRODUÇÃO:
Ao longo de sua história, o litoral paranaense passou por diversos ciclos econômicos, com períodos de prosperidade e depressão e não acompanhou as demais regiões do estado no quesito desenvolvimento. Segundo BORSATTO et. al. (2007) uma das características mais marcantes dessa região foi a capacidade de conservar a sua biodiversidade natural, graças a criação de UC’s (Unidades de Conservação). Esta política influenciou fortemente na dinâmica social e econômica da região, principalmente nas comunidades de pequenos agricultores.
Dentre os municípios do Litoral do Paraná destaca-se pelo seu paradoxo de subdesenvolvimento e conservação ambiental o município de Guaraqueçaba, onde segundo Rodrigues et. al. (2009), a maioria das famílias de pequenos agricultores vivem em situação inviável economicamente, pois a agricultura de pequena escala não prove a reprodução social dessas famílias, que se veem obrigadas a adotar atividades não agrícolas.
Nesse contexto, o estudo realizado tem como objetivo identificar os condicionantes e as principais estratégias de vida dos agricultores familiares na comunidade do Açungui, no município de Guaraqueçaba, no litoral do Paraná, a partir de uma analise da relação entre a família e a propriedade como fatores de produção.
METODOLOGIA:
O mapa de propriedade é uma das ferramentas do DRP – diagnóstico rural participativo, que, segundo Verdejo (2007) é um conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as comunidades façam o seu próprio diagnóstico e auxiliar o seu planejamento e desenvolvimento. O mapa mostra todos os detalhes produtivos e de infra-estrutura social de uma propriedade. Serve para o planejamento, a discussão e a análise da informação visualizada. (idem, 2007).
A equipe mediadora é interdisciplinar, o que permitiu contemplar vários aspectos do diagnostico proposto.
A pesquisa foi realizada em duas fases, a primeira com a aplicação de um questionário sócio-econômico em todas as residencias da comunidade e a segunda com a visita a 19 propriedades da comunidade de Açungui em Guaraqueçaba-PR.
Os questionários foram aplicados nos meses de Novembro e Dezembro de 2009, e possuíam ao todo 77 questões abordando a percepção da comunidade, trabalho e renda, cultivo, saúde, serviços e meio ambiente. Os levantamentos de campo nas propriedades foram produzidos durante os meses de janeiro e fevereiro de 2011, parte do dos proprietários já possuíam um relacionamento estreito com a equipe mediadora, o que auxiliou na receptividade e no estabelecimento de diálogo dentro da propriedade.
RESULTADOS:
A comunidade de Açungui possui 50 famílias, que tem sua renda proveniente de diversas de diversas fontes, das quais a agricultura foi considerada por apenas 16% das famílias como fonte de renda principal, e por 24% das famílias como fonte de renda complementar. Entretanto, 72% das famílias praticam algum tipo de cultivo e 36% afirmam que gostariam de obter sua subsistência exclusivamente da agricultura.
Observou-se também que ao longo dos anos houve uma grande migração das famílias da comunidade devido às dificuldades relacionadas à serviços básicos e busca de melhores condições de trabalho e renda. Dos moradores que nasceram ou foram criados na comunidade, 34% migraram para os centros urbanos e voltaram a morar na comunidade, e 26% das famílias tem membros que moram em outras cidades.
A confecção dos mapas e a entrevista permitiu verificar como se organiza a produção e a divisão do trabalho em pequenas propriedades para atender ao mercado e à subsistência das famílias, bem como se relacionam os diferentes gargalos produtivos, as estruturas e os acessos que dispõe os produtores e quais os principais canais de comercialização.
CONCLUSÃO:
A metodologia desenvolvida constatou que a simples análise de dados socio-economicos não consegue retratar como os ciclos demográficos familiares determinam a força de trabalho e o uso da terra (Chayanov apud Schineider, 2003).
A pressão exercida pelos compradores de banana (principal produto da comunidade) sob os produtores os leva a buscar alternativas, com atividades não agrícolas, agricultura de subsistência e venda em pequena escala de produtos beneficiados, como a farinha de mandioca, doces e compotas. O tempo gasto com atividades fora de sua propriedade e trabalhos não agrícolas (trabalhos no comércio, serviços de mecânico, auxiliar de cozinha, doméstica, chacareiro, construção civil, dentro outros), impede que os produtores dediquem mais tempo a sua propriedade.
Apesar de 92% das famílias entrevistadas afirmarem que gostam de morar na comunidade do Açungui, a falta de estrutura e condições de trabalho levam muitos moradores a migrarem para centros urbanos, o que limitou ainda mais a capacidade produtiva das propriedades. Esse quadro produziu um ciclo no qual a diminuição do espaço produtivo leva a diminuição da mão de obra que volta a causar a diminuição do espaço produtivo. Assim, existe uma ambiguidade nas falas dos agricultores que desejam o aumento de sua área, porém, sofrem com a falta de mão de obra.
Palavras-chave: Mapa, Propriedade, Trabalho.