63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 6. História Moderna e Contemporânea
CRÔNICAS DE UMA REVOLUÇÃO INACABADA: OS RELATOS DE ESTRANGEIROS PARTICIPANTES DO MAIO DE 1968 COMO FONTE PARA COMPREENDER A CRISE FRANCESA DA DÉCADA DE 1960.
Marcus Vinicius Costa da Conceição 1
Carla Luciana Silva 2
1. Mestrando – Programa de Pós-gradução em História /UNIOESTE
2. Profª. Drª/ Orientadora – Programa de Pós-graduação em História/UNIOESTE
INTRODUÇÃO:
O objetivo deste trabalho é analisar dois relatos de estrangeiros, do italiano Angelo Quattrocchi e do inglês Maurice Brinton, presentes durante as manifestações do Maio de 1968 em Paris. O maio de 1968 foi o maior movimento de massas da sociedade francesa do século XX, tendo na Universidade de Sorbonne seu principal foco irradiador dos acontecimentos. Esta Universidade se tornou na década de 1960 o local escolhido por estudantes de todo o mundo para realizarem seus cursos, especialmente os ligados às ciências humanas, visto a tradição que a França detinha como centro irradiador deste conhecimento. Ao analisarmos os textos desses estrangeiros que participam desta revolução, entendemos que eles nos propiciam uma melhor visão de alguns aspectos da sociedade francesa – como a interelação entre cultura, economia e movimentos sociais – do que de próprios franceses, visto que por não estarem envolvidos em discussões de cunho nacional, ampliam o horizonte de suas análises.
Compreender os acontecimentos do Maio de 1968 é fundamental para situar em que ponto a sociedade francesa estava se reestruturando na década de 1960, uma vez que o Estado de bem-estar social não conseguia mais ocultar a contradição capital-trabalho que vinha amenizada desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
METODOLOGIA:
Para o trabalho nos utilizamos dos livros Paris: Maio de 1968 de Maurice Brinton e do texto O que aconteceu de Angelo Quatrocchi, ambos publicados em 1968 após alguns meses dos acontecimentos, procurando perceber como foram interpretados por esses autores os processos de contestação e as alternativas colocadas pelos manifestantes frente à crise social francesa. A análise se pautou por uma leitura das fontes baseada no materialismo histórico-dialético, como demonstrado por Karl Marx e Friedrich Engels em A Ideologia Alemã, por demonstrar como as ideias, a história e as ideologias não são inatas ao homem, mas sim construções baseadas na sua realidade, mesmo que a percepção desta seja falseada. Sobre o conceito de crise na sociedade francesa do período, sobre o qual as fontes serão analisadas, nos utilizamos do arcabouço fornecido por Alan Bihr em Maio-junho de 1968 na França - O epicentro de uma crise de hegemonia, que o elabora a partir do conceito de crise de hegemonia de Antonio Gramsci, compreendendo que a crise ali instalada é decorrente da perda da capacidade da fração da burguesia dominante, a industrial, de se reconhecer no governo centralizador de Charles De Gaulle.
RESULTADOS:
As duas fontes apesar de tratarem do mesmo tema, são diferentes na sua forma de demonstrar o desenvolvimento dos fatos e de compreender o desenvolvimento da crise social francesa. Quattrocchi foca a criação do seu texto em um aspecto metafórico, remetendo sempre este a posição e a situação de estudantes e sobretudos dos trabalhadores, como forma de demonstrar a exploração que lhes é causada. Seu principal objetivo no texto é demonstrar como os trabalhadores se articularam perante a revolução que inicialmente se mostrou juvenil, mas que na verdade afetava, sobretudo, a grande massa do povo francês que sofria com a alta os preços e o desemprego.
Já Brinton desenvolve sua análise mais focada no meio estudantil, sem, porém deixar de demonstrar como essa revolta inicial só pôs realmente em perigo o establishment quando se aliou aos operários e demonstrou que as suas reivindicações não eram específicas de uma determinada camada social, mas sim necessidades de toda a sociedade francesa. O seu medo era de que esta revolução fosse só mais um meio de fortalecer o capital, faz com que sua análise muita das vezes tenha um tom pessimista, mesmo com as novas possibilidades de uma sociedade que se abrem.
CONCLUSÃO:
O que observou foi que tanto Angelo Quattrocchi como Maurice Brinton desenvolvem o seu relato baseados na visão de que a revolução de Maio de 1968 é um ataque aos fundamentos da burguesia, com o intuito de elevar o aspecto da crise social a uma situação revolucionária. Apesar das diferenças de análise os dois autores demonstram que a aliança entre estudantes e operários conseguiu avançar em pontos de discussão que iam além de um simples aumento de salário, mas reivindicavam e exigiam a mudança na ordem social existente. Outra conclusão semelhante entre os dois autores é o destaque ao papel contrarrevolucionário empreendido pelo Partido Comunista Francês e pelas centrais sindicais francesas, sobretudo a Confederação Geral do Trabalho que era ligada a este partido. No entanto, no que se refere às visões sobre a derrota do movimento, as conclusões são muito distintas e revelam duas formas diferentes de encarar a realidade. Enquanto Brinton vê a derrota como a abertura de período de fortalecimento do capital, que deságua no pós-modernismo enquanto símbolo dessa reviravolta; Quattocchi vê a derrota como a abertura de uma fissura que assombrará a França por um longo período, podendo abrir espaço para outra onda revolucionária que derrubaria de vez o capital.
Palavras-chave: França, Crise Social, Maio de 1968.