63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
AS DESCOBERTAS DOCENTES A RESPEITO DOS SUJEITOS DA EJA E DAS POSSIBLIDADES CURRÍCULARES
Kleber Gonçalves Bignarde 1
Ozerina Victor de Oliveira 2
1. Prof.Esp./CEFAPRO-SEDUC-MT/PPGE-UFMT
2. Profa. Dra./Orientadora - PPGE - UFMT
INTRODUÇÃO:
Na formação continuada de professores, específicos de Educação de Jovens e Adultos muito se têm falado sobre a importância da identificação do sujeito, levantando o perfil do aluno da EJA, para consolidação de um currículo que atenda esta modalidade.
Mas que currículo é este de fato, e que perspectiva de adequação a este sujeito temos que realizar? Foi guiado por estas indagações que a Escola Estadual Leovegildo de Mello, em Cuiabá, Mato Grosso, através do grupo de professores verificou a importância de combater a evasão escolar e desenvolver uma prática pedagógica condizente com este público.
Na busca da realização das três funções da EJA que são: Reparação, Equalização e Qualificação, há necessidade de construção de um currículo específico para EJA e que gere aproveitamento dos conhecimentos destes sujeitos, levando-os a construção de novos conhecimentos e da oportunidade de uma Educação ao Longo da Vida.
Para este processo decidiu-se começar por um diagnóstico do perfil dos educandos, que possibilitasse a discussão e análise do currículo, para superação dessa visão fragmentada e cientificista que tem perpetuado na nossa prática, possibilitando-nos vislunbrar critérios de seleção e organização dos “conteúdos significativos” para essa população.
METODOLOGIA:
Para a composição deste diagnóstico do perfil dos alunos para projetar o currículo escolar na superação de um cientificismo tecnicista, para um currículo integrador, que construa uma tessitura de conhecimentos. Reuniram-se os professores da Escola Estadual Leovegildo de Melo, Cuiabá-MT para aplicar no mesmo dia um questionário com perguntas fechadas com todos os alunos presentes neste dia, tendo uma divisão de quatro grupos de questionamentos, sendo eles:
1. Renda Familiar e Moradia: - Bairro; Casa própria ou alugada; Quantas pessoas em cada casa; Renda familiar
2. Relação Trabalho/Estudo: - O que motivou o aluno a voltar à escola; Quanto tempo está sem freqüentar a escola; Qual é o seu vínculo empregatício; Qual é sua profissão.
3. Relação Aluno/Escola: - Quantos alunos são novos e quantos já eram alunos da escola; Qual meio de locomoção os alunos utilizam para chegar até a escola; Quais critérios os alunos utilizaram para escolher esta escola; Qual a metodologia de aula que mais aprecia; Qual sua disciplina favorita.
4. Como os alunos avaliam a escola que se matricularam: - Equipe docente; Equipe gestora; Estrutura física; Equipe de funcionários.
Todos à vontade sem preocupar-se com a identificação e o tempo para realizarem suas opções de respostas.
RESULTADOS:
As nossas descobertas começam quando verificamos que 87% dos alunos não moram no bairro onde a escola esta situada, e 53% vão a pé para escola no período noturno, mesmo sendo a região considerada perigosa, mas que possui linhas de ônibus e um terminal rodoviário próximo a escola. Por pré-conceito ficamos surpresos com a descoberta de que 85% possui casa própria, tendo 39% dos lares entre 5 e 12 moradores, e 81% dos nossos educandos vivem com uma renda familiar de 1 a 3 salários mínimos para o seu sustento.
Tivemos uma nova dimensão quando verificamos a existência de 33% dos alunos desempregados e 25% em trabalhos informais, tendo os mesmos uma média de 6 anos afastados da escola, e 63% só escolheram esta escola por ser a mais próxima de casa.
Nossos sujeitos querem uma educação para o mercado de trabalho, pois 38% expressaram ter voltado para escola por motivos ligados a conquista de trabalho, e as disciplinas que eles mais gostam são matemática com 21% e língua portuguesa com 14% dos questionados, tendo como preferência por 52% dos educandos aulas tradicionais, com cópia no quadro, explicação e prova.
Para nós docentes, esses dados desvelam sujeitos escondidos pela nossa indiferença, práticas pedagógicas sem pressupostos, e um currículo distante de suas realidades.
CONCLUSÃO:
Ensinar na EJA é muito mais um aprender com o aluno jovem, adulto e idoso, que possui um currículo de saberes constituídos ao longo da vida e reconhecer esses saberes é ser capaz de mediar os conhecimentos históricos e científicos com esses conhecimentos vivenciais do dia-a-dia. Isso se evidencia na significação das práticas pedagógicas que propõe trabalhos sintonizados com a atual realidade do educando, com o mundo do trabalho e com os instrumentos das tecnologias do mundo contemporâneo.
As descobertas evidenciam um alunado que vive numa situação social adversa, que deseja conseguir um trabalho, com poucas condições econômicas, e quer uma resposta social de nós professores.
Precisamos superar um processo de ensino aprendizagem conteudista, e caminhar para um currículo que desenvolva capacidades, que venha de uma lógica que priorize primeiro saber para quem estou ensinando, para depois dialogar sobre o que ensinar e como ensinar.
Nesta perspectiva a Educação de Jovens e Adultos deve ser desenvolvida a partir de uma dialética entre professor e aluno, professor e professor e aluno com aluno, produzindo conhecimentos através do mundo do trabalho, ciência e cultura, e de fato para o longo da vida.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos, Currículo, Descobertas.