63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
O ENSINO DE CIENCIAS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: ENTRE O DESEJADO, O POSSÍVEL E O EFETIVO
Bernadete Benetti 1, 2
1. Profa. Dra. / Universidade Estadual Paulista / FFC UNESP Marília
2. Centro de Educ. Continuada em Educ. Mat., Científica e Ambiental / CECEMCA UNESP
INTRODUÇÃO:
Apresento neste trabalho parte da pesquisa sobre perspectivas didáticas de professores para o Ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), iniciada no final de 2009. As atividades se concentraram no acompanhamento de professores das mencionadas séries de uma Escola Municipal de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, Brasil. Os encontros realizados tinham como objetivo a reflexão coletiva sobre possibilidades didáticas que contribuíssem para o Ensino de Ciências nessa faixa de escolaridade. As professoras envolvidas possuem graduação em Pedagogia e foram incentivadas pela administração da Escola a participar do desenvolvimento da pesquisa. O acompanhamento das professoras no âmbito dessa pesquisa procurou constituir um diálogo formador. Nos primeiros contatos as professoras apresentaram um quadro do seu trabalho com essa temática, revelando algumas dificuldades com conteúdos e disponibilidade de materiais de ensino. Constatou-se a valorização das atividades práticas, como expectativa e possibilidade metodológica para o Ensino de Ciências. Após a realização de encontros e oficinas, durante o ano de 2010, foi possível analisar aspectos relacionados a formação em serviço e a transposição de conhecimentos para a prática docente.
METODOLOGIA:
A pesquisa se desenvolveu segundo paradigma qualitativo, com diferentes procedimentos de coleta de dados, como aplicação de questionários, entrevistas em grupo e observações diretas. Os encontros com os docentes ocorreram nos Horários de Estudo Coletivo, com frequência e períodos previamente combinados. O grupo compreendeu vinte e dois docentes, divididos em turmas iguais, uma que se encontra no período da manhã e outra a tarde. Os questionários escritos ofereceram posicionamentos individuais, enquanto as entrevistas (gravadas e transcritas) ocorreram na forma de diálogo em pequenos grupos. Além de tais dados, foram feitas observações sistemáticas, registradas em diário de pesquisa. No final de 2009 foi realizado o contato com a escola e o primeiro convite aos professores. Em 2010, iniciou-se o trabalho realizando entrevistas com grupos de professores. A partir desse diálogo inicial e, tendo em vista a expectativa, desenvolveu-se, durante o ano letivo, seis oficinas em cada uma das turmas, nas temáticas de Ensino de: Astronomia, Biologia, Física, Cartografia e Educação Ambiental, com cerca de duas horas de duração cada uma. Após essa fase combinou-se a aplicação parcial ou integral de pelo menos uma das oficinas, com a realização de um registro sobre o trabalho em sala de aula.
RESULTADOS:
Questionário e entrevistas iniciais revelaram a presença do Ensino de Ciências, conforme as orientações da Secretaria Municipal, quanto a conteúdos a serem trabalhados. As professoras indicaram ser importante ensinar Ciências nas séries iniciais, argumentando sua necessidade para compreensão do próprio corpo, para o meio em que vivem e para a vida. Consideraram, ainda, necessária a inclusão de atividades práticas e experimentais argumentando que tais atividades podem estimular a participação dos alunos, e, para elas, o fato de ver significa um aprendizado melhor. Entretanto destacaram a ausência de espaços adequados e a carência de recursos para desenvolvê-las. Em vista disso, procurou-se organizar oficinas com materiais de fácil acesso e baixo custo, bem como atividades que poderiam ser desenvolvidas nos espaços disponíveis. As oficinas foram muito bem recebidas pelas docentes. Todas declararam que elas significavam momentos de aprendizagem, no que tange a possibilidades didáticas e também quanto a revisão e atualização de conceitos. Entretanto, no passo seguinte do trabalho, na transposição para suas salas de aula, perceberam-se dificuldades na implementação. A maioria não conseguiu realizar nem mesmo parcialmente a incorporação de tais conhecimentos em sua prática docente.
CONCLUSÃO:
Em vista da grande expectativa de orientações práticas para trabalho em sala de aula, adotou-se a estratégia de oficinas que pudessem subsidiar ações mais imediatas. Nelas as professoras se envolviam com a construção de materiais e o aprofundamento de conceitos, manifestando espontaneamente sua potencial aplicabilidade. Entretanto, apenas poucas docentes conseguiram aproveitar tais discussões em suas aulas. Em vista de manifestações de que isso ocorria em função de um planejamento pré-estabelecido, combinou-se que no início de 2011, tentassem incluir pelo menos o conteúdo de uma das oficinas em suas aulas. Mesmo assim observou-se persistir situação semelhante a anterior. Foram poucas as docentes que incorporaram os conteúdos das oficinas. Nesse caso, constata-se que conhecimentos conceituais mais aprofundados permitiram trabalhos diferenciados e inovações. Percebe-se que, apesar das oficinas representarem momentos significativos de se repensar a prática pedagógica, não dão conta de provocar mudanças imediatas e gerais. Além disso, embora a maioria das docentes anseie por mudanças, na hora de efetivá-las não conseguem alterar suas rotinas, privilegiando sequências tradicionais e bem estabelecidas. Pretende-se ampliar a pesquisa incluindo na próxima fase projetos temáticos na área.
Palavras-chave: Formação de Professores, Ensino de Ciências, Perspectivas Didáticas.