63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
PRÁTICA DE ENSINO DE FÍSICA – ESPAÇO PARA FOMENTAR EXPERIÊNCIAS E FORMAR DOCENTES PARA INOVAÇÕES EDUCACIONAIS
Eugenio Maria de França Ramos 1,3
Bernadete Benetti 2, 3
Adriel Fernandes Sartori 4, 3
1. Prof. Dr. / Universidade Estadual Paulista / UNESP / IB Rio Claro
2. Profa. Dra. / Universidade Estadual Paulista / UNESP / FFC Marília
3. Centro de Educ. Continuada em Educ. Mat., Científica e Ambiental / CECEMCA UNESP
4. Mestrando / IFUSP - Instituto de Física da Universidade de São Paulo - Programa de Pós Graduação Interunidades em Ens de Ciências – Modalidade: Física
INTRODUÇÃO:
A Prática de Ensino tem sido considerada uma disciplina importante para a formação de professores, aproximando o futuro professor do quefazer docente. Nos últimos anos, após reformas curriculares, houve um aumento significativo de sua carga horária, o que proporcionou possibilidades de desenvolvimento de novas práticas, tanto no que diz respeito a aprofundamento de conhecimentos científicos como a formação para a inovação metodológica em ensino. Relatamos aqui parte do trabalho da disciplina Prática de Ensino e Estágio Supervisionado do curso de Licenciatura em Física da UNESP, sob responsabilidade do Instituto de Geociências e do Instituto de Biociências na cidade de Rio Claro, Estado de São Paulo, Brasil. Destacamos, particularmente, a experiência didática com a construção de projetos de ensino com características inovadoras. Com base nas idéias de Michael Polanyi (sobre conhecimentos explícitos e tácitos) e de Freire (sobre a pesquisa no quefazer docente), discutimos a importância de introduzir momentos de construção de atividades didáticas não tradicionais, seja pelo conteúdo ou pela organização didática, como forma de oferecer aos futuros professores oportunidades de criação intelectual e formação para inovações na futura prática profissional.
METODOLOGIA:
Para a coleta de dados, realizamos observações com características etnográficas, acompanhando turmas da disciplina Prática de Ensino de Física, na mencionada licenciatura, durante os anos de 2005 a 2010. Para tais observações, focalizamos as atividades realizadas em uma parte da carga horária, especialmente destinada ao desenvolvimento e aplicação de projetos educacionais a partir de temas decididos a cada ano. Foram desenvolvidas diferentes ações didáticas, como palestras, seminários, minicursos e oficinas, para as seguintes temáticas: a) 2005, Einstein e César Lattes; b) 2006, físicos brasileiros (José Leite Lopes, Marcelo Damy, Oscar Sala, Paulo Leal Ferreira e Mário Schenberg); c) 2007, energia nuclear e filmes; d) 2008, aplicações dos conhecimentos de física; e) 2009, introdução a Astronomia e f) 2010, introdução a Astronomia, introdução a Nanotecnologia ou Tecnologias de Informação no Ensino. Com tais temas procuramos desafiar os futuros professores para a construção de projetos autênticos, de forma que precisassem de suas decisões, estudos e sugestões. Enfim, tratou-se de suscitar focos de pesquisa que tivessem como finalidade atividades de ensino, ampliando a oportunidade de docência oferecida normalmente na disciplina.
RESULTADOS:
No desenvolvimento de tais atividades, ofereceu-se aos futuros professores oportunidades de perceberem que a docência exige muito mais do que apenas o conhecimento teórico ou a disponibilidade de material didático (bem como a mera repetição de conteúdos da tradição educacional). Em todos os anos, pudemos observar que o trabalho nunca foi aceito com tranquilidade. Os primeiros momentos são de bastante insegurança por grande parte dos futuros professores, por lidar com situações que fogem ao conteúdo tradicional. É justamente esse um importante elemento da formação para a inovação, uma vez que constatam a necessidade de ampliar seu domínio de conhecimento (conceitual ou de habilidades), bem como a necessidade de tomar decisões sobre a organização para a atividade didática. Dessa forma, oferecem-se aos futuros professores situações de aprendizagem nas esferas do explícito e do tácito (Polanyi, 1958 e 1966), tanto no conhecimento de Física quanto nas práticas educativas. Como tratado por diferentes autores, entre eles Freire (1996), docentes aprendem em suas atividades didáticas. É o que puderam observar os futuros professores durante a organização dos projetos de palestras, oficinas e mini-cursos, alguns deles reconhecendo seu aprendizado em temas que lhes pareciam próximos.
CONCLUSÃO:
Diferentes ações institucionais tem se concentrado na proposta de inovações formalizadas em projetos curriculares ou em materiais didáticos. Nelas professores são considerados aplicadores de ideias e propostas alheias, ignorando-se o grande potencial da docência associada a pesquisa e a possibilidade de inovação educacional, no âmbito imediato da ação docente. Com base na experiência aqui relatada, observamos que tal potencial pode ser explorado durante o processo de formação de professores, oferecendo oportunidades para que licenciandos possam apreender a docência mediante suas capacidades de mobilização de conhecimentos tácitos e explícitos. Situações de incerteza promovidas, como no caso da construção de propostas educacionais em conteúdos não inicialmente dominados pelos sujeitos, desvelam um importante espaço para a formação de futuros professores, uma vez que permitem associar a necessária mobilização de saberes (inclusive os tácitos) com uma prática educacional inovadora. Se os futuros professores se aperceberem capazes de ir além da tradição e dos materiais prontos, conseguiremos formar o docente intrinsecamente pesquisador e disposto a inovações, como defendido por Freire (1996).
Palavras-chave: Formação de Professores, Prática de Ensino, Inovação educacional.