H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Lingüística |
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OPERAÇÃO TATURANA E ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE ALAGOAS: O ACONTECIMENTO DE UM DISCURSO QUE SE FEZ SILENCIADO |
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Mercia Sylvianne Rodrigues Pimentel 1
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1. Mestre em Linguística - Universidade Federal de Alagoas - UFAL
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INTRODUÇÃO: |
Esta pesquisa tem o intuito de compreender os efeitos de sentido provenientes do discurso do Jornal da Assembleia (JA) – periódico impresso produzido pela Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas (ALE/AL) – durante os anos 2007-2008, mesmo período de deflagração da Operação Taturana. Essa operação foi realizada pela Polícia Federal, que investigou o desvio de mais de 300 milhões do Poder Legislativo estadual, cujos principais acusados de envolvimento foram deputados estaduais. A Taturana possibilitou mudanças no quadro político da instituição, incidindo sobre a opinião pública a respeito dos parlamentares e fazendo com que novos sentidos aflorassem, o que permitiu que fosse tomado o momento histórico decorrente dessa operação como um acontecimento discursivo. O acontecimento pode ser definido como algo que irrompe no discurso, o encontro de uma atualidade com uma memória, provocando ruptura na rede de formulações para produção de novos sentidos. No entanto, esse acontecimento é silenciado pelo Jornal da Assembleia. No jornal da ALE, o acontecimento funciona pelo silenciamento, já que o JA tenta homogeneizar o discurso e silenciar informações que afetem a política de interesses dos deputados. |
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METODOLOGIA: |
O referencial teórico adotado é o da Análise do Discurso (AD) pecheutiana, considerada uma teoria crítica acerca da linguagem e do discurso. O corpus discursivo é composto, em sua maioria, por enunciados extraídos dos 16 jornais da ALE publicados nos anos 2007-2008, mas também constam sequências discursivas retiradas de outros periódicos alagoanos, como os jornais Gazeta de Alagoas, Tribuna Independente e O Jornal, os quais foram incluídos para contrastar os dizeres apresentados em seu efeito de evidência. Buscando os fundamentos políticos que norteiam a formação social capitalista, o trabalho concentra-se no estudo da teoria do Estado a partir da abordagem marxista, assim como dos processos comunicacionais numa perspectiva de crítica ao modelo dominante. Assim, partindo de reflexões teóricas que abarcam a teoria do discurso, da política e da comunicação, são analisadas as sequências discursivas extraídas do corpus. A proposta de análise é centrada na observação dos dizeres dos parlamentares materializados nos títulos de matérias ou textos opinativos, fazendo também um contraponto com notícias veiculadas pela imprensa alagoana que com eles de alguma forma dialogam, seja para confirmar algum dito, contradizê-lo ou retificá-lo. |
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RESULTADOS: |
O silêncio está no discurso e a AD ocupa-se da compreensão dos efeitos de sentido possibilitados pelos dizeres carregados de silêncio. Enquanto a mídia divulgava de forma sensacionalista os resultados das investigações relativas à Operação Taturana, o Jornal da Assembleia adotou uma postura peculiar. Não foram muitos os espaços destinados ao assunto, mas quando eles apareceram, assumiram formas diferentes. Durante os dois anos (2007-2008) em que o JA foi publicado, foram encontrados apenas dois textos focados nesse assunto, noutros espaços havia apenas menção ao fato, sem qualquer aprofundamento. Ao longo das análises, observou-se que o objeto da pesquisa (o discurso do JA) é permeado por silenciamentos, deslizamentos de sentido, contradições, relações de força e poder, o que é característico do próprio discurso em sua feição histórico-social. Percebeu-se que os deputados dizem o que lhes convêm, calando quando o assunto põe a imagem deles em risco perante a opinião pública (silêncio constitutivo e local). E o periódico da Assembleia Legislativa de Alagoas, que em tese deveria funcionar como instrumento de divulgação das iniciativas do Poder, assume a feição de porta-voz dos interesses e vaidades de parlamentares, muitas vezes silenciando informações de interesse público. |
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CONCLUSÃO: |
Enquanto o Jornal da Assembleia intenta estabilizar sentidos, sustentando que os deputados são defensores da lei e fieis representantes do povo; os fatos históricos decorrentes da Operação Taturana mostram que não há homogeneidade no discurso. O embate entre o discurso estabilizado (do JA) e discursos outros (dos movimentos sociais, da justiça, polícia e mídia) permitiu que novos sentidos se configurassem. Na crise que envolveu os parlamentares alagoanos, o funcionamento discursivo só veio atestar os sentidos de dominação da bancada estadual manifestados na tentativa de controlar dizeres. A política do silêncio (corte do dizer) mostra que os interesses dos parlamentares não raras vezes chocam-se com os interesses sociais, numa demonstração da separação indivíduo-sociedade decorrente da ótica do individualismo burguês. O pensamento liberal, do qual o Legislativo é caudatário, é extremamente contraditório na medida em que pressupõe um tipo de ordenamento social – coletivo, de igualdade, democracia e liberdade – que é negado pelas próprias práticas dos sujeitos. Se o direito à informação está consagrado na Constituição, os próprios legisladores negam esse direito ao público quando se utilizam de mecanismos de interdição dos dizeres. |
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Palavras-chave: Discurso, Assembleia Legislativa, Silenciamento. |