63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 3. Microbiologia
SUBSTITUIÇÃO DO ÁGAR POR GOMA DE ANGICO NA FORMULAÇÃO DE MEIOS DE CULTURA BDA, YPD E LB
Rômulo Roosevelt da Silva Filho 1
Wendell Jacinto Pereira 1
Karla de Aleluia Batista 2
Maria Carolina Bezerra Di Medeiros Leal 3
Patrícia de Oliveira Santiago 2
Kátia Flávia Fernandes Silva 4
1. Inst. de Patologia Tropical e Saúde Pública, Universidade Federal de Goiás – UFG
2. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás – UFG
3. Instituto de Química, Universidade Federal de Goiás – UFG
4. Profa. Dra./Orientadora – I. C. Biológicas, Universidade Federal de Goiás – UFG
INTRODUÇÃO:
O angico é uma planta da família das Leguminosae-Mimosoideae com grande ocorrência no Brasil. Estudos realizados com angico branco (Anadenanthera colubrina) mostraram que as gomas de exsudatos dessa espécie possuem substâncias selantes compostas por heteropolissacarídeos conhecidos como arabinogalactanas (ARAGAL) e outros mono e oligossacarídeos. A composição da goma de angico, repleta de carboidratos, sugere uma potencial aplicabilidade tecnológica desse material, assim como outros exsudatos de plantas têm sido explorados como fonte de polissacarídeos de aplicação biológica. Por outro lado, a grande disponibilidade dessa espécie no país faz com que o polissacarídeo presente em seu exsudato seja uma alternativa de substituição a outros polímeros cuja obtenção é mais onerosa. É o caso do ágar, polissacarídeo obtido principalmente de algas e com aplicação na elaboração de meios sólidos de cultura. Todo ágar consumido nos laboratórios e centros de pesquisa do país é importado, de modo que esse produto se torna fator limitante de experiências de pesquisadores brasileiros. Partindo dessa constatação, o trabalho em questão pretende testar a goma de angico do cerrado na aplicação como colóide em meio de cultura visando diminuir a dependência e custos com ágar.
METODOLOGIA:
As amostras de exsudato da espécie Anadenanthera colubrina, colhidas de espécimes localizadas no município de Silvânia-GO, foram secas, trituradas e peneiradas. Procedeu-se a dissolução do peneirado em água, na proporção 1:10 em “overnight” e, em seguida, realizou-se precipitação alcoólica na proporção de 1:3. Posteriormente, realizou-se filtrações a vácuo e reprecipitações, obtendo o polissacarídeo denominado pegico. O pegico foi então inserido na formulação dos meios de cultura Batata – Dextrose – Ágar (BDA), “Yeast extract - Peptone –Dextrose” (YPD) e Luria-Bertani (LB) substituindo a quantidade de ágar nas porcentagens de 25, 50, 75 e 100%. A viabilidade dos meios em função do armazenamento a 4ºC foi testada por 7 dias, analisando-se a perda de umidade. Em seguida, realizou-se a inoculação de Trichoderma asperellum (fungo), Saccharomyces cerevisiae (levedura) e Escherichia coli (bactéria) em cada meio, respectivamente. O crescimento desses organismos foi monitorado a cada 24h em comparação ao crescimento nos respectivos meios controle. Foi ainda realizada a análise morfológica macro e microscópica. As lâminas foram preparadas a fresco removendo-se uma pequena parcela das colônias presentes nas placas.
RESULTADOS:
Verificou-se que os meios substituídos totalmente por pegico não formaram gel. Os meios contendo 75% de pegico e 25% de ágar adquiriram, inicialmente, aspecto semelhante aos meios de cultura semi-sólidos e, embora após 24 horas tenham se formado géis uniformes, esses mostraram-se frágeis à força mecânica. Já nos meios de cultura contendo 25% de pegico/75% de ágar e 50% de pegico/50% de ágar, obteve-se formação de géis com aspecto semelhante aos meios controle, sendo os meios substituídos 50% por pegico utilizados para a inoculação de Trichoderma asperellum (BDA), Saccharomyces cerevisiae (YPD) e Escherichia coli (LB), bem como para a análise de perda de umidade. Os resultados da análise morfológica mostraram que após 72 horas de crescimento as colônias apresentaram morfologia semelhante quando analisadas a olho nu, bem como quando analisadas em microscópio óptico. A perda de umidade pelos meios substituídos, em uma semana, foi de (2,2391, ± 0,0602)g para os meios BDA, (2,4190 ± 0,1009)g para os meios YPD e (2,2374 ± 0,0437)g para os meios LB. Por outro lado, os meios controle apresentaram perda de (2,3056 ± 0,1234)g, (2,3710 ± 0,1336)g e (2,1707 ± 0,1055)g, respectivamente.
CONCLUSÃO:
O cultivo de microorganismos em meios de cultura com ágar parcialmente substituído por polissacarídeos de angico é possível sem prejuízo aparente das colônias cultivadas. Além disso, a viabilidade de cultivo nos meios substituídos é semelhante à dos meios originais na medida em que a proporção de perda de massa em umidade é muito próxima. A mistura de pegico com ágar pode vir, dessa forma, a compor um novo produto no mercado de insumos para laboratórios. Estes resultados são muito promissores e abrem perspectivas de empregos desta goma em aplicações biotecnológicas mais nobres. Testes subsequentes para análise de perfil bioquímico dos microrganismos e de otimização de formulação serão executados.
Palavras-chave: Polissacarídeos, Plantas do cerrado, Meios de cultura.