63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
OLHAR DAS MULHERES XERENTE SOBRE A EDUCAÇÃO ESCOLAR
Raiany Guarina Barbosa 1
Emília Tavares de Sousa 1
Wildeany de Souza Costa 1
Odair Giraldin 2
1. Curso de História, Universidade Federal do Tocantins – UFT
2. Prof. Dr. - Orientador
INTRODUÇÃO:
Os Xerente são uma das varias etnias indígenas do Brasil. Essa comunidade se distribui em duas áreas contínuas e regularizadas chamadas de Reserva Xerente e Reserva Funil, distantes 80 km ao norte de Palmas, capital do Tocantins. Os Xerente se organizam em duas metades, as quais podem ser vistas como um código da organização social e cosmológica do povo. Cada metade possui três clãs. À metade Dói correspondem os clãs: Kuza, Kbazi, Krito; à metade Wahire os clãs: Wahire, Krẽpehi e Krozake. A principal característica desse povo é sistema de parentesco patrilinear, que define uma preponderância tradicional do masculino sobre o feminino, mesmo no processo de aprendizagem. Mas a partir da introdução da educação escolar nas aldeias, homens e mulheres passaram a ter a mesma instrução escolar. Esse fenômeno contradiz com a cultura tradicional Xerente, pois no passado homens e mulheres passavam por processos diferenciados de formação. Diante disso, surgiu o interesse em analisar e compreender como as mulheres, na faixa etária entre 12 e até acima de 30 anos, se relacionam com a cultura Xerente a partir do contato com a escola e também com a aquisição de conhecimentos não-indígenas.
METODOLOGIA:
A base deste trabalho constituí-se tanto na consulta à bibliografia composta de dissertações, teses, livros e artigos publicados sobre o povo Xerente, além de outras leituras referentes à questão de gênero, quanto no trabalho de campo realizado durante viagens ao longo dos anos de 2009 e 2010. Este, no entanto, foi intenso durante 20 dias em janeiro de 2010 e mais 15 dias no mês de janeiro de 2011, nas aldeias Salto e Porteira. No trabalho de campo foram feitas observações das atividades realizadas pelas jovens de 12a 15 anos e de 15 a 20 anos, com objetivo de verificar no primeiro grupo a relação de convívio com os seus pais e, no caso das segundas, observar a influencia que a escolarização tem no direcionamento do matrimonio e de seus filhos. Foram realizados também diálogos com as mulheres acima de 30 anos, visando interpretar as reflexões que elas fazem do universo Xerente a partir da escolarização. Nessas visitas levantamos dados e interpretamos a relação dessas mulheres com a escola, a família e com as outras pessoas que vivem nestas aldeias. Procuramos conviver ao máximo com elas na realização de todas as suas atividades na aldeia e na escola. Essas observações e as entrevistas foram registradas em cadernos e em diários de campo. Algumas das atividades foram fotografadas.
RESULTADOS:
Segundo as obras etnográficas consultadas, os papeis sociais e de gênero no povo Xerente costumavam ser distintos e claramente delineados, segundo a tradição. Os homens trabalhavam pela vida coletiva na aldeia caçando, pescando e preparando roças. As mulheres ficavam em casa em atividades domésticas, cuidando da roça, dos filhos e também fazendo coletas e produzindo artefatos para uso doméstico. Com o processo de escolarização o perfil das mulheres aos poucos começa a se modificar. As mais jovens, entre 12 a 20, passam a ter novas aspirações sociais e de certa forma almejam ocupar uma profissão convencional do mundo não-indígena. As mulheres de 30 anos estão ampliando o seu espaço de atuação, principalmente no campo de trabalho. Atualmente, em muitos casos, especialmente as mais escolarizadas, possuem emprego fora de casa e contribuem financeiramente dentro do lar. Além disso, percebemos que elas estão influenciando suas filhas a concluir os estudos entes de se casarem. E aquelas que se casam antes de terminar os estudos, continuam a freqüentar a escola, dependendo, entretanto, do consentimento do marido. É nítido o constante conflito vivenciando pelas mulheres, de modo geral, em tentar preservar a cultura em face às constantes fricções interétnicas.
CONCLUSÃO:
Dessa forma, tudo indica que as mulheres, a partir da escolarização, adquirem novas aspirações sociais e passam, de certa forma, a configurar novos papéis sociais. As mulheres acima de 30 anos escolarizadas que possuem algum vínculo empregatício fora de casa, ajudam financeiramente nas despesas domésticas. Ao adquirir novas percepções de futuro, elas passam a influenciar diretamente no comportamento de seus filhos e filhas. Elas os aconselham a concluírem o ensino médio para poderem entrar em uma faculdade e adquirirem uma profissão não tradicional do universo Xerente. Entretanto, a incidência de casamento entre as mulheres em idade anterior a conclusão do ensino médio é significativa. Essa é uma característica do perfil da mulher tradicional Xerente. No entanto, percebemos exceções, pois algumas confrontam esse tradicionalismo e optam pela conclusão dos estudos para finalmente constituir uma família. Sendo assim, a partir do contato com os Xerente, nota-se a configuração da contradição entre as concepções tradicionais de educar a mulher e a educação escolar ocidental.
Palavras-chave: Akwẽ-Xerente, Jovens/Mulheres, Educação Indígena.