63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
CORPO, CLASSE SOCIAL, GÊNERO FEMININO E SEXUALIDADE: (DES) NATURALIZANDO LINGUAGENS E MARCAS DO UNIVERSO ESCOLAR
Moisés Sipriano de Resende 1
Aline da Silva Nicolino 2
1. Faculdade de Educação Física – UFG
2. Profa. Dra. / Orientadora – Faculdade de Educação Física – UFG
INTRODUÇÃO:
Pensar o corpo na atualidade é refletir sobre a construção de um padrão corporal e de subjetividades coletivas pelas diversas instâncias do poder. Tal padronização das identidades, fundamentada em uma perspectiva essencialista, reforça e reproduz, ao mesmo tempo, a concepção de masculinidade e feminilidade construída historicamente, contribuindo para a manutenção das atuais diferenças de gênero e para a normatização das vivências da sexualidade. Este trabalho, portanto, emergiu da necessidade de se pensar o corpo e suas articulações com gênero, classe social e sexualidade dentro do contexto escolar visto que este é um espaço propício de diálogo e diversificação de conteúdos. Partindo dessa compreensão de escola, objetivou-se, neste estudo, diagnosticar, analisar, dialogar e produzir conhecimentos sobre as categorias corpo, gênero e classe social, com estudantes, professores e gestores educacionais, de escolas públicas localizadas em regiões periféricas de Goiânia/GO, com o intuito de semear a pluralidade, o respeito ao diferente, o estimulo a reflexão e atuação em políticas públicas, além de contribuir na construção de um coletivo crítico, reflexivo e consciente de seus direitos e deveres sociais.
METODOLOGIA:
Fizeram parte da amostra de 49 estudantes, 26 professores/as e 6 gestores/as educacionais de duas escolas da rede pública localizadas em regiões periféricas de Goiânia. Em um primeiro momento foi aplicado um questionário composto por perguntas abertas e fechadas, dividido em duas partes, a primeira retratava o perfil dos sujeitos envolvidos e a segunda buscava conhecer as concepções e significados atribuídos ao corpo, gênero e classe social de estudantes e educadores além de identificar suas necessidades e interesses sobre tais temáticas. Em seguida, os dados obtidos foram tabulados e sistematizados, levando à formulação de categorias de análise abstraídas das demandas das estudantes e das necessidades e interesses dos educadores envolvidos. Estas categorias convergiram em temas geradores para a construção de oficinas de formação com professores e gestores. As oficinas desenvolvidas foram norteadas por três eixos centrais de discussão (corpo, gênero e sexualidade) e os materiais, documentos e relatos produzidos foram coletados e analisados como um modo de avaliar se as propostas das oficinas foram alcançadas (diálogos e mediações mais plurais, críticos e reflexivos).
RESULTADOS:
A análise dos dados evidenciou uma compreensão de corpo das estudantes predominantemente associada à beleza estética e pouca ou quase ausência da problematização docente sobre a construção social e cultural do padrão corporal. Observou-se, sim, uma visão e um discurso moralista acerca do comportamento e vestimenta principalmente femininos. Estudantes, em sua maior parte, concebem e definem o sexo feminino e masculino a paritir de um conjunto de caracterísitcas subjetivas comuns e supostamente naturais. Docentes, por sua vez, interpretam o gênero como diferenças entre os sexos e como estas se refletem na constituição dos papéis sociais. Entretanto, não dão margem para discussão da construção histórica destas diferenças, tampouco atuam sobre a sua desconstrução/problematização. No que tange à sexualidade, estudantes de ambos os sexos demonstraram um conhecimento restrito sobre seu significado, vinculando-a, na maioria dos casos, à relações sexuais entre sexos opostos. Ao mesmo tempo, professores/as se apropriam de um discurso pautado no viés biológico para abordar a sexualidade do ponto de vista preventivo, pois atribuem aos estudantes (principalmente do sexo feminino) a insegurança e imaturidade no período de adolescência.
CONCLUSÃO:
Diante dos temas gerados a partir das respostas dos questionários, buscou-se, por meio de oficinas de formação com os/as educadores/as, problematizar e (des)naturalizar alguns destes discursos pautados em estratégias de saber e poder provenientes, muitas vezes, do senso comum, e que mantém um controle constante principalmente sobre as estudantes, perfazendo a instituição escolar como um local de formação de sujeitos generificados e heterossexualizados. Por meio de dinâmcias, leituras, discussões e atividades, pôde-se ampliar o olhar destes/as educadores/as para além da referência biológica, incentivando-os/as ao conhecimento e ao respeito ao diferente, e à reflexão sobre as marcas e linguagens do contexto escolar, presentes e freqüentes em suas práticas pedagógicas.
Palavras-chave: Corpo, Gênero, Formação Continuada.