H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Lingüística |
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DISCURSO/SENTIDO E HOMOFOBIA EM G MAGAZINE |
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Thiago Alves França 1 Maria da Conceição Fonseca-Silva 1
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1. Depto.de Estudos Linguísticos e Literários, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Uesb/LAPADis
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INTRODUÇÃO: |
O trabalho apresentado é um recorte da pesquisa na qual nos propomos a discutir a G Magazine entendendo o seu funcionamento constitutivo e os discursos que, nela materializados, garantiam-lhe especificidade enquanto segmento de mercado. Dentre os funcionamentos discutidos, destacamos, para este trabalho, o discurso sobre a homofobia, chamando atenção para os sentidos produzidos na discursivização de G Magazine e observando as práticas por meio das quais os indivíduos podem se subjetivar na posição de homofóbico de acordo com os discursos identificados no impresso. Os discursos ou efeitos de sentido (Pêcheux, 1969), descritos e analisados, não são exclusivos no periódico observado, de modo que não seria muito dizer que antes, fora e independentemente da revista, esses sentidos têm existência social em círculos que os (re) produzem. Interessa-nos, ainda assim, destacar a questão da homofobia tão somente porque, ainda que circulem socialmente em diversos outros lugares, os sentidos acerca da homofobia analisados em G Magazine são, junto a outros aspectos que apontamos (França, 2010), funcionamentos que distinguem a G de outras revistas, funcionando, pois, como lugar de diferença e identidade deste periódico. |
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METODOLOGIA: |
A constituição do corpora. para posterior análise (descrição-interpretação) exigiu um longo trabalho de leitura e ulterior catalogação de recortes operados em G Magazine. Todas as edições, desde a primeira, de outubro de 1997 a dezembro de 2009 (período correspondente ao recorte temporal) foram verificadas, e este trabalho, embora exaustivo, não poderia deixar de ser feito uma vez que nos propomos a entender a constituição e discursivização do periódico durante todo seu período de circulação. A categorização dos fragmentos consistiu em organizar tais “recortes” de acordo com o assunto de que tratavam, e assim fizemos com os excertos acolhidos sob a categoria homofobia. Depois de organizada esta grande categoria, verificamos mais cuidadosamente os efeitos de sentido (re) produzidos no que chamamos de formulações, percebendo singularidades e afastamentos que acabaram por nos levar a sub-categorias da homofobia, a saber: homofobia de enrustidos/violentos, homofobia do “meio” e homofobia internalizada. À medida que o corpus constituído apontava as necessidades teóricas para que fossem respondidas questões suscitadas no contato com o material analisável, a mobilização de teóricos de áreas diversas foi feita, de modo a nos ajudar a compreender o funcionamento do corpora constituído. |
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RESULTADOS: |
Ainda que varie na forma, a homofobia, segundo a discursivização de G Magazine, é sempre de homossexual para homossexual, mesmo que a sexualidade não seja consciente. Identificamos três sentidos, que correspondem à discursivização da homofobia no periódico. O primeiro sentido chamamos de homofobia praticada por enrustidos violentos. Na discursivização desta forma de homofobia, são retomados discursos formulados nos domínios da Psicanálise, sobretudo para justificar o status de recalcado atribuído aos agressores. No segundo sentido encontrado, a homofobia do “meio”, o discurso da militância é recorrente, porque o preconceito praticado no interior do movimento gay é relacionado à desorganização interna do movimento. A terceira forma de homofobia é a que chamamos de homofobia internalizada. Diferente das demais, não é praticada contra os outros, partindo, antes, de si contra si mesmo, ainda que a explicação seja feita com base numa introjeção da homofobia que é assumida pelo homossexual como realidade estigmatizante. Nesta forma de homofobia, pudemos apontar também um saber psicanalítico em funcionamento, paralelo a um discurso militante, porque são discursivizados, respectivamente, os conflitos do Ego e o vitimismo, resultante da internalização da homofobia, que gera imobilidade. |
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CONCLUSÃO: |
A realização da pesquisa permitiu-nos entender o funcionamento constitutivo e discursivo de G Magazine, apontando-nos quais sentidos regularmente ali são (re) produzidos, possibilitando-nos ainda afirmar que a discursivização da homofobia é um dos funcionamentos que garante ao periódico um lugar diferenciado enquanto segmento de mercado. Na discursivização da homofobia, pudemos apontar algumas práticas por meio das quais os indivíduos podem se subjetivar como homofóbicos. A primeira delas, na ordem apresentada, se dá pela agressão física-verbal e pela homofobia social (Borrillo, 2010), isto é, por práticas que não agridem diretamente mas que são sustentadas pelo separatismo justificado pela sexualidade. A segunda prática diz respeito ao sentimento de diferença e superioridade que é praticado principalmente pelo gay mais masculino contra o mais feminino, que chamamos de violência de gênero (França, 2010). A terceira prática se dá pela interiorização do discurso preconceituoso que circula socialmente, que tem como consequência a auto-punição justificada pela assimilação do desprestígio social para si. Tais práticas, com suas variações ou simultaneidades, correspondem ao que em G são os exercícios por meio dos quais os indivíduos tornam-se sujeitos homofóbicos (Foucault, 1984). |
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Palavras-chave: Homofobia, Discurso, G Magazine. |